Talvez esperanças

1.7K 275 6
                                    

O sorriso fraco dele não era nem de longe verdadeiro.

- O cão voltou?

Sef ficou calado por um instante. Eu ainda tentava absorver aquilo, aquele rosto.
- E o dragão o comeu.
Com um esforço admirável ele se levantou, forçando um joelho que tremia. O tronco coberto por cicatrizes estava magro. Quando se pôs de pé, ainda que encurvado, era mais alto que Sef.
- Finalmente vai me tirar daqui?
Ele olhou de Sef para mim. Como ele não podia dizer uma palavra ao olhar para mim? Como ele não podia sequer dar um indício de que as ideias e esperanças que brotavam a cada segundo que eu permanecia o olhando eram reais?
- Dessa vez, é para valer.
Ele estendeu os pulsos para a frente, as correntes deslizaram nos anéis firmados na rocha, e bateu os grilhões.
- Acreditarei quando me ver livre desses aqui.
Sef foi até ele com o molho de chaves e começou a soltá-lo. Eu dei um passo em sua direção. Meu rosto coberto de cicatrizes se virou para mim.
- Por que a garota parece assustada?
Sef olhou de soslaio para mim. A garota, ele estava me destruindo com aquela falta de reconhecimento.
- Ela sabe quem você é.
Aquilo era uma mensagem? Sim, só podia ser.
- Mesmo?
A voz dele era muito falhada e soava áspera, arranhando meus sentimentos.
- Você conversou bastante com ela e a companheira, sobre fugas.
Ele riu.
- Estava escutando, então?
- Escuto tudo.
- Ei, garota. Parabéns, vejo que conseguiu e ainda ganhou um cão. Obrigada por ter voltado.
Não. Aquilo estava errado. Eu não tinha voltado por ele. Tinha o esquecido completamente, só me importava com a guarda. Estava ficando ainda mais destruída.
- Diga-me, quantos anos já fazem?
- Quase dezoito.
O que?
Os grilhões caíram e tintilaram. Ele apertou os pulsos, mesmo em sua palidez a pele era ainda mais branca onde o ferro o prendera. Ele inspirou profundamente e andou, parando no corredor e se virando para nós.
- Por dezoito anos sonhei com o dia que atravessaria essa porta. Agora que chegou... Não parece tão glorioso quanto imaginei.
- Tal - tentei falar algo a ele - Talvez quando estiver fora do castelo.
Ele meneou a cabeça.
- Talvez.

No andar superior estavam todos os resgatados recebendo comidas que a guarda tinha encontrado, um salão se abria com duas grandes portas e pude ver de onde vinham as frutas e carnes, a mesa estava lotada. Tinham tantas pessoas ali, não imaginei que conforme ia abrindo aquelas celas a quantidade de pessoas fosse tão grande. Desaparecimentos... aquilo me levava a pensar em um certo zoológico e um incubu falando sobre um rei sem coroa. Então ele falava de Eric. De fato, rei sem coroa parecia encaixar perfeitamente nele, sentado naquele trono e sendo um tirano.
Lan apareceu na minha frente e fui abraçada por ela novamente.
- Obrigada, você nos salvou.
A abracei de volta, era um conforto muito grande estar nos braços de alguém com quem eu sabia que podia contar.
- Sef nos salvou.
Era a verdade. Se não fosse por ele, nada daquilo seria possível. Mas ainda teríamos uma conversa sobre as recomendações dele para o ex mestre.
- Como estão todos?
- A maioria inteiros.
Nos afastamos.
- E quanto aos que estavam presos.
Ela ficou levemente pensativa.
- Escutei tudo sobre eles. Todos que não são da guarda são de contos. Humanos confusos que acham que seus reinos foram tomados.
- Me pergunto por que...
- Nosso salvador deve saber.
A voz de Aaron fez com que eu e Lan olhássemos para Sef. Ele sequer respirou antes de responder.
- Só digo quando sairmos desse lugar.
Coloquei as mãos sobre a cintura, finalmente ia fazer aquela pergunta.
- E em onde esse lugar fica?
Ele olhou para além de nós.
- Mundo humano.
- O que?
Titania pulou entre nós.

×××
Ia escrever antes e mais, mas acabei viciada em um manhwa e depois em outro e acabei não escrevendo antes. Hoje não li ainda, mas me atualizei com dois mangas. Estou satisfeita. Hora de dormir.

Cidade de Magia - Aprisionada por EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora