Cap. 90 Lágrimas de sangue

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O coração batia devagar no peito, uma calmaria que ela não sabe de onde vem. O corpo ainda tremia e tremeu muito mais depois daquela ligação, o coração bombeava medo junto do sangue. Sabe o que acontece quando o pai fica bravo e mesmo sabendo que não poderia fazer nada para impedir, queria estar junto da mãe. Os tempos de paz acabaram, se o Erick ameaçou a familia dela então agora o pai já sabe que as ameaças dela não tem mais valor nenhum. Só conseguia pensar em chegar logo em casa, sentiu tanto medo pela mãe que esqueceu a raiva e a mágoa pelo Erick, só queria ver a mãe. Não dá para fugir se alguém ficar para trás, sabe disso desde menina quando a mãe não quis fugir junto com ela. Não dá para abrir o portão do inferno, sair e deixar quem você ama para trás, o corpo fica livre, mas a alma vai continuar queimando. Apertou repetidas vezes o botão do elevador e o mundo parecia girar bem mais devagar, o coração e a mente ligadas no duzentos e vinte e tudo em volta parecia estar simplesmente no lugar, a calmaria de uma manhã normal e ela ali quase socando o botão de um elevador que teimava em não chegar.

- Érin eu posso explicar.

- Explicar o que? Explicar O QUÊ? Ai droga de elevador que não chega! - respirou fundo, o corpo tremendo muito.

- Eu não vou fazer nada com seus pais Érin, se acalma por favor.

- Não vai fazer nada? Você já fez!

Desceram em silêncio, ela secou as lágrimas e tentou parecer o mais calma possível na hora de fazer o check out. Saíram da recepção do hotel e o carro dele estava parado em frente. Tanta coisa na cabeça que ela esqueceu do carro, pegou as chaves na mochila e o Erick a olhava curioso.

- Você vai deixar o carro aqui?

- Você vem comigo.

- Eu posso voltar dirigindo, não quero ir com você.

- Você é maluca Érin, - e pela primeira vez aquilo soou ofensivo vindo dele - se eu deixo você entrar nesse carro você foge de novo.

- Como se isso fosse uma opção para mim. - disse desdenhosa.

- Não era uma opção e você fugiu. Me dá as chaves do carro. - disse autoritário estendendo a mão.

- Eu posso dirigir Erick.

- Mas você não vai.

Entregou as chaves do carro e entrou no carro dele, batendo com força a porta. Antes de entrar no carro o Erick ligou para o Mathias passando o endereço onde eles estavam. A viagem para casa foi silenciosa, ela chorava baixinho, mas nem uma palavra foi dita. Quatro horas e meia de viagem, nem ela sabe como foi parar tão longe, só saiu dirigindo e quando cansou encontrou aquele hotel. A raiva invadiu o coração, medo e ódio numa solução aquosa que corria pelas veias.

Erick

A Érin não parou de chorar, o silêncio me incomoda, mas não tem muito o que dizer, ela não vai entender que não foi traição. O silêncio dentro do carro só se quebrou quando ela ligou para a mãe.

-Me diz como você está... Fala a verdade... Você está bem mesmo?.... Não chora mãe, vai ficar tudo bem. - ela começou a chorar, as lágrimas caiam pesadas - Já passou tá? Eu prometo que vai ficar tudo bem.

Desligou o celular e chorou baixinho, completamente alheia a realidade. Pensei em dizer alguma coisa, mas não tinha o que dizer. Eu não sou esse monstro todo que ela vê, mas acho que também não sou o príncipe que ela esperava. O sumiço dela me deixou louco e eu não consigo imaginar minha vida longe dela, eu vivi anos de mais longe para querer aquela vida de volta, mesmo que ela me odeie, qualquer coisa é melhor do que não poder olhar para ela todos os dias. A Érin parecia muito cansada, o dia estava fresco e ela acabou dormindo o resto da viagem. Quando finalmente chegamos em casa ela já estava acordada, saiu do carro e bateu com força a porta, pegou a mochila e subiu sem nem se quer se dar ao trabalho de olhar para a minha cara.

Entre o amor e a vingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora