THALITA
Pensei que meus quilos a mais fossem uma vantagem pelo menos numa hora como essa, mas o vento forte me joga para trás sem muita dificuldade. Minha sombrinha tenta resistir bravamente às investidas da corrente de ar, que faz com que a chuva fique mais intensa e meus tênis se tornem duas esponjas, de tão encharcados que estão antes mesmo que eu chegue à esquina de casa. Abraço minha mochila na tentativa de manter meus cadernos secos, enquanto caminho apressada para não chegar atrasada ao colégio. O celular tocou, porém meu colchão me segurou por mais algum tempo debaixo do edredom.
____ Esse negócio amarelo até que é bonitinho, só que não serve para muita coisa. --- Escuto alguém me dizer, no mesmo instante que para de chover sobre mim.
Mateus começa a caminhar a meu lado carregando um guarda-chuva gigantesco. Em outro momento, eu acharia um exagero andar por aí com algo quase da altura de uma bengala, porém vendo a eficiência com que nos protege do tempo ruim, estou pensando em comprar um igualzinho assim que possível.
___Foi o único que encontrei antes de sair de casa. Ainda não terminamos de arrumar as coisas da mudança. --- Digo, enquanto fecho meu guarda chuva. --- Obrigada pela carona.
___ De nada. Sempre que precisar, é só pedir. Só que na próxima vez você vai precisar rachar comigo na gasolina, beleza? --- Mateus brinca, antes de me puxar para perto dele. --- Sei que meu guarda-sol é grande, mas se você ficar na ponta desse jeito, não vai adiantar muita coisa.
Eu balanço a cabeça concordando, e sinto meu rosto esquentar mesmo com o vento gelado da manhã. Levanto um pouco a gola da jaqueta para esconder minhas bochechas coradas, que sempre me entregam, enquanto finjo me proteger do frio.
___ Você parecer ser bem tímida, mas faz amigos bem rápido, não é?
Fico perdida por uns instantes antes de compreender sobre o que Mateus está se referindo.
___ Ah, tá! Bem...É que na verdade eu já conhecia Jhenifer antes de me mudar para cá. Nossas mães estudaram juntas na época do colégio. --- Explico, torcendo para que minha voz não esteja tão vacilante como soa a meus ouvidos agora. --- E foi Jhenifer quem me apresentou a Marcela e Isa. Elas são bem legais.
___ Poxa, maneiro! Começar do zero num colégio diferente, e ainda ter que fazer novos amigos é um pouco estressante. Já passei por isso. Que bom que você pulou essa etapa! --- Ele me dá um sorriso largo, fazendo seus olhos escuros se apertarem e ficarem pequeninos.
"Acho que engoli algumas borboletas."
Vamos conversando por todo o caminho até o colégio, e Mateus me informa sobre coisas que acha importante que eu saiba, como: aulas, professores, provas e eventos. Nessa altura, o tempo ruim não me parece mais tão chato assim.
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ISABELA
Sempre me gabei de minha facilidade para pegar no sono. Dormir o sono dos justos nesse mundo maluco de hoje em dia é complicado. E para minha surpresa, foi exatamente isso que aconteceu comigo nessa madrugada. Meu recorde pessoal foi arruinado! Fui perseguida em sonho, durante as minhas horas que deveriam ser de descanso, por um vira-lata enlouquecido. Enlouquecido é a palavra perfeita para descrever o comportamento de Bernardo ontem à noite, pois nada mais justifica a sua atitude assombrosa. Nunca pensei que poderia existir algum vestígio de gentileza dentro daquela besta.
Sinto-me desconfortável em ter que admitir que não sou a mesma pessoa diante de uma tempestade. Desde o dia em que vi um raio acertar uns pombos e transforma-los em confetes, comecei a ter pavor de qualquer alteração no tempo que seja maior que uma chuvinha inocente.
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Amor à última vista
Ficção AdolescenteToda a esperança de Isabela de ficar cara a cara com sua alma gêmea, foi esmagada pelas letras garrafais da palavra "ESGOTADO" estampadas na tela do laptop. Quando não consegue comprar os ingressos do show que sua banda favorita fará em sua cidade...