Da vida eu sei muito pouco, sei que as pessoas que amei foram as que mais me machucaram, meu herói morreu cedo sem ter a chance de contar sua história, meu único amor foi embora amargurado pela vida, aqueles que deveriam ser meus amigos foram os meus piores inimigos. Dentro de mim vive um monstro que se alimenta das minhas inseguranças, monstro esse que foi criado por aquele que deveria ter sido meu verdadeiro herói.
A vida nem sempre foi justa, amei sem ser amada, chorei sozinha e a solidão durante anos foi a minha única companhia. Cresci sozinha, criada no egoísmo da solidão, aprendi a ver o mundo com um olhar diferente. No meu mundo, sim eu tenho um mundo só meu, no meu mundo convivo com gigantes que travam batalhas injustas contra uma alma pequena cansada de sofrer. Derrotar ao menos um desses gigantes é algo que nunca pensei fazer, você vive escondida no seu próprio mundo, fugindo dos seus medos e rezando para que eles não te encontrem. Encontraram. A dias estou lutando contra um desses gigantes, minha alma está em guerra, os monstros me atacam durante o dia, mas a noite quando encontro abrigo nos braços do amor os monstros vão embora, descobri que o amor é uma luz que afasta os gigantes que se alimentam das trevas. Rezo todos os dias para que a noite chegue logo, para que os monstros me deixem em paz e eu possa descansar das duras batalhas da vida.
Sonhamos com a paz, mas é em guerra que lutamos por ela. O ser humano se torna injusto, rouba sonhos e destrói futuros, machuca aquele que ama, mata por dentro e deixa vivo por fora, o pior castigo para quem vive é estar morto por dentro. Me pergunto quantos de nós existem pelo mundo, sei que não estou sozinha, há outros corpos que vagam sozinhos sem alma, outras almas perdidas em seu mundo caminhando numa estrada solitária, lutando só contra seus próprios gigantes. Sei que há outros como eu, que vivem durante o dia e choram suas dores durante a noite, medem seus pensamentos para não alimentar o monstros dentro de si.
Quantas vezes nos privamos da vida, morremos de fome para não dar de comer ao inimigo. O coração tem fome de sentimentos enquanto os gigantes tem fome de pensamentos, deixamos de amar para não sofrer, os gigantes estão mortos mas no fim nós também estamos, é uma guerra que não permite vencedor, se eles perdem você perde também porque no fundo eles são apenas a parte mais fraca de você. Você mata um gigante e morre um pouco com ele, quando todos estiverem mortos você será só um bravo guerreiro jogado no chão, feliz, esperando a morte te livrar das dores que a vida causou.
- Eu te amo.
As palavras dele me trazem de volta a vida, perdida em meus pensamentos não sei a quanto tempo estamos presos no olhar um do outro. Olho para o Erick e reconheço o herói, o homem que deu o ultimo golpe no gigante que morre curvado ao amor. Eu venci e ele também me venceu, levou consigo uma parte de mim, parte essa que não quero de volta. O medo morre junto com ele, o amor vence mais uma batalha.
- Eu também te amo.
Uma lágrima cai, tão solitária quanto eu fui a vida inteira. Pela primeira vez consigo dizer que o amo, o peso do silêncio se quebra, sentimentos que guardei durante anos, palavras que não quero mais guardar. A dor que havia nos olhos dele some, ele sorri grande e me beija, nos beijamos como os casais de filmes que ficam muito tempo sem se ver. Um beijo de reencontro, o beijo que sonhei durante anos, mesmo com os olhos fechados as lágrimas caem, reconheço agora o gosto do Erick, o gosto que senti a beira daquele riacho. Meu coração é invadido por uma grande alegria, meu príncipe está de volta e eu estou em casa outra vez, não me sinto mais perdida nem vagando solitária, estou em casa, o Erick é o meu lar.
- Diz de novo que você me ama?
- Eu te amo. - não doi, não machuca, me sinto leve ao dizer - Eu te amo muito Erick.
Ele continua a sorrir, seu sorriso é o mais bonito do mundo, principalmente porque cresce enraizado no amor, seus olhos estão cheios de sentimentos e estes escorrem pelo rosto, uma lágrima cai de seus olhos, ele chora junto comigo. Nunca o vi chorar e confesso que doi, mesmo que seja uma lágrima de felicidade. Fecho os olhos e beijo seu rosto por onde a lágrima cai, sinto o gosto de sal, beijo novamente e sigo até seu ouvido, sussurro minhas palavras com medo de que um dos gigantes possa me ouvir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre o amor e a vingança
RomanceEla: Érin, 23 anos, virgem. Sem muitos amigos, perde o único irmão e melhor amigo aos onze anos. Sofre diariamente com os maus tratos de um pai violento, vê sua vida mudar aos doze anos com a entrada de um novo aluno na escola que em pouco tempo se...