××Sentiram falta?××
Eram a pior coisa que eu tinha colocado na boca. Aqueles morangos eram molengas, amargos e eram uma ilusão total. Eu não sabia se cuspia, engolia ou ficava com eles na boca, todas as opções pareciam péssimas. Eu olhei para todos os lados e em todos eles vi faes e mais faes elegantes e bonitos que me faziam sentir vergonha até da minha cara. Todos bebiam alguma coisa, cheguei a considerar me servir de um pouco daquela bebida rosa, mas lembrei que os fae só perdiam para os anões e alfs no quesito álcool e minha antiga experiência com bebida sobrenatural me rendeu muitas verdades não ditas, então decidi ficar com aquilo na boca, uma hora ia deixar de sentir o gosto.
Meu plano foi por água abaixo, ou garganta abaixo, assim que um fae apareceu na minha frente, o mesmo fae ruivo tinha voltado, com o mesmo sorriso gentil e olhos nostálgicos.
- Nos encontramos novamente.
Engolindo a coisa mais nojenta que tinha colocado em minha boca eu sorri amarelo.
- Sim...
Ele olhou para a mesa ao meu lado e depois para mim, se inclinou e sorrindo e sussurrou.
- Eu não recomendo que coma as frutas, apenas faes acham essas aí gostosas.
Aquilo, eu já havia percebido, ainda com o gosto ruim na boca tentei falar sem fazer careta.
- Vai ter mais uma partida?
- Não com Titania na mesa, ela joga apenas uma vez por dia. - eu olhei ao redor, muitos tinham ficado para essa refeição nojenta. Titania não estava mais à vista, então realmente deve ter partido de volta para seus tecidos finos e ambientes aureados, Sef deve ter ido atrás dela. - Perdoe-me, não me apresentei antes. - o fae falou com tom de reprimento, se curvou, o que me deixou com faces rubras e nervosismo desnecessário. - Meu nome é Adrian.
Eu olhava para os lados, vendo se alguém observava o fae curvando-se para mim. Se todos fossem como ele, não sei se saberia lidar com aquela espécie. Ele se levantou e me encarou, estava esperando por uma resposta. Maika? Ah! Dane-se. Eu ia dizer o meu nome, que diferença faria se eu mentisse?
- Tirya.
Ele sequestrou minha mão e pousou um beijo suave nela, me olhando intensamente, o que me causou calafrios.
- É um prazer, Tirya.
- O-o mesmo.
Falei desconcertaa e gagejando. Ele estava um pouco diferente de quando me explicou o jogo. Observei a bebida em suas mãos, a mesma coisa rosa de todos os outros. Ele estendeu o copo.
- Quer um pouco?
Ele sorriu, mas não era um sorrido de gentileza, parecia algo como divertimento.
- Não, obrigada.
- Imagino que não tenha boas experiências com licor.
Relembrei a minha imagem, me declarando para Adam sem discrepâncias e como aquilo parecia soar verdadeiro. Álcool engana as mentes.
- Tenho que concordar.
Ele gargalhou um pouco, eu tentei rir com ele, mas saiu algo nervoso e esquisito. Onde estava Sef?
- O que acha de ir comer algo com gosto de fresco? Tem uma tenda voltada para atender os visitantes, garanto que vai apreciar.
Ele arquejou as sobrancelhas, enfatizando o convite. O que eu faria? É claro que não iria com ele, não era idiota de me perder de Sef, ainda mais depois do que ele tinha recuperado para mim. Automaticamente busquei pelo medalhão para me confortar.
- Não posso, desculpe.
Ele olhou ao redor, com os olhos de Ryan. Queria que fosse ele ali.
- Está esperando pelo companheiro?
Ele não é meu companheiro. Quase disse. Mas qual era o problema de ele pensar que era? Assim tinha mais chance de me manter ali. Ele voltou a olhar para mim. Aqueles olhos eram estranhos em alguém que não Ryan. Não se encaixavam com perfeição, como nele. Adrian combinaria mais com olhos castanhos ou verdes, provavelmente, ele tinha um rosto agradável, mas bem masculino e marcado, não era excepcionalmente bonito, mas o cabelo complementava o deixand exótico e incomum. Era mais alto que eu tinha imaginado com ele sentado ao meu lado, tinha ombros largos e vestia-se com elegância comuns por ali.
- Sim.
Respondi por fim. Ele suspirou, estava desapontado. O que ele queria comigo, afinal?
- Então, que tal um passeio pelo jardim? Não vamos nos afastar. Imagino que seu companheiro a encontre com facilidade, estando por perto.
Tentei imaginar uma desculpa, mas não tinha nenhuma que me fizesse dispensar ele sem ser grosseira e ele tinha sido gentil e tinha me explicado o jogo quando nem mesmo Sef esta a disposto. Ofereci um sorriso a ele e aceitei seu convite.
- Por que não?
Ele sorriu satisfeito e começou a guiar o caminho, o jardim era bem visível dali e poucos passeavam por lá, Sef me encontraria com facilidade. Agora, não estava arrependida por estar de calças no meio de tantas fadas em saias longas e arrumadas, caminhar de vestido era o cúmulo em uma cidade tão bonita, iria limitar demais minhas passadas.Adrian se empolgou na conversa me deixando com quase o mesmo entusiasmo. Ele me contava dos lugares da cidade, das pessoas e comida. Me contou como fora criada, o que foi reamente interessante. Foi quando descobri que Titania, além de rainha, era uma deusa, a responsável pela criação de uma cidade apenas dos Faes, a cidade mais jovem e por isso a mais avançada, pois tinha levado mais conhecimentos humanos sobre construções que todas as outras. Tinha complexos de abastecimento de água, andares e mais andares, além de um comércio comparável com o da cidade de Magia. Quando o assunto veio a mim, busquei ser o mais vaga possível.
- Não tenho muito o que contar.
Foi o que respondi ao ser questionada sobre de onde vinha. A verdade era que eu sabia como se interessaria pelo mundo humano, Lark tinha deixado claro o quanto muitos dos jovens estavam sedentos pelo mundo ao qual o plano estava preso. E também sabia como ser uma mestiça iria atiçar sua curiosidade, mas também, provavelmente, algum preconceito. Eu ainda aguardava a resposta de Sef, quanto ao que eu era e... Sef. Espera. Sef! Olhei ao redor, onde estava o jardim? Os faes tinham sumido de vista, agora o caminho e árvores nos rondavam. Comecei a tremer e suar. No que eu tinha me metido?
- Imagino que tenha, sim, muito a contar. Tirya.
Ahhhh não. Que não seja o que estou pensando, por favor!
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Cidade de Magia - Aprisionada por Espinhos
FantasyEles foram capturados. Toda a guarda da Cidade dos Contos está presa. Nas mãos de um mal já conhecido, mas não por Tirya. O rei sem coroa finalmente aparece e com ele traz um passado que o liga a ela de uma forma inesperada. Um amigo antigo retorna...