CAP 5- Vamos nos reunir para ouvir o programa na rádio

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*MARCELA*

___Não esquece, hein? 18 horas lá em casa. --- Jhenifer grita da porta da sala de aula para que eu consiga ouvi-la.

Ando desesperadamente pelo colégio a procura de um banheiro que não esteja interditado. Algum engraçadinho não só fez o favor de entupir a privada, como também alagou tudo o corredor, nos presenteando com visões de coisas nada agradáveis. Sinceramente, não sei como alguém conseguiu fazer um estrago desses. Eu só espero que a pessoa não tenha explodido com o esforço.

Sou obrigada a ir ao banheiro do último bloco do colégio, onde ficam os laboratórios e salas de atividades extracurriculares. Olho ao redor tentando me localizar. Como é uma construção nova, e as aulas só começaram há uma semana, eu ainda não conheço o espaço direito. Por isso cruzo os dedos, torcendo para que além das novas salas, também tenham construído banheiros.

Decidi vir sozinha nessa peregrinação, porque não queria dizer a minhas amigas que eu estava sofrendo do mesmo problema do garoto bomba. Provavelmente, a pessoa deve ter exagerado no final de semana e comido tudo que não devia, e mais um pouco. Já a minha angustia é por culpa do laxante que tomei ontem à tarde, e que fez a sacanagem de funcionar somente agora.

Gotas de suor escorrem por minha testa, e minhas mãos estão frias como gelo. A vista começa a ficar turva e estou com a sensação de que só tenho mais alguns minutos. Vejo um vulto de uma placa com a palavra "banheiro" talhada, logo abaixo de uma bonequinha de vestido rosa. Empurro a porta, mas ela não abre. Sacudo-a violentamente na tentativa insana de fazê-la ceder a qualquer custo.

___ Por favor, não faz isso comigo! Não vai dar tempo de procurar outro banheiro. --- Choramingo, na esperança de que a bonequinha tenha pena de mim e destrave a fechadura.

Empurro a porta de novo, e escuto um clique baixo. Meu coração se acelera , e eu tento entrar outra vez. Sem sucesso.

____ O laboratório de mecânica deve estar destrancado. Lá tem um banheiro. --- Propõe alguém logo atrás de mim.

Viro-me rapidamente, surpresa. Achei que estivesse sozinha nesse lado do colégio. Olho para cima para conseguir ver o rosto do garoto que salvará minha vida. Se eu não estivesse tão desesperada, talvez ficasse assustada com o que vejo. Meu salvador tem mais pinta de vilão do que herói. Sei que boas mocinhas deveriam sair correndo e evitar ao máximo os chamados garotos problemas, mas o problema é que este garoto faria qualquer boa mocinha ficar tentada a ceder ao lado negro da força.

Sinto uma pontada brusca em minha barriga, me lembrando de que agora não é o momento mais oportuno para ficar babando por um estranho.

___ Onde fica? Por favor! --- Imploro sem me importar com que ele perceba meu desespero.

___ Fica ali. --- Aponta por uma porta no final do corredor. --- Sala 405.

Só tenho alguns segundos antes que um desastre aconteça. Tiro minha mochila das costas para que o peso não me atrapalhe, mas ao invés de deixa-la no chão, eu a jogo nos braços do desconhecido e saio correndo pelos corredores.

"Ufa! Graças aos Céus, tudo deu certo! Deu tempo!"

Abro a torneira e deixo a água lavar minhas mãos, enquanto encaro meu reflexo no pequeno espelho de borda laranja, pendurado na parede. Quando se está desesperada, a gente não se importa muito com que as pessoas estão pensando no momento. A única coisa que realmente importa é achar um banheiro e nada mais. Porém quando a maré se acalma e tudo volta ao normal, a vergonha ressurge gloriosa.

___E agora? Com que cara eu vou encarar aquele garoto? --- Pergunto a minha imagem no espelho. --- Se pelo menos eu não tivesse deixado a mochila com ele, eu podia ficar aqui dentro até que fosse embora. Mas e agora? --- Insisto, com meu reflexo --- Você é uma anta, Marcela! Anta!

Amor à última vista Onde histórias criam vida. Descubra agora