*MARCELA*
___Não esquece, hein? 18 horas lá em casa. --- Jhenifer grita da porta da sala de aula para que eu consiga ouvi-la.
Ando desesperadamente pelo colégio a procura de um banheiro que não esteja interditado. Algum engraçadinho não só fez o favor de entupir a privada, como também alagou tudo o corredor, nos presenteando com visões de coisas nada agradáveis. Sinceramente, não sei como alguém conseguiu fazer um estrago desses. Eu só espero que a pessoa não tenha explodido com o esforço.
Sou obrigada a ir ao banheiro do último bloco do colégio, onde ficam os laboratórios e salas de atividades extracurriculares. Olho ao redor tentando me localizar. Como é uma construção nova, e as aulas só começaram há uma semana, eu ainda não conheço o espaço direito. Por isso cruzo os dedos, torcendo para que além das novas salas, também tenham construído banheiros.
Decidi vir sozinha nessa peregrinação, porque não queria dizer a minhas amigas que eu estava sofrendo do mesmo problema do garoto bomba. Provavelmente, a pessoa deve ter exagerado no final de semana e comido tudo que não devia, e mais um pouco. Já a minha angustia é por culpa do laxante que tomei ontem à tarde, e que fez a sacanagem de funcionar somente agora.
Gotas de suor escorrem por minha testa, e minhas mãos estão frias como gelo. A vista começa a ficar turva e estou com a sensação de que só tenho mais alguns minutos. Vejo um vulto de uma placa com a palavra "banheiro" talhada, logo abaixo de uma bonequinha de vestido rosa. Empurro a porta, mas ela não abre. Sacudo-a violentamente na tentativa insana de fazê-la ceder a qualquer custo.
___ Por favor, não faz isso comigo! Não vai dar tempo de procurar outro banheiro. --- Choramingo, na esperança de que a bonequinha tenha pena de mim e destrave a fechadura.
Empurro a porta de novo, e escuto um clique baixo. Meu coração se acelera , e eu tento entrar outra vez. Sem sucesso.
____ O laboratório de mecânica deve estar destrancado. Lá tem um banheiro. --- Propõe alguém logo atrás de mim.
Viro-me rapidamente, surpresa. Achei que estivesse sozinha nesse lado do colégio. Olho para cima para conseguir ver o rosto do garoto que salvará minha vida. Se eu não estivesse tão desesperada, talvez ficasse assustada com o que vejo. Meu salvador tem mais pinta de vilão do que herói. Sei que boas mocinhas deveriam sair correndo e evitar ao máximo os chamados garotos problemas, mas o problema é que este garoto faria qualquer boa mocinha ficar tentada a ceder ao lado negro da força.
Sinto uma pontada brusca em minha barriga, me lembrando de que agora não é o momento mais oportuno para ficar babando por um estranho.
___ Onde fica? Por favor! --- Imploro sem me importar com que ele perceba meu desespero.
___ Fica ali. --- Aponta por uma porta no final do corredor. --- Sala 405.
Só tenho alguns segundos antes que um desastre aconteça. Tiro minha mochila das costas para que o peso não me atrapalhe, mas ao invés de deixa-la no chão, eu a jogo nos braços do desconhecido e saio correndo pelos corredores.
"Ufa! Graças aos Céus, tudo deu certo! Deu tempo!"
Abro a torneira e deixo a água lavar minhas mãos, enquanto encaro meu reflexo no pequeno espelho de borda laranja, pendurado na parede. Quando se está desesperada, a gente não se importa muito com que as pessoas estão pensando no momento. A única coisa que realmente importa é achar um banheiro e nada mais. Porém quando a maré se acalma e tudo volta ao normal, a vergonha ressurge gloriosa.
___E agora? Com que cara eu vou encarar aquele garoto? --- Pergunto a minha imagem no espelho. --- Se pelo menos eu não tivesse deixado a mochila com ele, eu podia ficar aqui dentro até que fosse embora. Mas e agora? --- Insisto, com meu reflexo --- Você é uma anta, Marcela! Anta!
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Amor à última vista
Ficção AdolescenteToda a esperança de Isabela de ficar cara a cara com sua alma gêmea, foi esmagada pelas letras garrafais da palavra "ESGOTADO" estampadas na tela do laptop. Quando não consegue comprar os ingressos do show que sua banda favorita fará em sua cidade...