Briguentos

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O que ela queria dizer com humanos imundos? Por que não suportava a ideia de ficar no plano humano?

Ainda tentava entender a cena de Tirania se revoltando por estar no mundo humano e exigindo voltar ao segundo plano quando escutei um grito. Lan sumiu e eu corri na direção, o que não foi difícil, o grito agudo se destacava entre os gemidos, resmungos e conversas, inclusive, todos viraram o rosto na direção deles, Alex e Ryan e a Baam.
A garota com traços orientais segurava um braço de Alex, Ryan estava de pé  ao lado da cama em que ela estava, Lan tinha chegado em um suspiro e já questionava qual o problema. Baam olhou para ela assustada.
- Ela... ela não consegue se curar mais...
Observei o braço de Alex e percebi que ele estava mole demais, quebrado. A pele marrom de Alex tinha ficado com grandes manchas escuras, ela tinha perdido todo o ar que a deixava bela e exótica e mais parecia alguém abandonado em uma sarjeta putrida qualquer, o rosto sem vida e as unhas quebradas e sujas, como as roupas.
- Por que?
Perguntei finalmente. Alex engolia o choro, o grito.
- Aquele homem fez algo comigo... eu senti como se ele se... agarrasse à minha alma e depois me senti... vazia.
O que...?
Uma ideia me recorreu. Não  podia ser... mas só podia ser aquilo. Eric tinha roubado Alex e, pelo visto, a deixou vazia, exatamente como um humano sem magia. Alex não era mais portadora.
- Você não pode mais usar seu inscius. Baam, coloque uma tala no braço de Alex e enfaixe ele.
Me virei e afastei, tinha deixado minha mente em um turbilhão, por isso Eric sequestrou e aprisionou a guarda, para ter mais poderes, colocou os inúteis nas masmorras e o restante... A ideia de Sef havia sido perfeita para ele, poderia selecionar apenas os melhores inscius.
Olhei para meu próprio indicador coberto por espinhos negros. Sef tinha um braço inteiro coberto por runas, no pescoço e quase no rosto, Eric também tinha tatuagens, suas espirais cobriam as duas mãos e já avançavam no rosto, devia haver um limite para a quantidade que podia carregar, ele estava selecionando cuidadosamente  como encheria sua caixinha de surpresas, colocaria coisas assustadoras nela. O que eu me perguntava era porque não tinha tomado o poder avassalador de Ryan, ou mesmo o de Kishan, ou o grandioso Lobo de Sef. Havia mais, muito mais que eu ainda não sabia sobre minha espécie e quando vi Sef voltar eu já tinha direção e objetivo, nossos olhos se encontraram e de algum jeito eu sabia que ele entendia que eu queria, precisava falar com ele. Até a mão pesada de Ryan me segurar.
- Você sabe o que aconteceu com ela?
Ele estava exausto no olhar, na postura e expressão, mas sua mão era firme em mim.
- Talvez, preciso ter certeza antes.
- Me diga o que suspeita.
- Ainda não...
- Tirya, não guardamos mais nada um do outro, lembra?
- Sim, mas...
- Não escutou o que ela disse?
A voz de Sef logo atrás  de mim era um pouco ofensiva. Ryan olhou para ele, depois para mim e voltou a ele.
- Não sou surdo. Estou conversando com minha subordinada, externos não devem intervir.
Ryan não usava aquelas palavras, por que eu tinha a impressão de que ele estava provocando Sef?
- Suas hierarquias não funcionam aqui. Deveria ao menos dar mais espaço e conforto a sua salvadora.
Ryan afroxou o aperto em meu braço, mas ainda era firme.
- Não se intrometa onde não é chamado.
- Irei enfiar o nariz onde eu quiser. Ainda mais se meu passarinho estiver envolvido.
- Por que vocês  parecem animais brigando?
Tentei recobrar algum equilíbrio ali. Ryan relaxou o olhar para mim.
- Tirya, precisamos conversar.
- Eu sei...
- Eu e Tirya precisamos conversar antes.
Sef enfatizou o Eu. Ryan voltou a tensionar o rosto cansado.
- Não  já a teve em seu quarto por tempo o suficiente, mão direita do imbecil?
- Como...?
- Não.
Sef interrompeu minha pergunta, mas Ryan respondeu mesmo assim.
- Escutei ele falar sobre uma garota com o desgraçado. Imaginei logo que seria você.
- Por que?
O olhar dele estava triste.
- Não  por bons motivos. Mas... eu não  confio em você - ele já  se dirigia a Sef - Mesmo que a tenha ajudado ainda é o infeliz que nos jogou naquela arena primeiro.
- Tive minhas razões. Agora, solte-a.

×××
Sono... zzzz

Cidade de Magia - Aprisionada por EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora