CAP 46 - O que você está fazendo comigo?

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CAP 46 – O que você está fazendo comigo?

MARCELA

Tenho a sensação de que meu corpo serviu de palco para uma apresentação memorável de sapateado. Se eu conseguisse me levantar, tenho certeza de que poderia ver as marcas dos sapatos nas minhas costas. Mas eu estou sem força. Minha energia vital diminui drasticamente a cada espirro, e vazamento asqueroso no meu nariz. A pilha de papel higiênico na lixeira ao lado da minha cama, já nem tem mais espaço para onde crescer.

"COMO VOCÊ ESTÁ?"

Já é a quinta mensagem que Vitor me manda nas últimas horas, que recebe a mesma resposta da minha parte.

"ESTOU PIOR DO QUE ONTEM, PORÉM MELHOR DO QUE AMANHÃ."

Minhas palavras soam um pouco dramáticas, no entanto, é a verdade. Antes da cura, a gente sempre tende a piorar um pouquinho mais.

"EU QUERIA MUITO IR AÍ TE VER."

Em qualquer outro momento, eu teria achado essa mensagem superfofa, e um sorriso idiota estaria estampado na minha cara. Mas não hoje. Não quando pareço uma caricatura medonha de mim mesma, e ainda por cima feita pela minha mão esquerda. Por isso não tenho outra alternativa, a não ser responder:

"NÃO SE ATREVA! ESTOU HORRÍVEL!"

Minha aparência está tenebrosa. Virei praticamente uma morta viva. Essa gripe infeliz, praticamente me transformou num cadáver estirado sobre o colchão. Deus me livre, Vitor me ver assim!

"SÉRIO? VOU ADORAR CONFERIR ISSO."

Vitor rebate a minha mensagem, no mesmo instante em que eu vejo a cabeça de minha mãe apontar por detrás da porta do meu quarto.

___Marcela, alguém veio te ver. –Ela anuncia, e logo dá passagem a visita inesperada, quando se certifica de que estou apresentável. E quando eu digo "apresentável", eu quero dizer "não pelada.", e só. Minha aparência macabra é ignorada nessa análise de boa apresentação. 

Meu coração se aperta, com a possibilidade de Vitor não ter me obedecido, e vindo mesmo assim. Meus dedos cravam nas bordas do edredom, puxando-o sobre a minha cabeça. Por debaixo do meu esconderijo, eu escuto a porta se fechar num estalo, e meu corpo todo se retrai em expectativa.

___ Quando eu soube que você estava doente, eu tive que vir te ver. --- As palavras chegam aos meus ouvidos, abafadas pelo pano. No entanto, eu consigo identificar a voz que parece estar levemente irritada.

Ai, que bom! Pelo menos não é o Vitor.

___ Então foi você quem me passou essa gripe, né? – Léo resmunga, antes de dar uma fungada. --- E se eu tivesse um show nesse final de semana?

__ Hã?! Quem bi garante que não foi você que passou esse bírus para bim?– Eu protesto, deixando aparecer só os meus olhos por uma brecha no mar de tecido.

___ Simples: seu amiguinho Eduardo também está gripado. Então, provavelmente quando ele te beijou no parque, passou o vírus para você. Que depois, passou para mim. – Léo rebate, cruzando os braços diante do peito. Ele ainda não está falando pelo nariz, mas a sua voz já começa a mostrar alguns sinais de falha.

___ Ei! A culpa não foi binha! – Retruco, me libertando totalmente do edredom. – Foi você que me beijou, lembra?

A expressão de acusação que Léo sustentava com vigor, de repente se transforma, dando lugar ao espanto.

Amor à última vista Onde histórias criam vida. Descubra agora