CAP 22 - Ladrão que rouba ladrão...

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CAP 22 - Ladrão que rouba ladrão...

*LEO*

___É melhor que o mundo esteja acabando, porque não tem outro motivo para alguém me ligar numa hora dessas, em pleno sábado. - Esbravejo assim que verifico a hora no relógio em forma de bola de futebol, ao lado da minha cama.

Uso o meu travesseiro, quase me sufocando no processo, para impedir que a música do toque chegue aos meus ouvidos. Mas não está adiantando muito. O silêncio da manhã faz com que o som se espalhe pelo quarto a pleno volume. Quem me liga está fazendo-me odiar mortalmente o Coldplay* nesses eternos segundos, sem nem saber.

Respiro fundo, tomando coragem para me levantar e controlar a minha língua para que eu não coloque em palavras o que estou sentindo, assim que atender ao telefone.

Ele está em algum lugar por aqui, só não sei onde. Tenho que confessar que não são exemplo de organização e a minha Fortaleza da Solidão reflete isso. Mas, ontem, depois da ameaça da minha mãe em jogar tudo que estivesse espalhado pela janela, fui obrigado a dar um jeito na, de acordo com ela, "zona de guerra" que eu tenho a cara de pau de chamar de quarto. É claro que achei um exagero da minha genitora, mas eu também não fui maluco de falar uma coisa dessas em voz alta. Tenho amor a vida.

Como boa parte dos adolescentes, eu tenho uma habilidade incrível para me entreter com bobeira. Tipo aqueles cachorros de "Up: altas aventuras."

"Esquilos!"

E quando comecei a arrumar a minha humilde arruaça, antigos tesouros perdidos surgiram do caos, e eu simplesmente me distraí. Aí o tempo passou, o sono chegou e a zona continuou.

Só que agora é de manhã, e terei que continuar a batalha com a vassoura em punho. Estou pensando em providenciar uma armadura também, pois posso ter encontrado coisas legais no meio da baderna, mas nada me garante que não tem um monstro escondido debaixo de uma montanha de roupa.

Quem me liga desiste; o Coldplay se cala; e eu volto a gostar da banda novamente. Mas a reconciliação musical não dura muito, pois a pessoa infeliz volta a me ligar. Digo "infeliz", pois alguém que gosta de interromper o descanso alheio, com certeza não é feliz.

Com um último urro de raiva, desisto de jogar tudo para cima e desarrumar o pouco que eu já tinha ajeitado. Faço silêncio e sigo o som de "Viva la vida" que me leva até ao meu tênis de corrida.

"Como o celular foi parar ali? Que sacanagem eu fiz comigo mesmo."

____ O mundo está acabando em chuva de fogo ou gelo? --- Debocho ao tender o telefone. A piada seca é para deixar claro o quanto fiquei feliz com a ligação.

___ Bom dia para você também, Leozinho! Tô vendo que não te acordei. Fico aliviado! --- Diz Bernardo se divertindo com a minha acidez.

___ Vem cá! Você não tem o que fazer, não? Sei lá... um banheiro para lavar, um quarto para arrumar, outra paciência para torrar...?---Rebato com menos mau humor.

Minha raiva por ter sido acordado tão cedo, já era! Se eu levanto, mesmo que por poucos minutos, logo perco o embalo do sono. Então como agora eu estou de boa e desperto, meu humor retorna aos poucos ao seu estado natural. Mas agora que meus pensamentos de fúria evaporaram, percebo algo estranho: Bernardo acordado a uma hora dessas, em dia de folga?

___ Eita! Sua mãe te ameaçou para arrumar o quanto de novo? - O palhaço começa a falar outra vez entre risos. --- Se estiver no mesmo nível daquela zona da última vez, te aconselho a usar luvas.

Amor à última vista Onde histórias criam vida. Descubra agora