Eu estava de braços cruzados, olhando para Sef do lado oposto da mesa, ele arqueou uma sobrancelha para mim e voltou a prestar atenção em Titania e sua conversa com o filho mais jovem. Ela tinha sete filhos, todos mestiços. Os cinco mais velhos haviam escolhido viver com os pais. Eu começava a achar que eram bem espertos, Titania parecia difícil de lidar.
O que eu poderia fazer durante aquela vigília? Ajudar? Eu não sabia como. Suspirei e comecei a girar o anel de Adam.
Quanto tempo mais até eu recuperar o inscius? Até fugir com o restante da Guarda. Até voltar para o acomchego de Britta. Até voltar para casa, com minha mãe. Até poder descansar....
Talvez eu não devesse esperar tanto. Talvez eu realmente não quisesse voltar para casa, mas se não éramos bem vindas ali...
Deixei o ar inflar meus pulmões e sair devagar.
- O que é isso?
Voltei à realidade com a pergunta de Adrian, parei de girar o anel e me endireitei na cadeira, era exatamente para o metal em minha mão que ele estava olhando. O escondi instintivamente.
- Nada.
Adrian fixou os olhos nos meus.
- Parece ter algum significado, sim. - ele olhou rapidamente para Sef, o lobo ainda observava a mãe da sala que o ignorava completamente. - Foi um presente dele?
- Não.
A tensão em Adrian se tornou perceptível assim que ele se livrou dela. Eu respondi muito rápido. Realmente não era um presente de Sefran, ele não tinha me dado aquilo, foi Adam. Mas ainda assim tinha se tornado algo que me ligava a ele, como os cordões e todos os tesouros que ele me devolveu. Eram as provas das atitudes dele.
- Então, posso ver?
Eu não ia tirar aquilo do meu dedo nunca mais. Nunquinha mesmo. Então mostrei minha mão para ele. Me arrependi quando Adrian segurou minha mão e a levou para perto dele para olhar o anel.
- Como conseguiu isso?
Dei de ombros. Se tinha dito que era nada não ia contar a minha história de despedida de Adam. Era pessoal demais, assim como a de Shun. Ele girou minha mão e olhou o outro lado do anel.
- Isso é o símbolo da família Furler, os prateados mais puros...
Eu quase perguntei como ele podia saber, mas lembrei que a família de Adam era, na verdade, famosa.
- Você é meio... lican?
Escutei uma batida na mesa. Olhei na direção de Titania e vi que ela tinha quebrado um copo na mesa.
- Você é mestiça?
Eu não sabia se ela estava assustada, surpresa ou com raiva. Acenei timidamente e vi a rainha das fadas se transformar. Ela abriu a boca no que deveria demonstrar satisfação.
- Quais são suas espécies?
Ela claramente tinha se empolgado. Abri a boca para dizer que não sabia. Minha resposta do outro lado da mesa se recusava a vir até mim mesmo estando tão próxima.
- Não! Não diga. Vamos jogar. - ela tinha claros probelmas com jogos, viciada em apostas eu diria. - Se eu adivinhar fará o que eu quiser e se eu falhar farei o que quiser.
Olhei para Sef, mas me vi desamparada, ele estava absorto pela própria mente.
- Esta bem...
O que ela poderia pedir de uma garota que tinha apenas a si mesma?
Titania se levantou da mesa e andou até minha cadeira, sua presença era tão forte que sequer precisava vê-la para saber que estava atrás de mim, com as mãos nas laterais do encosto da cadeira grande demais e respirando profundamente. Calma.
- Alf e... - ela já tinha errado, respirei fundo. - lican.
- Não.
A voz de Sef ecoou na grande sala de jantar, quase pude dizer que o vidro que constituia as paredes e teto oscilaram e que as chamas tremeluziram. Eu tinha me acostumado tanto com os globos de luz que não esperava encontrar tochas como fontes de luz fora do enclaustro do castelo. Ali, com tochas e velas o jantar tinha um ar sombrio.
Titania saiu de tras de mim e voltou à sua cadeira suspirando com a derrota, deve ter dito lican por causa do anel.
- Pode pedir o que quiser.
Abri a boca, mas não entoei o que estava pensando, qual a relação dela com o homem morto. Olhei para Sef. O homem que ele matou. Era estranho e difícil de aceitar que aquele que me protegia era um assassino, como eu o chamava antes, mas eu tiha visto. Bem, não exatamente, mas eu vi e ele nunca negou quando o chamei daquele jeito.
- Pense com calma, eu tenho a eternidade e você toda a sua vida para escolher.
Ela tinha mesmo a eternidade? Como alguem podia ter isso?
Permaneci quieta e após o jantar me juntei a Sef no retorno ao quarto, Adrian nos acompanhou e na despedida ele sussurrou em meu ouvido.
- Me encontre embaixo, na entrada, meia noite.×××
Inspiração voltou, agora vai!
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Cidade de Magia - Aprisionada por Espinhos
FantasyEles foram capturados. Toda a guarda da Cidade dos Contos está presa. Nas mãos de um mal já conhecido, mas não por Tirya. O rei sem coroa finalmente aparece e com ele traz um passado que o liga a ela de uma forma inesperada. Um amigo antigo retorna...