CAP 42 - Seja uma boa namorada pelo menos dessa vez
*BERNARDO*
Um fluxo intenso de larva corre em minhas veias, e o verde de meus olhos provavelmente se fechou num vermelho escarlate. Eu quero sangue! Eu quero morte! E por causa de uma coincidência inconveniente, eu decido usar o primeiro nome da minha vítima de homicídio, só para não pegar tão mal quando eu disser: "Eu quero o sangue de Henrique em minhas mãos!"
"Dizer que eu quero o sangue do "Cordeiro em minhas mãos" seria muito desrespeitoso, né?"
___ Bernardo... -- Isa repete pela segunda vez o meu nome, como se certificasse de que não sou uma miragem. Seu tom baixo, e arrastado reflete a sua total surpresa em me encontrar aqui.
"Surpresa ou lamento?"
___ Interrompo alguma coisa? Cheguei numa péssima hora? -- As palavras saem de minha boca como ácido, dando-me uma sensação de ardência na garganta.
___ Humm! Na verdade, não! Você chegou na hora exata para nos salvar. -- Cordeiro afirma numa seriedade fingida. -- Mas se você tivesse chegado uns 5 minutos antes... Tsc! Tsc! Tsc! Sei não, hein?— Ele balança a cabeça levemente, e faz uma careta. Eu adoraria poder deixa-la permanente depois de um belo socão.
"Ah, ele deve estar doido para perder os dentes. Só pode ser isso."
___Acho que seria complicado de explicar o que nós estávamos fazendo aqui, trancados, comigo só de toalha e com você de top. Não é verdade, Isa? -- Ele fala se voltando para ela, e tocando seu ombro de leve. -- O que as pessoas poderiam pensar se nos encontrassem assim? Já imaginou a confusão?
Eu arrasto meus olhos do Cordeiro, fazendo-os pousar sobre Isabela que se mantém inerte no meio do cômodo. Sua expressão de choque é uma máscara impecável. Quase me faz acreditar que ela está surpresa com o que o Cordeiro acabou de dizer.
QUASE...
___ Bernardo, eu...eu... Não aconteceu nada! Eu juro. -- Declara Isabela, se emaranhando nas desculpas esfarrapadas.
___ Então esse pervertido está mentindo? -- Indago cortante.
___ Sim! Quero dizer...não! Digo... Ele não está mentindo, exatamente... Mas as coisas também não aconteceram como você está imaginando. -- Ela tenta se explicar sem sucesso.
Meus lábios são puxados por um sorriso seco e perturbador, enquanto meu olhar vaga pelo banheiro escuro e frio, analisando o cenário do flagrante. Como minha mente poderia processar as coisas de maneira diferente, quando tudo ao redor diz o contrário?
___ Então você está me dizendo que vocês dois não estavam trancados aqui, sozinhos; Henrique não esteve só de tolha em nenhum momento; e a sua blusa desapareceu, assim, como mágica, exatamente na hora em que eu entrei? -- Eu enumero as mentiras, enquanto gesticulo mais do que um Maestro e, permito a ironia reinar em minhas palavras.
Eu sustento o olhar desnorteado de Isabela, que tenta em vão achar a sua rota de fuga. A desculpa perfeita. Ela parece um animal noturno encurralado pela lanterna do caçador.
Numa manobra de intimidação para conseguir arrancar a explicação que eu quero, eu dou um passo para frente, conquistando terreno. No entanto, meu movimento faz Isabela recuar, e colidir com o tórax descoberto de Cordeiro. Ele permanece sem camisa, e não parece fazer nenhuma questão de coloca-la tão cedo.
Aproveitando-se da situação, a raposa disfarçada de cordeiro apoia as patas nos ombros da gatinha (Não! Gata de beco. Essa atitude é típica dos gatunos.), e faz um carinho de leve em sua pele exposta. Ele está mergulhando de cabeça no papel da raposa herói, que salva a mocinha da ira do lobo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Amor à última vista
Ficção AdolescenteToda a esperança de Isabela de ficar cara a cara com sua alma gêmea, foi esmagada pelas letras garrafais da palavra "ESGOTADO" estampadas na tela do laptop. Quando não consegue comprar os ingressos do show que sua banda favorita fará em sua cidade...