CAP 95 - Fãs são previsíveis. Fãs adolescentes, então, nem se fala!

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CAP 95 - Fãs são previsíveis. Fãs adolescentes, então, nem se fala!

*MATEUS*

A sensação é de que estamos bem no meio de um daquele desafio de uns tempos atrás, em que a galera ficava parada, feito estátuas, enquanto  alguém filmava a brincadeira petrificada. Podemos não estar registrando os participantes não intencionais, mas somos os únicos a nos mover por entre as fileiras de gente. O que é impressionante, já que pouco antes da entrevista começar, mal tínhamos espaço para respirar.

Sem cerimônia, Fernando e eu fomos encarados, medidos, avaliados e julgados em comparação a dois dos integrantes da banda que agora se encontra na tela de boa parte dos celulares existentes no pátio. E se o fato de sermos grosseiramente ignorados já não fosse suficiente para confirmar a nossa desclassificação, eu duvido que a reação do grupinho de meninas ao ter a pergunta de uma delas respondida por um daqueles que muitos acreditavam serem nós fosse assim tão passional se seus pensamentos não tivessem mudado.

Eu acabei de mandar - escuto uma garota que foi da minha sala no ano anterior, vibrar.

Se fosse Wolf; alguém da galera da 7 Volts; ou até mesmo Henrique que estivesse respondendo, eu até poderia acreditar. Mas como sou eu - ou caso, uma versão gravada de mim - sei que não é possível ser a tal pergunta que ela afirma ter acabado de enviar.

– Como é que...?

Uma mão erguida me interrompe.

"Diferentes versões de uma mesma história" – sussurra Fernando em resposta ao meu questionamento incompleto, me fazendo lembrar do que Rogério dizia sempre que o baixinho apontava uma fragilidade no plano.

"Fãs são previsíveis. Fãs adolescentes, então, nem se fala!"

Perdi as contas de quantas vezes a justificativa foi usada. Só me lembro de que na quinta vez eu parei de me incomodar com o tom do jornalista.

Acho que a suspeita de Bernardo não era implicância. Rogério deve ter tido, sim, uma adolescência difícil. É muito rancor a cada comentário para ser só coincidência.

Outra coisa que eu também sei não ser coincidência é o que está rolando agora. Rogério sabia muito bem o que estava fazendo quando traçou o plano. O que me faz pensar que mesmo não gostando de sua hostilidade, ele estava certo: somos previsíveis!

E foi justamente essa previsibilidade que nos salvou.

Até alguns minutos atrás, eu não imaginava que fosse possível que Fernando e eu saíssemos do meio daquele tsunami de gente, então o que dirá com todas as partes dos nossos corpos intactas. Mas não só saímos, como também nada nos falta. Exceto, alguns fios de cabelo arrancados por uns fãs não satisfeitos com as fotos que conseguiram, mas tranquilo! Não é nada que a gente já não tenha enfrentado antes.

– Por um momento achei que não ia dar certo - confesso quando chegamos a um ponto seguro do pátio.

– Eu também. Parecia que estávamos passando no meio de leões adormecidos, e que se pisassemos no rabo de um sem querer, o ataque recomeçaria.

Com a barra da camisa, eu vejo Fernando limpar os óculos embaçados por sua respiração ansiosa. As lentes lembram o vidro de um carro em dia de tempestade, quando mal se enxerga uns metros à frente. Graças a Deus não estávamos atravessando um grupo de leões de verdade, a chance de Fernando topar em um deles seria grande.

– Eu não tinha reparo – digo.

– O que? - o baixinho move a cabeça para me ver apontando para a nova armação em suas mãos. – Ah! Eu fui até a cidade vizinha depois que a moça da ótica daqui me reconheceu. Até comprei um extra, por precaução.

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