Acordei com a boca seca e me sentindo suja, eu queria um banho. Percebi que Sebastian não estava mais em meus braços e quando o procurei o encontrei no chão, pobre dele, sendo minha vítima e sendo empurrado da poltrona, o agarrei de novo e limpei qualquer poeira que pudesse ter nele. Eu estava tão feliz, tinha meus tesouros de volta.
- Feliz assim por ter dormido na minha cama?
E foi aí que eu vi a poltrona, longe de mim. Sebastian não tinha sido empurrado de uma poltrona, mas sim de uma cama, grande e fofa. Imediatamente olhei para o lado e fui atingida por alívio, o assassino não estava ali. Me levantei e o vi apoiado na estante de livros, tinha trocado de roupas, agora vestia uma blusa com mangas que cobria as tatuagens, dessa vez usava cinza escuro por completo. Ele abriu um sorriso.
- Imagino que deseje um banho, se quiser é só pedir.
Como se eu fosse pedir alguma coisa para ele, mas aí a fadiga me atingiu lancei meu orgulho para longe e pedi, baixinho.
- Por favor.
Eu pensei que ele fosse se inclinar para frente e dizer que não tinha escutado, mas fui recompensada com um maravilhoso Ok.
- Vou pedir às garotas que cuidem de você.
- Espera, então vão me banhar de novo?
Abracei meu corpo querendo cobrir o que ainda não foi exposto. Ele gargalhou.
- Direi para que preparem o banho, apenas.
Suspirei e senti gratidão por ele. Talvez, apenas talvez, eu pudesse confiar nele.
- Mas hoje quero dormir na cama, a poltrona é pequena demais para alguém do meu tamanho.
- Então eu durmo na poltrona.
Eu nem sabia como tinha ido parar na cama. Ele não respondeu e disse que iria falar com as garotas. Andei em círculos pelo quarto até ele voltar e dizer que elas logo estariam ali. Acenei e me sentei esperando. Ele não parava de me encarar e eu perdi a paciência.
- O que foi?
- Nada.
Ele não desviou o olhar.
- Você está me encarando.
Agora eu só via Sef, o assassino tinha ido passear.
- Não.
- Então o que é isso? Não para de me olhar.
- Estou memorizando os seus detalhes.
Aquilo me pegou desprevinida.
- Pu-por que?
- É apenas algo que eu faço.
Tentei arrumar a postura, coloquei cabelo atrás da orelha e depois tirei, juntei as mãos e selarei até finalmente baterem à porta e as mulheres que tinham me banhado aparecerem. Sef me diz para segui-las com um tom estranho, do assassino. Eu obedeço e logo estou em uma banheira com água quente, depois outro vestido branco me aguardava, igual ao outro em quase tudo, aquele não tinha mangas. Me vesti e banhei sozinha, mas as mulheres me pentearam e emfeitaram com presilhas e um colar simples, aquilo até me acalmou um pouco, podia fingir que eram as correntes.
Quando fui guiada de volta para o quarto Sef não estava lá e demorou muito, tanto que eu comecei a mexer em suas coisas. Eu vi os rabiscos, tinha um jovem envolto por sombras, ele era tão bonito quanto parecia mortal, tinha uma mulher com feições de velha, jovem e criança ao mesmo tempo, tinha um rabisco de um homem com um sorriso cínico, mas com brilho no olhar. Tinha o desenho de alguém em pé, de corpo inteiro, de costas e cabeça baixa, esse, reparei, tinha cabelos compridos e segurava uma lâmina, não era uma arma, parecia a ponta de uma espada quebrada, até podia ver o sangue escorrendo da mão dele. Me afastei da mesa de desenhos depois daquele e fui para a estante de livros. Tinham sido arrumados novamente, com cuidado no mesmo lugar, provavelmente. Peguei um livro de capa azul dessa vez, o título era Feitiços. E era exatamente o que tinha nele, milhares de feitiços com letras dançantes. O folheei até ver uma frase que não dançava, estava escrito na margem: para evitar as dores dela.
Reparei que no outro livro ele tinha mencionado várias vezes uma certa garota. Mantive os olhos na página até que as letras parassem de dançar e vi um feitiço para deixar um lugar frio. Pensei um pouco no que aquilo podia significar então fechei o livro e o pus no lugar. Logo depois Sef estava de volta, suas roupas eram outras, seu rosto tinha uma fina linha de sangue.
- O que aconteceu? Você se feriu?
Quando perguntei o olhar do assassino me atingiu. Aquele samgue não era dele. Abri minha boca como se eu fosse gritar a qualquer instante e me afastei o máximo que pude dele. Assassino, era isso que ele era. Assassino. A palavra tomou minha mente. Assassino.
Assassina. Eu também era. A imagem das criaturas que eu tinha matado, a imagem do unicórnio... tinha sangue nas minhas mãos.
- Tirya?
Quando olhei para ele vi Sef, não tinba mais sangue. Me perguntei se eu tinha alucinado. Talvez. Esperava que sim.
Sef estava perto de mim, o olhar preocupado.
- Estou bem.
Ele sorriu.
- Ótimo.
Ele me olhou de cima a baixo e depois tornou aos meus olhos.
- Sabe, eu sempre gostei mais de você usando calças, mas está ótima assim.
Aquilo foi um elogio?
- Obrigada.
Eu acho. Quase falei. Ele acenou e se afastou deixando um rastro de cheiro para trás, mesmo cheiro que agora estava em mim.×××
Feliz ano novo!
Para comemorar eu publiquei os primeiros capítulos de Orange e de Cinderella e os cavaleiros.
Se quiserem dar uma olhada... ;)
Ah! Eu tenho que dizer. Tem uma música que eu acho perfeita para Tirya e Sef. É Scar de Lucy Rose.
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Cidade de Magia - Aprisionada por Espinhos
FantasyEles foram capturados. Toda a guarda da Cidade dos Contos está presa. Nas mãos de um mal já conhecido, mas não por Tirya. O rei sem coroa finalmente aparece e com ele traz um passado que o liga a ela de uma forma inesperada. Um amigo antigo retorna...