Cap. 19 Não é só prazer vazio

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Foi difícil dormir, é complicado olhar para a mulher que você amou e imaginar o quanto ela sofreu nas mãos do homem que você tem tudo para colocar atrás das grades e não poder fazer nada, porque se eu fizer ela vai me odiar ainda mais. Ela dorme tão tranquila que nem parece ter passado por tudo o que passou, acho que poucas pessoas conseguiriam sair inteiras de uma historia como a dela. Passo boa parte da noite vendo-a dormir e lembrando a fragilidade de quando a conheci. Ela era só uma menina, tão pequena, faltavam seis meses para seu aniversário de onze anos, a pele clara contrastava com o cabelo escuro, os olhos pretos e desde pequena tão intensos. Lembro que no dia em que a conheci eu estava indo para casa quando vi um grupo de meninas da sétima série zombando de uma menina bem menor que devia ser no máximo da segunda ou terceira série. Elas haviam derrubado suas coisas no chão e pegaram o óculos da menina e passavam de mão em mão enquanto a pequena tentava inutilmente pegá-lo de volta, elas riam da menina até que a pequena deu um chute na canela de uma delas, e então a menina maior a empurrou no chão.

Doze anos antes

- Ai sua idiota - dizia a menina maior enquanto derrubava a Érin no chão.

As meninas riam em volta da Érin, elas fecharam uma roda em volta dela e uma delas dizia

- Olha quem resolveu bancar a corajosa, bem feito que a Ana te empurrou.

A Érin chorava enquanto juntava as suas coisas espalhadas pelo chão. Eu nunca gostei dessas coisas então fui até lá e enfrentei aquelas garotas e ajudei a Érin a juntar suas coisas. No meio da discussão uma das meninas jogou o óculos da Érin no meio do mato por raiva de eu as ter enfrentado para defender a menina que ninguém gostava.
Enquanto a Érin terminava de juntar suas coisas fui até o gramado e peguei seu óculos. Quando fui devolvê-lo ela o tirou de minha mão bastante irritada, tentando disfarçar o choro.

- Obrigada, mas não precisava se preocupar.

- Meu nome é Erick, e não precisa agradecer.

- Obrigada mesmo assim, as pessoas não costumam ser legais por aqui. Você é novo na escola não é?

- É sou sim, elas sempre agem assim?

- Só comigo e com algumas crianças menores, no geral elas são só as garotas populares da escola.

Naquele dia eu levei a Érin até a enfermaria da escola pra fazer o curativo do joelho ralado e descobri que ela era uma menina muito calada. Uma coisa que me chamou a atenção na enfermaria, foi a moça que trabalhava lá. A primeira coisa que fez quando viu a Érin foi abrir um sorriso largo e em seguida quando viu os joelhos ralados e sujos de terra disse.

- Outra vez as meninas da sétima série?

A Érin só baixou os olhos e fez que sim com a cabeça, mas ali ela não parecia tão calada e nem tão desconfortável quanto comigo. A moça rapidamente mudou de assunto e perguntou quem era o amigo da Érin, ela disse algo que eu só fui entender anos mais tarde.

- Ele não é meu amigo, é só um garoto legal que me ajudou. E Erick... - disse olhando para mim - Obrigada, se você quiser já pode ir, eu vou ficar bem.

É tipo isso, você ajuda uma menina estranha e assim que ela se sente segura ela dispensa você, diz um "muito obrigada, você já pode ir" e de repente você está sobrando na enfermaria do colégio novo. Eu não soube o que dizer e fiquei em silêncio, com quatorze anos você não é o gênio das respostas. Ouvi quando a moça da enfermaria quebrou o silêncio.

- Fico feliz que você tenha ajudado a Érin, ela é uma menina adorável, mas nem todo mundo vê isso.

A Érin permaneceu calada, a cabeça baixa e o óculos na mão. Eu também não sabia o que dizer, tô acostumado a ser o garoto popular da escola não o garoto fofo. Mas naquele momento vendo a Érin ali tão quietinha e tão encolhida eu quis saber mais sobre ela. Esperei ela sair e a acompanhei até uma rua antes de sua casa com a desculpa de que as meninas poderiam estar no caminho, mesmo a Érin me garantindo que elas não estariam mantive a desculpa e a acompanhei e foi assim que aconteceu, depois daquele dia eu nunca mais consegui parar de pensar nela. A coisa mais estranha é o garoto popular se apaixonar pela chacota da escola.

Entre o amor e a vingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora