Cidade de Magia - Aprisionada por Espinhos

Cuidado com a ira

Eu corri, corri no escuro enquanto escutava os grunhidos e sentia as sombras de Kishan se aproximarem.
- Percebeu a tolice que fez ao me provocar, garota? Eu sou mais poderoso que você, muito mais. Capaz de esmagar seu pequeno crânio sem nem mesmo tocá-la.
Certamente eu acreditava nele. Por isso não parei. Aaron estava sempre mais à frente, continuamos a correr até que o grunhido ficou alto demais e eu podia ver a origem de tanto barulho. Atrás de gigantescas barras de ferro estava um leão gigantesco, gigantesco mesmo, eu devia chegar à metade da altura de uma de suas patas. O que Aaron planejava?
As barras eram tão altas e grossas que eu poderia passar entre elas, como uma formiga atravessa uma tela de metal. Olhei para Aaron, eu estava perdendo o fôlego.
- Continue.
Ele gritou. Olhei para a frente, ele realmente queria me colocar na jaula do leão... gigante! Me atrevi a espiar meu perseguidor. Foi aí que eu fui pega. Meus cabelos foram agarrados e eu fui ao chão. A dor no couro cabeludo só não superou a dor que eu senti quando caí no chão rochoso. Kishan estava em cima de mim, se abaixando com seu sorriso sinistro.
- Achou mesmo que ia escapar de mim? O que planejava indo em direção à Behemoth? Ele não ia ajudar, sabe. - ele agarrou meu rosto, os dedos pressionando com força e certamente marcando meu rosto. - Ele ainda está esperando pela ordem, se fosse até ele só seria esmagada. O que seria uma pena, já que eu pretendo fazer isso.
Ele era mais tagarela do que aparentava. Se eu ao menos soubesse controlar meu outro lado... roubaria esse poder que ele acha tão grandioso, se pudesse o deixaria vazio... ele levantou o olhar.
- Coisinha, você realmente é alguma coisa para Sefran. Seu dono está vindo salvar o brinquedo. - Sef, ele estava vindo! Kishan gargalhou. - Acho que não dessa vez.
Ele se levantou me puxando consigo, ainda segurando meu rosto com força, doía tanto. Fechei minha mão em punho. Daria um soco naquele desgraçado, não podia usar meu inscius ainda, mas o deixaria de olho roxo, por ter me derrubado, por estar me maxucando e por ter falado mal do meu Marco. Ergui o punho, iria dar um soco por baixo. Toda a minha força estava naquele movimento, a outra mão ja o tinha agarrado. Um centímetro mais e... estava feito. Ele não me largou, apertou ainda mais meu rosto e agaerou meu pulso, meu punho ainda no queixo dele, doendo tanto que eu já não sabia do que reclamar. Ele não tinha se movido um milímetro que fosse, abaixou meu braço e eu vi a sombra descer de seu queixo para se juntar às outras.
- Achou que eu seria pego outra vez? Tolice, mas gostei da audácia. - ele aproximou meu rosto do dele - Foi assim que conquistou o cão do Eric?
- Respeito, Kishan, você precisa aprender a ter.
Os olhos negros do meu captor desviaram de mim e foram para meu salvador, a voz de Sef ainda ecoava pelo corredor seguida por um grunhido do leão.
- Ambos sabemos que sou o mais forte aqui.
- Ofereço me para provar o contrário. Gostaria de medir forças?
Sombras brincavam no rosto pálido de Kishan, fúria brilhava em seus olhos negros.
- Não. Eu estava apenas passando e acabei com um incômodo nas minhas mãos.
Ele falava literalmente de mim.
- Esse incômodo não lhe pertence. Devolva.
- Ah! Não dessa vez. Tenho algo interessante, algo para usar contra o senhor perfeito e não vou abrir minhas mãos. Sabe o que Eric fez comigo depois que você saiu para cuidar da fadinha?
- Um trabalho que era seu e eu tive que assumir. Imagino o castigo.
- Ele me colocou na coleira. Aquele maldito me amordaçou e colocou a coleira em mim. Quem é o cão dele é você!
Eu pude ver marcas no pescoço de Kishan, marcas escuras, não um simples vermelhidão.
- Se é tão poderoso, por que não se rebela e sai?
- Você sabe...
- Sua vingança seria mais fácil se estivesse do outro lado.
- Ah! - ele olhou para mim - Creio que não. Estou do lado certo. Estou contra você.
- Não seja mais burro que já é. Agora me devolva ela!
- Vamos ver se consegue pegar de volta.
Sombras nos envolveram e eu não escutei mais Sef. Quando voltou a ficar claro não estávamos no corredor. Kishan me largou e eu caí, minha face dolorida e minha mandíbula cansada. Olhei ao redor.
- Ah! Merda.