Eu tinha sido enganada, estava quase certa, esperava que ele me tomasse o braço e me arrastasse para um canto escuro onde eu ficaria inconsciente e depois só Deus sabia o que aconteceria.
Tentei rir, como se não tivesse percebido ainda.
- Não tenho mesmo.
Adrian se aproximou, o copo tinha sido deixado para trás na mesa de comidas, agora suas mãos estavam livres. Ele deu um passo e eu dei dois para trás, ele esticou o braço e eu jurava que iria ser bem ali mesmo. Uma mecha de meu cabelo foi colocado atrás de minha orelha e ele puxou o restante para a frente, delicadamente. Eu não sabia se ficava apavorada ou não. Eu era uma inútil bem ali. Sem poder, sem armas, não que achasse que teria alguma chance se tivesse uma, talvez se fosse Tyrfing, mas um reconforto de uma esperança era melhor que o desespero.
- Sei que é indelicado, mas me atiça a curiosidade. O que você é, Tirya?
Engoli em seco em uma mistura de tensão e alívio, ele não me atacaria, ainda não. Com falta de resposta ele prosseguiu, soltando meu cabelo e dando outro passo e eu mais um.
- Você não tem a aparência de um específico, se fosse apostar diria que é alf, mas não tem as orelhas, ou as esconde, e também nenhum alf tem olhos dessa cor. Não é fae, esta claro depois de experimentar a comida. - ele respirou - Não fede como os cães e nem tem os dentes dos sugadores, também não é bruxa, elas nunca deixam a varinha longe, por mais poderosas que sejam. - aquilo era uma quase mentira, Britta nunca carregou uma varinha. - Não deve ser nifilim, muito menos um anjo. Existem tantas outras, mas você não se encaixa em nenhuma. - ele pensou por um breve instante e quando tornou a falar deu outro passo, dessa vez não dei mais um, estava sendo empurrada para a floresta. Aquela eu desconhecia. - Mestiça?
Meu rosto deve ter respondido por mim, por que ele sorriu.
- Não sabe o quão incrível isso é? Sei que muitos têm preconceitos, mas eu, pessoalmente, sempre sonhei em conhecer um. Porque... - ele se inclinou em minha direção sussurrando - eu também sou um.
Definitivamente ele tinha me pego de surpresa. Arquei as sombrancelhas como ele tinha feito antes, mas de surpresa. Ele sorriu mais abertamente e quase não se continha. Se afastou de mim, depois retornou e me segurou pelos ombros.
- Não sabe como estou contente por tê-la conhecido. Assim que a vi soube que era diferente, por isso tive que falar com você.
- Por isso me trouxe aqui?
Um canto afastado e escuro. Ele olhou ao redor.
- Sim, perdão. Disse que ficaria à vista, mas não queria os olheiros nos obseevando enquanto eu tentava confirmar.
Ele pulava de um extremo ao outro com tanta facilidade... ora gentil e acalentador, ora assustador e tenebroso.
- Podemos voltar?
Eu tinha medo do que aconteceria se Sef voltasse e não me visse. Adrian me soltou subitamente me deixando desorientada.
- Claro. Deve estar preocupada com seu companheiro. - Acenei e ele indicou o caminho por onde tínhamos vindo. Começamos a caminhar e eu estava aliviada novamente. - Realmente uma pena.
A voz dele tinha mudado de novo. Olhei para ele e vi olhos frios.
- O que? - ele me encarou.
- Que tenha um companheiro. Não gostaria de me dar uma chance?
Ele sequer me conhecia, então deveria estar falando aquilo só por eu ser mestiça. Me parabenizei mentalmente por ter o feito pensar que Sef era esse companheiro, temia que ele me levasse à força para um altar naquele mesmo instante se não fosse por isso. O olhar que ele me lançava dizia que era exatamente o que faria se o pudesse. Respirei fundo. Graças...
Meu pensamento foi interrompido por um barulho vindo da lateral. Só consegui ver
Adrian ser lançado ao chão e então Sef parado de pé, com o punho ainda erguido. Adrian segurou a mandíbula.
- Não toque nela!
Sef estava furioso. Eu não entendi o que estava acontecendo, mas sabia que precisava acalmá-lo. Toquei seu braço, as tatuagens estavam expostas, a camisa tinha sido rasgada. Haviam pequenos arranhões em seus braços o que deixou minhas mãos manchadas. - Sef...?
Eu o chamei com medo. Ele se virou para mim, olhou meu rosto, depois passou a mão pelos meus braços.
- Você está bem? Eu senti... Você estava com medo e eu vi ele...
Ele ia lançar um olhar de raiva para Adrian, mas segurei seu rosto o mantendo voltado para mim. Aquela proximidade... era tão familiar.
- Estou bem, Sef. Quem está ferido é você. Temos que cuidar disso.
Ele tinha vindo da floresta, deve ter atravessado a parte que invadia o jardim diretamente. Ele fez aquilo por mim. Por mim! Quando estava cumprindo uma missão do mestre dele. Ele se abaixou encostando a testa na minha se acalmando.
- Aham - Adrian pigarreou e Sef praticamente rosnou para ele. - Entendo que não deveria ter tocado nela. Me desculpe. - ele olhou para mim - Você estava com medo de mim?
Como ele podia fazer aquilo quando tinha aqueles olhos?
- Desculpe.
Ele sorriu sem jeito.
- É compreensível, considerando o que eu sou... - ele ficou triste. Cheguei a sentir por ele lembrando de Ryan mais uma vez. Se levantou com um impulso e voltou ao gentil. - Se me permitirem, gostaria de me desculpar formalmente e lhes oferecer o melhor enquanto estão aqui.
Olhei para Sef. Ele claramente não gostava de Adrian.
- Obrigada, mas...
- Vamos aceitar.
Sef me surpreendeu, e ao fae, não, mestiço à nossa frente.
- Tudo bem.
Tudo bem? Sef ainda me segurava quando voltamos ao jardim e eu não sabia se era para não me perder de vista, dar aparências ou manter Adrian o mais longe possível de mim.
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Cidade de Magia - Aprisionada por Espinhos
FantasiEles foram capturados. Toda a guarda da Cidade dos Contos está presa. Nas mãos de um mal já conhecido, mas não por Tirya. O rei sem coroa finalmente aparece e com ele traz um passado que o liga a ela de uma forma inesperada. Um amigo antigo retorna...