A Paulinha não quer nem ouvir falar do Nando e eu até entendo, mas acho que ela devia pelo menos saber a verdade antes de julgar. Não que a história do Nando justifique os erros dele, a minha também não justifica os meus, mas acho que todo mundo tem o direito de ser entendido. Mesmo que o romance deles tenha chegado ao fim me entristece saber que aquela amizade bonita que rolava entre os quatro acabou também. Agora que o Nando já me autorizou a contar eu fico me perguntando se é justo com a Paulinha, que direito eu tenho de pedir que ela volte a amizade com o Nando, aliás que direito eu tenho de pedir alguma coisa para ela.
A dúvida me faz questionar o que eu acho certo, mas por outro lado não gosto de ver minha amiga sofrendo. Eu soube que ela estava apaixonada pelo Nando antes mesmo dela se apaixonar, conheço essa menina desde que ela era só uma garotinha e isso me faz entender o que ela mesma não entende.
É final de semana e o Erick foi trabalhar, alguma coisa está muito errada, ele nunca trabalhou final de semana. Não que eu duvide da fidelidade do Erick, mas na dúvida se foi ou não para a empresa liguei pelo menos umas duas vezes para o telefone da sala dele e de fato ele estava na empresa. Queria entender por que de repente o trabalho se tornou mais importante que eu. Liguei para a Paulinha e ela não quis sair, disse que não estava uma boa companhia.
- Boa companhia ou não você ainda é minha melhor amiga. Tô indo prai ta?
Fui direto para a casa da Paulinha, no telefone deu pra ver que ela estava chorando. Quando cheguei ela estava exatamente como eu nos meus piores dias, de pijama, os olhos avermelhados e um pouco inchados, até tentou disfarçar o choro, mas isso é coisa que a gente faz com estranhos. Abracei minha amiga do mesmo jeito que ela fazia comigo, um abraço longo e silencioso, sem perguntas e sem cobranças, ela fala se quiser, só quero que saiba que estarei sempre aqui. Nos primeiros segundos ela bancou a forte, só me abraçou de volta e sorriu, mas alguns segundo depois ela desabou num chorinho magoado e doído, chorou baixinho tentando ser forte.
- Se não quiser falar não precisa. Só quero que você saiba que eu estou aqui.
- Por que não para de doer? Eu tô cansada disso.
- Amor tem dessas coisas. Doi até você achar que não aguenta mais.
- E pelo menos algum dia para de doer?
Ela me olhava triste e eu sei que essa pergunta tem haver comigo, ela quer uma resposta positiva, quer que eu diga que nos dez anos que fiquei longe do Erick pelo menos um dia eu não senti dor. O que ela quer é uma esperança, mas eu não posso mentir para minha melhor amiga.
- Não. Mas você acostuma com a dor, depois de um tempo você convive bem com isso. Mas não precisa ser assim com você.
- Eu não quero mais falar com ele Érin. Não foi justo o que ele fez comigo.
A tevê estava ligada num canal de desenho, passava alguma coisa que ninguém prestava atenção, a Paulinha deitada com a cabeça no meu colo chorava, tentando inutilmente diminuir a sua dor.
- Eu sei que não, mas eu acho que você devia pelo menos ouvir o que ele tem pra te dizer. Se não for por ele, pelo menos que seja por você. Escuta o que ele tem pra dizer e depois você decide se quer ou não ele na sua vida.
- Eu não quero Érin, não quero ele na minha vida, não quero ouvir nada, a única coisa que eu quero é esquecer que ele existe.
- Mas você não consegue esquecer. E não vai conseguir até ter uma resposta para todas as perguntas que ficaram no seu coração.
- Por que você esta dizendo isso?
- Porque só parou de doer quando eu entendi porque o Erick quis se casar com outra mulher. Mesmo quando a gente estava junto e "feliz" ainda doía saber que ele foi noivo de outra mulher, só parou de doer quando entendi os motivos dele.
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Entre o amor e a vingança
RomanceEla: Érin, 23 anos, virgem. Sem muitos amigos, perde o único irmão e melhor amigo aos onze anos. Sofre diariamente com os maus tratos de um pai violento, vê sua vida mudar aos doze anos com a entrada de um novo aluno na escola que em pouco tempo se...