Sussurro

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Quando abri meus olhos e senti a dor na testa já sabia onde estava, mas agora, eu via, estava sozinha. A cela completa e inteiramente vazia, exceto por mim. O cheiro de mofo dominava e eu podia ver as manchas mais escuras nas paredes de pedra, musgo, lodo e muito mofo. Haviam enormes arranhões nas paredes como se garras poderosas não pudessem ser impedidas nem por rocha, passei meus dedos por eles e imaginei que tipo de criatura teria feito aquilo. A cela era como a outra, mas bem menor, como se fosse feita apenas para um prisioneiro ou para atormentar uma criatura pela falta de espaço, considerando o tamanho daqueles arranhões. Toda a luz vinha do corredor além das barras de ferro pesado já enferrujando, minhas mãos ficaram vermelhas com o toque.
Ferro, a fraqueza, o anulador de magia, um bloqueio.
Lembrei do zoológico, do incidente com os succubus. Eu tinha usado o fogo naquele dia. A palidez e a ausência de frio tinham passado, ignorar o frio naquele lugar era impossível, meus dentes trincavam a cada movimento, como um desperdício de energia e mais exposição ao frio, eu tentei chamar por aquele poder, mas os fios permaneciam sólidos como as pedras que formavam minha prisão.
Eu tentei e tentei por incontáveis horas, até a exaustão e o frio me atingirem com tanta força que desisti, me encostei em uma das paredes frias, na área mais limpa que encontrei e me encolhi. Foi quando percebi. Quando levei a mão ao pescoço gelado após esquentar minhas mãos eu senti a falta do metal em meu pescoço, percebi a leve mudança de peso e quando tateei em busca de medalhão e chave não encontrei nada, percebi, logo depois, que também não havia anel. Gemi e me encolhi mais. Eu tinha perdido tudo, absolutamente tudo.
Não.
Tomaram de mim.
Deixei a raiva me dominar e me joguei contra as barras e urrei, gritei e grunhi com tudo de mim. Raiva. Ódio.
Senti os fios vibrarem, mas quando tentei puxá-los voltaram a firar duros.
Quase chutei o ferro, me impedindo apenas por saber que de nada adiantaria e que seria recompensada com dor.
- Merda! Maldição, maldição maldição...
Repeti até que o calor da raiva passasse. Me joguei contra a parede e escorreguei até o chão, passei as mãos pelos cabelos os puxando um pouco. Tinha que ser comigo.
Eu tinha que ser largada naquele mundo estranho, eu tinha que mentir, eu tinha que fingir, eu tinha que me meter em confusão, eu tinha que ter visto aquele lobo, ser raptada e mais uma vez, eu tinha que ficar inábil e sem os poderes.
Raiva me remoia até eu escutar aquele sussurro distante ecoando pelo corredor.
- Maika?

Cidade de Magia - Aprisionada por EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora