Cap. 72 Melhores amigos

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As palavras dela machucaram, eu não sou esse cara egoísta e distante que ela faz questão de dizer. As vezes eu queria entender porque a Érin é assim tão difícil. Desisti de ir atrás delas quando a Paulinha pareceu mais confortável ao perceber que eu não ia subir. Difícil explicar o que eu estou sentindo, a Paulinha, que foi durante tanto tempo minha melhor amiga, não me quer por perto e ainda escondeu de mim o romance com o Nando. A Érin, vem mentindo para mim a meses, por que ela não me contou? Se ela tivesse contado a gente podia ter evitado toda essa confusão. E o Nando? Como ele teve coragem de mentir para mim? Enganar uma pessoa que eu gosto tanto, frequentar minha casa e zoar com a cara da minha melhor amiga de baixo do meu nariz?

Parece tão confuso, por que elas tem segredo com um cara que elas acabaram de conhecer? A gente cresceu juntos, por que a Érin não confiou em mim? Por que ela escolheu ter segredos com um estranho? E por que elas não me querem por perto agora? Por que eu estou me sentindo tão errado agora? Dez anos criou um abismo entre a gente e não foi só com a Érin, eu olho agora e percebo que não tenho mais o mesmo espaço na vida delas, que os anos que passamos longe nos transformou em meros estranhos.

Subi e as meninas estavam em um dos quartos vazio. A porta estava entre aberta, caminhei bem devagar, tentando não fazer barulho com os pés. A Paulinha chorava muito deitada no colo da Érin, a Érin consolava a amiga e doeu ver a Paulinha sofrendo tanto. Pensei no quanto a Érin deve ter sofrido quando descobriu que eu iria me casar.

- Ele não podia ter feito isso comigo. - ouço a voz chorosa da Paulinha - Eu perguntei tantas vezes, se ele não queria mais era só ter falado.

- Eu não sei o que te dizer, ainda não caiu a ficha.

A Érin chorava junto com a amiga, um choro sofrido, amargo, magoado de mais como se ela também tivesse sido traída. A Paulinha chorava alto, um coração ferido e magoado que batia na palma da mão todo remendado, a Érin chorava baixinho, acolhia a amiga em seus braços, mas pareceria totalmente alheia a realidade.

- Não fala nada, eu quero que aquele desgraçado morra! Eu odeio o Nando amiga.

- Olha, - a Érin pegou o rosto da Paulinha em suas mãos e a olhava com muita ternura, a voz doce. Pela primeira vez a Paulinha parecia menor que a Érin, primeira vez para mim, não para ela - eu sei que está doendo, doeu em mim também quando eu descobri que o Erick ia se casar. Mas olha dizer que você o odeia não vai ajudar, não vai diminuir o que você sente.

- Eu não sinto nada pelo Nando! Nada! - e ela parecia muito brava.

- Não? Não mente pra mim, eu sei que você gosta dele muito antes de você perceber que gostava. Eu queria te dizer que vai passar, que amanhã quando você acordar tudo vai voltar ao normal, mas não vai. A única coisa que eu posso garantir é que eu vou estar aqui, que a gente vai estar sempre juntas, como sempre foi, eu e você. Lembra?

Fez que sim com a cabeça e a Érin a abraçou, a acolheu num abraço terno e cheio de amor, uma versão da Érin que eu não conheço. Essa Érin carinhosa eu nunca conheci, por mais que ela seja muito carinhosa quando está de bom humor, desse jeito nunca a conheci. Me pego pensando em quantas coisas mais eu não sei sobre a Érin, quanto mais da vida dela eu perdi nos dez anos que ficamos longe.

- Vem toma um banho e tenta descansar um pouco. Você fica aqui hoje e amanhã a gente pensa no que faz.

Eu tinha que sair de pressa, mas o coração bateu apertado, minhas duas melhores amigas sofrendo e eu espiando pela frecha da porta. Só consegui sair quando a Érin se levantou.

- Eu vou encher a banheira e te deixar quietinha um pouco tá?

- Érin?

- Oi.

Entre o amor e a vingançaOnde histórias criam vida. Descubra agora