Quando uma missão se torna outra

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Sef não demorou para voltar, escutei seus pés batendo com força quando ainda estava longeno corredor.
Eu já tinha folheado todo o livro e parei em uma única página, mas as letras jamais pararam de tremer. Sef bateu a porta com força os olhos brilhando de raiva e os punhos cerrados, os cabelos dele estavam muito assanhados.
- Onde está?
Eu me levantei de sua cadeira e deixei que ele visse o livro sobre sua mesa de desenho, ele se aproximou ainda irritado, ele olhou para a página por dez segundos antes virar e ir para a próxima e depois para outra até chegar a uma página e apontar para as letras dançantes.
- É esse.
- Do que vamos precisar?
Ele ergueu o olhar e o fixou no meu até que fechou os olhos, respirou fundo e depois os abriu de novo.
- Sangue de vampiro e uma pena de strzygi, também de folha de hortênsia e...
- Espera, hortêsia é venenosa.
- Não vai ser muito, então não se preocupe. E dente de bauk.
- Bauk?
- Já viu um?
Me lembrei da criatura de sombras e olhos vermelhos.
- Sim.
- Bom, ver um não é difícil, mas capturar... Isso vai ser o mais complicado, e ainda tem a pena da strzygi.
- O que é isso?
Ele fechou o livro. Aaron pulou da cama e respondeu.
- Uma criatura que você não gsotaria de ver. São feias e péssimas mensageiras.
- O que elas têm?
- São presságios de morte.
Bom, então eu não queria ver uma. Olhei para Sef.
- Não tem outro jeito?
- Talvez queira pedir para Harvey tirar o feitiço, ela certamente irá preparar uma poção e...
- Ela não tem esses materiais?
- Há uma possibilidade, mas eu nunca saberia qual é entre os milhares que ela tem.
Eu queria chorar. Aquilo ia levar muito tempo. Sef pôs uma mão sobre minha cabeça e aproximou a testa da minha, foi tão familiar, me senti em casa, em casa mesmo, como se minha mãe estivesse atrás da porta.
- Vou dar um jeito em tudo.
Fechei meus olhos e aproveitei o sentimento até me sentir em paz, os abri e encarei os dele.
- Como eu posso ajudar?
Ele deu dois tapinhas na minha cabeça e se afastou com um sorriso.
- Como o sangue e a folha não serão problema vamos deixá-los por último, a strzygi... podemos cuidar dela amanhã, mas ainda hoje vamos atrás do bauk.
- Vamos?
Ele ergueu uma sombrancelha.
- Quer que eu vá sozinho?
- Mas o que eu vou fazer?
- Você vai atrair a besta. Saímos com o por do sol.

Ele tinha me dado outra roupa, calças, botas e uma blusa com mangas compridas que não limitava meus movimentos, tudo preto, como as dele, estávamos ao ponto de sair quando o quarto foi invadido. Sef me jogou na cama e vi Aaron pular no guarda roupas, me enrolei nos lençóis e finji dormir.
- Onde estava indo?
Eu já tinha escutado aquela voz.
- A lugar algum, senhor. Algum problema?
- Algum? Vários. Aquela bruxa se recusa a ir aos contos, Kishan sumiu, o idiota do animal voltou a tagarelar, Ada não fala comigo e a energia está se estabilizando. Preciso que pegue outro.
- Quem?
- Titania está ficando desconfiada, pegue ela. Mas não leve mais de quatro dias.
- Sim, senhor.
Houve uma pausa e então ele voltou a falar.
- Harvey disse para ter cuidado com você. Sefran, eu preciso fazer isso? Preciso tratá-lo como aos demais?
- Não, senhor.
- Eu quero que seja feliz, Sefran. O tenho como meu e desejo o melhor. O que quiser te darei, mas não me traia. Nunca.
- É claro...
- Vá o quanto antes.
As portas fecharam e eu me sentei. Sef começou a andar de um lado para outro, parou e olhou para mim, então passou a mão pelo cabelo.
- Sef?
Ele olhou intensamente para o chão, me levantei e entrei na sua frente, ele me fitou.
- O que foi?
Ele sorriu de lado.
- Eu vou trair a pessoa que mais acreditou em mim... - ele falou tão baixo que não deveria querer realmente que eu escutasse aquilo. - Você vai comigo.
Ele falou mais alto e pegou minha mão. Aquele senhor, percebi, não era apenas um carcereiro, mas também alguém importante para o único que podia ajudar meus companheiros a sair dali e para fazer isso ele teria que se tornar um traidor. Apertei a mão de Sef e tentei entender por que ele estava fazendo aquilo, tentei de verdade pela primeira vez. Quando olhei para ele eu vi sofrimento, dúvida e tristeza. Eu queria tirar tudo aquilo dele.
- Estou com você.
Aquelas palavras eu disse não somente para dizer que eu iria com ele, mas que pretendia ajudá-lo, que eu iria apoiar ele.
Minha mão foi apertada de volta.
Sef tirou uma chave do bolso, ela lembrava muito a minha, e a colocou na fechadura, girou e quando abriu a porta o que estava a frente não era um corredor, mas uma rua com luz e pessoas. Ele tirou a chave da porta e sussurrou para mim.
- Tenho um presente para você.

×××
Sem rodapé hoje. Já está tarde.
Escrevi antes que a semana comece e eu fique atolada de sono. Aumentei um pouquinho o capítulo pq eu sinto que tenho sido um pouco malvada, vou tentar manter esse ritmo crescente.
Ah! E a história vai acelerar um pouquinho, antes ia ser bem mais lenta, mas já estamos a 20 caps da metade do livro e pouquissimo aconteceu.

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