Jogo das fadas

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Eu compreendi melhor o jogo assim que eles proclamaram o primeiro golpe.
Titania chamou por um golpe pelo sul e o oponente amarelo pelo norte oeste, então eu vi pedras rolarem e garres tomarem forma, eram pequenos goblins de pedra travando batalha, uns com forma mais detalhada e outros robustos ao ponto de pouco se modificarem. O oponente de Titania tinha dividido as garres igualmente nas seções e claramente tinha uma força menor, mas que mesmo assim causava grande dano ao exército da rainha.
- Essas são duas estratégias completamente opostas.
O fae amigável voltou a esplicar a sistemática do jogo.
- Darvos usou a mais comum e confiável, a de dividir tudo igualmente, assim as chances dele são maiores de se manter no jogo por mais tempo. Já Titania usou a mais ousada, de concentrar as garres e selecionar duas, é obrigatório que cada seção tenha ao menos uma garre.
- Mas ela não corre o risco de perder logo?
- Ela pode eleger golpe por uma seção quantas vezes quiser, mas tem que eleger golpe com todas, ao menos uma vez com cada. Se ela ganhar antes de eleger golpe com todas as seções, automaticamente a vitória é dada ao outro.
- O que acontece se todas as garres forem destruidas?
- Ele simplesmente perde uma seção e é obrigado a usar outra. Normalmente é assim que se ganha, destruindo todas as garres.
- E qual o outro jeito?
- Entre as garres sempre vêm três mais fortes que todas as outras. Se alguém pegar as três e as colocar na mesma seção, assim que reveladas, o jogador ganha.
- É preciso de muita sorte então.
Ele sorriu.
- É aí que está. Não é sorte, é conhecer as pedras.
- Mas... - agora eu estava confusa de novo - as garres não são iguais?
- Aparentemente - ele me corrigiu - mas emanam energias diferentes, é algo bem sutil, mas que alguém sensível consegue captar, alguém treinado também pode conseguir, mas sempre é possível errar.
- Essas três garres...
- Ainda são diferentes entre si. Existe a mais forte de todas, e duas de nível igual, a mais forte não vence sozinha as outras duas, e as duas iguais não se derrotam, mas uma com a outra pode destruir a de nível baixo. Uma baixa pode derrotar sete inferiores, a de nível alto pode derrotar doze inferiores e duas baixas dezesseis inferiores, uma alta e uma baixa vinte e três. No total, a mesa tem cem garres divididas na de nível alto, as de nível baixo, as inferiores e as subversivas e as vezes um rei. O rei é algo bem aleatório, realmente depende muito da sorte vir um rei em uma mesa, ele consegue derrotar duas nível baixo e vinte e cinco inferiores, mas nunca luta contra um nível alto, os dois ficam simplesmente parados.
Observei Titania vencer, mas com um grande grupo bem deteriorado. Então foi a vez de outra seção, um contra dezenas, assim que as garres tomaram forma Titania tinha um quase humano, bem pequeno, que destruiu todas as garres do fae amarelo com um único golpe.
- Isso é o que chamamos de lance, um contra vários. Aquele era um nível baixo.
- Ela... - comecei a falar impressionada - sabia que...
Ele tinha entendido, sorrindo negou.
- Titania treinou, mas não é sensível, como a maioria pensa. Ela erra, mas quando acerta acontece isso.
Outra rodada tinha começado, mais vários contra um. Eu estava ao ponto de me levantar para ver melhor. As garres rolaram para o centro ao terem suas seções eleitas, tremeram ao alcancar o centro dividido em norte e sul, se modificaram e logo golpes foram feitos, pequenas pedras humanoides correndo para lutar contra uma única, maior, mais detalhada e claramente a mais forte ali. Titania venceu, ela se levantou e os dois jogadores se cumprimentaram, ela se virou para a platéia lancando um olhar intenso para alguém entre nós e se despediu.
Todos se dispersaram tão rápido que tive que me agarrar a Sef para não perde-lo de vista e nem tive a oportunidade de agradecer ao fae que me explicou o jogo, ele ficou bem mais interessante ao ter uma noção.
- Vejo que gostou de vir afinal.
Sef falava em tom irônico, ele não tinha gostado de minha pequena interação social durante sua missão e eu não iria me entregar.
- Sim, quando o jogo fez sentido as coisas melhoraram.
- Quando entendeu o jogo ou quando o fae falou contigo?
Bom, agora estávamos entrando em uma discussão sem sentido.
- Me diga, Sefran, você estava mais interessado em cumprir sua missão ou em olhar para a Titania? Reparou na roupa dela? Que decote!
- O que?!
Cruzei os braços, não acreditava que ele estava se fazendo de inocente ao começar aquilo.
- Ora. Vai me dizer que não reparou em como ela era uma deusa?
Ele trocou o pé de apoio, descruzou os braços e passou a mão pelos cabelos enquanto escondia, sem sucesso, um sorriso.
- Eu tenho que ir agora.
- O que?
Eu não podia aceitar que ele tinha me levado a discutir uma besteira para no final não terminar ela e ele sair do nada me deixando sozinha naquele exato instante.
- Você não vai agora. Não terminamos de...
Ele me puxou em um abraço estranhamente agradável no meio de toda aquela situação.
- Eu volto logo. Tem uma mesa com frutas ali, vá e me espere por perto. Não vou demorar.
Ele se afastou e olhou para mim esperando por uma resposta, aquilo...
- Tudo bem, mas o... que... - ele tinha ido - foi isso?
Mais uma vez eu era pega de surpresa por sua velocidade. Lobos eram tão rápidos? Eu não me lembrava disso. Mas eu também não lembrava das outras duzentas páginas de Portadores.
Então dei de ombros e fui para a mesa, atacar os morangos.

×××
Gente! O inep não fornece mais certificado de conclusão do ensino médio? Que que eu faço?
Ahhhhhh
Vida de vestibulando é tenso demais.

Cidade de Magia - Aprisionada por EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora