Marcado pelo passado (parte II)

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- O que aconteceu?
Ele tinha ficado tão diferente ao falar daquilo que eu o irreconheci, estava para chamar pelo nome só para saber se era ele.
- Sua mãe viu um pouco da verdade. Sabe, nós surgimos há uns setenta anos enquanto o restante tem séculos de reconhecimento, no mínimo. E foi entre humanos e muitos por aqui, quase todos filhos mestiços. Quando perceberam o que podíamos fazer, que os deixamos vazios quando nos preenchemos, começaram a nos caçar. - ele gargalhou - É irônico como o princípio da criação do plano se voltou contra nós. Eles criaram isso aqui para não serem caçados e acabam nos caçando.
Mais uma vez eu me vi em frente a um desconhecido. Ou talvez fosse aquela parte dele que conseguia matar, a que tinha predominado por tempo demais nele. Fiquei assustada com aquela ideia e horrorizada com o que ele falava, as peças que estavam de lado se encaixando.
- Por isso criaram o programa de mestiços. Por isso vigiam os mestiços  e têm essa coisa de manter a pureza, é o medo de que mais de nós apareça. Eles criaram centros de pesquisa e aprisionamento da nova espécie. Tirya, todo tipo de coisa foi feita, todo mesmo, até que teve uma...
- Aí estão vocês.
Than se aproximava com uma expressão dura, o caminhar rígido.
- Vocês precisam acompanhar o segundo grupo. Eles estão fazendo barulho e já reclamam. Têm que ir logo...
- Já estamos indo, só um instante.
Pedi a ele, mas Sef se virou.
- Vamos agora. Podemos terminar essa conversa depois.
Fiquei calada observando ele ir na frente, não sabia se ele estava evitando a conversa ou eu tinha passado alguma ideia errada. Deixei aquilo para depois, para me dar mais tempo também, assimilar tudo aquilo, perseguição, traição e medo, estava difícil, sendo apenas a ponta do iceberg, por que tudotinha que ser complicado? Fragmentar não parecia ser suficiente para permitir a compreensão, talvez eu nunca entendesse ele de verdade, nem minha mãe, mas eu tinha que tentar, eu era uma deles apenas tive a grande sorte de ter minha mãe me protegendo, não fosse por ela eu poderia ter ruído bem antes de ter a chance de conhecer todos que hoje eram tão importantes. E ainda tinha meu pai, quem o passado era ainda mais misterioso tanto para mim quanto para ele, eu realmente esperava poder dizer em breve que eu era filha dele, que ele lembrasse da minha mãe e me contasse sobre eles, o que enfrentaram juntos e quem sabe sobre Eric, antes de ele se tornar o inimigo afinal ele já havia sido quem minha mãe amou antes de meu pai.

Realmente estava um barulho e agitação entre todos, eles nos esperavam, apenas nós dois, todos prontos para partir em frente às grandes portas duplas que seriam usadas como portal. Eu finalmente tinha entendido o que era aquela chave que minha mãe me deu, uma chave para abrir qualquer porta para qualquer lugar, não significava que eu realmente sabia como usar, diferente das prateadas que eram específicas para cada portal, as douradas exigiam um pouco de manipulação de magia para direcionar o local. Sef tinha uma chave e Eric a outra, assim as três Chaves douradas já tinham paradeiro conhecido, ao menos portador. Ele caminhou até as portas e as abriu, era um jardim que estávamos vendo do outro lado e mais ao longe a floresta das cores quase sem cor com a falta de luz, era quase lua Nova, imediatamente lembrei de Adam durante a lua Nova, tão humano.
Sef foi na frente, liderando o grupo de humanos, eu fiquei para trás, Lan surgiu ao meu lado, o olhar triste e eu senti um aperto no peito, devia ser dela, nos olhamos e de algum jeito soubemos o que sentíamos e o conforto de uma fluiu para a outra através daquela maldição.
- É bom irmos ou seu amante vai fechar a porta com nós duas ainda aqui.
Acenei e puxei as alças da minha mochila, meus pequenos tesouros nela.
Eu atravessei o portal e inspirei profundamente me sentindo em casa.

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