Cidade de Magia - Aprisionada por Espinhos

Do outro lado

Corri para as barras e me agarrei a elas. Ryan ergueu o rosto e olhou para mim, seus olhos brilhavam no escuro, eu podia ver o céu neles, mas seu olhar era de raiva.
- Ryan.
Eu sussurrei o nome com um pedido. O olhar dele mudou para surpresa.
- Tirya?
- Sou eu.
Ele se levantou e veio para a luz, seu rosto estava sujo e os cabelos mais desgrenhados que nunca. Assim que estava alcançável eu o puxei contra as barras e lhe dei um abraço, tanto para ele quanto para mim que sentia essa necessidade já tinha um tempo, as barras atrapalharam bastante, mas não impediram que meu abraço fosse retribuído.
- Como você está? Ferido em algum lugar? Está comendo? E dormindo?
Me afastei e o analisei.
- Eu estou bem, Tirya. Era eu quem devia estar perguntando isso.
- Com certeza estou melhor que você aí.
Me angustiei e lhe dei outro abraço com as barras entre nós.
Um pigarreio veio de trás de mim assim que nos soltamos.
- Sei que vocês devem... sentir falta um do outro. Lamento interromper, mas preciso que vocês sejam rápidos. Temos apenas mais dois minutos antes de um sanguessuga apareça por aqui. Então...
- Fale o que for preciso.
A voz de Ryan não estava suave como a noite, era mais tempestuosa, rouca.
Sef se aproximou e falou o mais baixo possível.
- Você vai apenas ficar quieto por um tempo, nada de tentativas de fuga ou bater nos dentudos. Quieto. Quando surgir a oportunidade, que vamos ter que manipular, vou te tirar daqui e você e seus amigos vão correr para bem longe.
- Como vamos saber para onde ir?
- Não vão estar sozinhos. Alguém vai guiar vocês.
- Você?
Ryan soava irônico e desconfiado.
- Talvez. Ainda não sei. Irá dar trabalho tirar todos vocês e eu vou precisar de ajuda, claramente, e posso precisar de tempo. Mas vamos conseguir.
- Você confia nele?
Fui pega de surpresa pela pergunta. Encarei Ryan sem saber o que responder.
- Ela vai confiar.
Mais uma vez fui surpreendida, só que por Sef, ele estava mais convicto no que falava do que eu jamais poderia imaginar.
- Não importa. É nossa única chance.
Tentei soar segura, mas saiu como um lamento.
Ryan segurou meu rosto me fazendo olhar para ele, sua expressão era dura.
- Não importa se é a única chance, se você discordar ou se aquele cara fizer algo errado, abandone tudo e fuja sozinha. Nenhum de nós vai culpá-la, tenho certeza que se cada um pudesse lhe dizer algo diriam para ir embora. É praticamente impossível tirar todos. Me prometa isso, vai fugir sozinha se algo der errado.
Neguei. Eu não podia ir só. E todas aquelas vidas? Mesmo tendo sido obrigados a entrar na guarda eles tinham vida, eram alguém.
- Eu prometo por ela. Vai embora nem que a força...
- Não posso.
Interrompi Sef.
- Você não sabe o que fazem com as pessoas por aqui, Tirya.
Lembrei das palavras do homem que ainda estava preso. Ele tinha esquecido o próprio nome...
- Apenas faça. - Ryan me soltou. - Deposito minha confiança em você.
Eles trocaram acenos. Sef indicou para que fossemos. Tomei a mão de Ryan na minha, um último conforto antes da insegurança.
- Vamos embora daqui juntos.
Ele me deu um de seus sorrisos de lado.
- Assim fica parecendo que eu consegui te seduzir.
- Quando sairmos daqui você pode dizer o que quiser.
- Certo, então vou dizer que tenho uma perseguidora.
- Cuidado para não se convencer. Até lá, fique forte.
- Eu sou.
Acenei.
- Vamos.
Segui Sef novamente, mas sempre olhando para trás.
Ryan tinha sido superficial quando lhe perguntei como estava, mas apenas por estar vivo e poder ficar de pé e falar eu estava aliviada profundamente. Nem as criaturas me importaram tanto e eu queria era ficar ali com ele.
Escutei o arrastar de garras sobre rocha e meus tímpanos doeram muito. Me encolhi no chão cobrindo meus ouvidos. Era muita dor. Olhei para o lado e vi a criatura na cela rapidamente, antes Sef cobriu minha visão com seu rosto preocupado.
- Não dê atenção para ele. É um assassino, um caos, vamos embora.
Acenei e segui com ele, não olhei na direção da cela novamente.