CAP 36 - Mundinho pequeno, não?

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CAP 36 – Mundinho pequeno, não?

___ Dá para você se levantar, por favor?! -- Eu digo pela milésima vez, completamente sem paciência.

Já faz uns 10 minutos que Bernardo está rolando de tanto rir. Literalmente ele está rolando de rir.

O Vira-lata está jogado sobre o tapete da sala, com as mãos pressionando o abdômen, enquanto lágrimas grossas escorrem por seu rosto que está mais vermelho do que um pimentão. Ele intercala com afinco a busca por ar, e roncos que parecem o de um porco pronto para o abate. Essa visão não é muito bonita, acredite em mim. E se ele continuar com essa crise hilariante por mais tempo, talvez não sobreviva.

"TOMARA!"

Não sei como ele ainda não perdeu os sentidos. Qual é o recorde da última pessoa que morreu de tanto rir?

__ Sabe de uma coisa? Cansei!-- Eu jogo a toalha, e vou marchando furiosa em direção ao meu quarto que fica no segundo andar.

Assim que passo ao lado da criatura que ainda se contorce sobre o tapete escuro da sala, eu sinto seus dedos se fecharem em torno do meu tornozelo.  

___Aí! Me solta! -- Grito, chutando sua mão para longe.

Mas a criatura não desiste. Com sua sanidade sendo sugada pela gargalhada descontrolada, o Vira-lata atravessa uma boa parte do tapete engatinhando, ao meu encalço.

___ Espere, gatinha! Precisamos conversar. – O doido tenta se comunicar através dos risos, então eu não tenho certeza de que foi isso que ele acabou de dizer.

___ Agora? Depois de quase uma hora rindo da minha cara?

Eu estou exagerando um pouquinho no tempo, sei disso. Mas na hora de raiva, as medidas das coisas mudam levemente de valor. Um quilo se torna uma tonelada; um pingo se torna uma mancha do tamanho da Baía de Guanabara; e 10 minutos se tornam 1 hora.

Soltando fumaça pelas orelhas, eu subo as escadas de dois em dois degraus. Quanto mais rápido eu vazar, mais rápido me livrarei do som dessa risada de Hiena. Porém, o Vira-lata finalmente parece se lembrar de que tem pernas, e me segue como um bípede.

___ Vamos conversar! -- Ele pede. Sua voz parece mais controlada, já que estou entendo o que ele está dizendo.

__ Conversar sobre o quê? -- Falo sem olhar para trás. -- Vamos conversar sobre esse chupão no seu pescoço, por acaso? Tem certeza de que eu posso ouvir a história? Lembre-se de que eu sou menor de idade.

Assim que eu chego ao corredor, sinto dedos se fecharem em meu braço, impedindo-me de seguir.  Eu me viro, e encaro com olhos fuzilantes o meu perseguidor.

___Você não quer saber quem foi que deixou essa marca no meu pescoço? – O Vira-lata ergue uma sobrancelha, e aponta para a marca roxa em sua pele.

Eu quero gritar um: "CLARO QUE EU QUERO SABER, SEU IDIOTA! QUEM É A PIRIGUETE?", mas eu preciso me conter. Não vou dar esse gostinho a ele.

Então, depois de uns longos 5 segundos fazendo doce, eu sacudo a cabeça que nem aqueles bonequinhos que ficam de enfeite nos painéis dos carros, e solto um grunhido de pouco caso, antes de responder da maneira mais indiferente que consigo:

___ É... Se você quiser me contar. -- Eu dou de ombros. -- Porque para mim, tanto faz.

Numa atitude de pura maldade, Bernardo mergulha num silêncio totalmente desnecessário. Somente saboreando a minha crise de curiosidade aguda. Porque, com certeza, está estampado na minha cara que eu estou me coçando por dentro. E ele está adorando isso.

Amor à última vista Onde histórias criam vida. Descubra agora