Dono de tudo

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- Por que?
Assassino eu sabia, o tinha visto matar bem na minha frente, mas ladrão...
- É o que sou.
- Eu não entendo.
- Ainda não está na hora de entender.
Me revoltei, desencostei da parede e bati o pé.
- Como espera que eu confie em você se vai ficar escondendo coisas?
Um urro ecoou pelo corredor e eu tremi, o assassino se levantou de uma vez e cobriu minha boca como se previsse o grito preso em minha garganta. O urro parou e ele olhou para mim, tudo que via eram os olhos, apenas o lobo, de tão perto que ele estava, suas palavras não passaram de um sussurro.
- Preciso que me odeie e se mostre o mais abalada possível. Quero que confie em mim, só não posso contar tudo enquanto não confia. Vou provar meu valor a você, seja paciente. Agora vá pata a poltrona e se encolha, evite olhar para quem vem, ele não tolera nem mesmo um olhar errado, por favor, não erga o olhar, não importa o que aconteça.
Eu acenei e ele se afastou, corri para a poltrona e abracei minhas pernas escondendo o rosto atrás dos joelhos. Qualquer ameaça que o assassino representasse não era maior que qualquer outro ali, nele havia um pedaço do lobo, já nos outros restava apenas a crueldade. A porta foi aberta por ele, não ousei espiar quem era, apenas o peso no ar bastava para que eu reconhecesse as sombras que pairavam por ali. Eram as mesmas na floresta fria. Me encolhi mais ainda. Aquelas sombras vinham da causa de nossa derrota, não seria ousada como tinha sido com... Sef. Nunca quis tanto ser invisível.
- Senhor...
Sef o cumprimentou. Sef, percebi que era um apelido até que carinhoso e eu o tinha escutado da bruxa, pensei brevemente em qual seria a relação deles, ele parecia ter medo dele, mas deixei de lado a curiosidade ao escutar a voz desse senhor.
- Sefran, vim ver quem tinha levado para seu quarto, já que não a exibiu como as demais.
Senti olhos sobre mim.
- A encontrei tentando fugir, estava na torre subterrânea leste.
- Então era uma dos dispensáveis?
- Não ousaria tomar um de seus produtores, senhor.
- Muito bom.
- E quanto a você, Kishan, o que o trás aqui?
- Também estava curioso para saber qual era seu novo objeto. Talvez até pedisse um pouco para mim. Mas vejo que já a quebrou por completo.
O que me quebrava era aquelas duas vozes, uma suave e autoritária por si só e a outra rouca e distante, como se ele tivesse aprendido a usá-la não fazia muito tempo. Passos soaram e eu soube que alguém se aproximava de mim, me apertei com mais força.
- O que fez com ela para ficar desse jeito? Pensei que cuidasse bem do que é seu.
- Então ela é minha?
Ele mudava o tom quando falava com aquele senhor.
- É claro! Mesmo se tivesse escolhido um dos produtores seria seu. Eu soube que tem fêmeas belas dessa vez, a nifilim é a mais cobiçada. - senti medo até os ossos, medo por Fray. - Mas é claro que não sendo você não permitirei que toquem no que é meu. Faça o que quiser com essa.
- Vamos ver quanto tempo vai durar.
A voz rouca falou com diversão.
- Tentarei cuidar melhor dela, agora.
- Oh! Sim. Se gostar mais dessa e a consertar a leve para cima, gostaria de ver que tipo de beleza ela tem.
- Sim, senhor, eu o farei como pediu.
- Não precisa ser sempre tão formal. Aprenda isso com Kishan, ele é informal até demais.
Os passos se afastaram.
- Apenas sou como sou, Eric.
Meu coração apertou ao ouvir o nome, por mais que já o soubesse.
- Vê? Ele acha que por ser poderoso pode me tratar como igual.
- Eu faço o que manda. Não é o suficiente?
- É claro. Apenas não me desobedeça. Agora tem mais um deus expulso nesse castelo.
Quase ergui o rosto ao escutar Ryan ser mencionado, quase questionei por ele, ao invés me apertei mais e me escondi mais.
- Mas ele não o serve.
- Por enquanto. Logo descobrirei a fraqueza dele ou tomarei o que ele acha que pertence a ele. Tudo aqui é meu.
Senti uma raiva na voz dele.
- Sim, nós sabemos. Mas não pense que esse deus me dá medo...
- Cale-se, Kishan. O senhor não quer escutar seu discurso sobre como é forte.
- Obrigada, Sefran. Agora irei lhe dar privacidade. Sei como aprecia fazer seu show em particular. Venha, Kishan.
Não demorou muito e escutei a porta se fechar. Ergui meu rosto e vi Sef ainda segurando a maçaneta. Alguns segundos depois o urro soou no corredor e eu soube o que tinha que perguntar em seguida.

Cidade de Magia - Aprisionada por EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora