CAP 87 - Problemas demais para ficar caçando mais

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REV. PENDENTE

CAP 87 - Problemas demais, para ficar caçando mais

*ISABELA*

De tempos em tempos, eu carimbo meu passaporte imaginário de trouxa com alguma mentira deslavada de Carol que eu descubro ter acreditado. É provável que eu bata o recorde de passaportes da repórter Glória Maria* para conseguir comportar todos carimbos que reconhecem as minhas várias visitas a Terra dos Trouxas.

Não sei se fico irritada ou satisfeita por não ser a única enganada pelo jeito sonso de Carol. A consciência de que existem outros iludidos além de mim me fez ver que não eu não era a única do tipo. No entanto, enquanto eu tomei a atitude de rasgar meu visto de iludida assim que soube de tudo, alguns conterrâneos se negaram a fazer o mesmo.

Ahh, o amor! Não é atoa que dizem que é cego!

Gostaria de poder colocar a culpa na ingenuidade, teimosia ou até mesmo na estupidez humana para justificar o fato de meus tios estarem tão relutante em aceitar as coisas que meu irmão e eu acabamos de lhes contar. Mas, assim como nossos pais estão do nosso lado, eles também estão no da filha.

Eu já assisti séries policiais o suficiente para saber que as provas que Gabriel e eu apresentamos contra a nossa prima são só circunstanciais. Ou seja, não temos como comprovar fotos, vídeos, amostras de sangue na cena do crime, ao algo parecido. Sendo assim, no final de tudo, acabou sendo a nossa palavra contra a dela.

— Eu não sei por que vocês estão fazendo isso comigo! - questiona Carol, meio às lágrimas pesadas e sentidas.

Mesmo agora ciente da sua natureza enganosa e manipuladora, eu não posso negar que estou surpresa com seus talentos de atuação. Quase me levantei para aplaudir a cena digna de um Oscar* na categoria " Mentirosa do Ano."

Assim como a maioria das mães faria ao ver seu filhote sofrendo, minha tia se posiciona ao lado da dela. E estando mergulhada no papel de filhote indefeso que interpreta, Carol se deixa envolver pelos braços protetores.

Palavras de consolação lhe são ditas ao pé do ouvido. Seu lábio inferior treme, e um suspiro desolado escapa dos pulmões. Uau! Não tem nem mais como segurar os aplausos agora.

Eu estava prestes a demonstrar minha apreciação ao espetáculo, que certamente seria interpretada como ironia - o que, confesso, é mesmo. Mas juro que tem uma pitada de admiração, sim - quando meu irmão faz a honras.

— Passou tanto tempo desde a última vez que vi uma atuação dessa que eu tinha me esquecido de como você é boa nisso – debocha Gabriel embalado por seus aplausos lentos e descompassados. – Não foi atoa que acreditaram quando você disse que fui eu que te joguei da escada.

— EU NÃO FALEI ISSO! – grita Carol, chorosa. – Eu disse que vocês esbarrou em mim. Eu disse que foi um acidente! Que você só estava... só estava...

— ... Que eu estava furioso porque o meu interesse por você não era correspondido – meu irmão completa com nojo. – Ah! Por favor, né, gente! Acho que depois de tanto tempo, vocês finalmente conseguem ver o quão ridículo é essa história, não?

Um silêncio pesado recai na sala de estar dos meus tios. Mesmo a casa sendo grande, o desconforto faz parecer encolher o espaço absurdamente.

— Querido, não há necessidade de voltarmos nesse assunto. Já faz tempo. – Minha tia intervém com voz suave. – Vocês eram novos. Paixonites platônicas acontecem.

— Eu sei disso! – Gabriel concorda com aquela que também é sua madrinha, antes de acrescentar revoltado – Só que não da minha parte. Eu tinha acabado de virar um adolescente. O que eu ia querer com uma pirralha imatura?!

Amor à última vista Onde histórias criam vida. Descubra agora