Na última noite já tinha as duas pedras bem amoladas e esperava a passagem dos vampiros. Eles demoraram, meus olhos teimavam em se fechar.
Lan estava derretendo e eu sabia daquilo por ela não parar de reclamar do calor em sua mente. E eu sentindo frio. Olhava para minhas mãos apenas para confirmar se realmente tinha voltado ao normal e tentava puxar as linhas direto, mas elas permaneciam sólidas como rocha.
Quando os passos ecoaram me agarrei às barras já com as pedras em mãos. Eles estavam próximos, quase podia vê-los, quando escutei o som da pedra de Lan se colidindo contra mais pedra.
Errei.
O pensamento dela tomou minha mente. Eles continuaram e eu soube que se errasse já era. Atirei minha primeira pedra quanfo estavam bem na minha frente, mas ela acertou algo de metal na lateral de um deles. Me apressei em mirar a segunda, mirando mais acima, ela passou direto acima do ombro de um deles. Era minha última chance, peguei a segunda pedra amolada, a extra e a joguei com tudo que pude contra a cabeça de um deles, fechei meus olhos por dois segundos rezando para ter acertado, quando escutei o baque no chão abri um olho e vi um deles se virar segurando a nuca, ódio no olhar. Sorri por um milésimo de segundo até ver ele bem na minha frente, puxando a gola de meu uniforme sujo, meu rosto a milimetros do ferro e o dele também. Raiva. Muita raiva. Me deixei ficar apavorada até ele falar.
- Vai ver o que vou fazer com você sua vadia.
Agarrei o uniforme dele com uma das mãos e coloquei a ponta da pedra abaixo de sua mandíbula, na parte macia de pele, deixei ele sentir a ponta e uma linha de sangue escorrer. Tornei meu olhar ameaçador e sorri para ele.
- Quem é vadia?
Ele permaneceu calado, cauteloso, soltou meu uniforme e exibiu as mãos. Os outros dois voltaram, apertei meu punho e a pedra um pouco mais nele, mais sangue escorreu. Eu tinha feito um belo trabalho com aquela pedra.
- Abra.
Ele abaixou uma das mãos e acompanhei o movimento com os olhos, quando vi que estava indo abaixo demais fiz força contra sua pele e ele gemeu.
- Vamos lá, não quer perder sangue hoje, não é?
Ele pegou as chaves. Escolheu uma com o canto do olho e a levou a fechadura tremendo quando ele deu uma inapirada profunda com a boca aberta e fechou os olhos. Ficou pesado demais e deixei que caísse no chão para ver a estaca de madeira em suas costas. Ergui o olhar e vi o assassino. Ele não olhava para mim, mas para os outros.
- Por que não o mataram logo? Ao invés de me fazer descer até esse esgoto.
- Desculpe, senhor.
Ele estendeu uma estaca na direção dos dois e os vi tremer.
- Não vai se repetir.
Antes que eles prestassem atenção em mim peguei as chaves e por pouco o assassino não me viu com elas. Seu olhar se voltou para mim e eu o reconheci naquela luz crepitante. Era o assassino na floresta e o homem bonito na festa. Dei um passo para trás. Ele se aproximou das barras, estreitando o olhar para mim.
- Você queria sair, então... - ele olhou para os homens - abram a porta.
Eu os vi hesitar e a mesma surpresa que se estampava em seus rostos estava no meu.
- Mas... senhor ela...
- É um dos descartados. Não fará diferença se eu quiser me divertir com ela. Agora, abram!
Um deles pegou um molho de chaves na cintura e colocou uma na fechadura.
- Não!
Eu reclamei. Não queria ser levada por ele, para onde quer que fosse. Ele era um assassino.
O vampiro parou e o assassino se aproximou chutando o vampiro no chão. Escutei Lan em minha cabeça questionando o que estava acontecendo. Dei outro passo para as sombras de minha cela.
- Não? Pensei que quisesse sair. Estava fazendo uma gentileza, não vê?
- Não! Você... Você é um assassino!
Ele sorriu de lado.
- Sou. E muito mais.
Torturador, retalhador... todos os tipos de atrocidades estavam escritas em seus olhos.
- Abra.
Ele ordenou mais uma vez e o vampiro abriu. Agora não havia nada entre mim e o assassino além de ar que ele percorreu em milésimos. Agarrou meu braço e me puxou para fora.
Esperneei e chutei e gritei, bati e até ameacei morder, mas ele me imobilizou e aproximou a boca de minha orelha. Um calafrio percorreu toda minha estrutura.
- Vamos brincar.
Não era uma ameaça, mas senti que era.
Tudo que ainda fiz foi lançar um olhar para Lan enquanto passava por sua cela.
Eu vou voltar. Vou nos tirar daqui.
Esperava que ela tivesse recebido meu pensamento.
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Amanhã não tem pessoal
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Cidade de Magia - Aprisionada por Espinhos
FantasyEles foram capturados. Toda a guarda da Cidade dos Contos está presa. Nas mãos de um mal já conhecido, mas não por Tirya. O rei sem coroa finalmente aparece e com ele traz um passado que o liga a ela de uma forma inesperada. Um amigo antigo retorna...