Mais uma vez eu estava sendo levada pelo corredor, mais uma vez sendo arrastada como um animal teimoso, mais uma vez eu lutei até conseguir me desvencilhar dele. Eu sabia que não adiantava correr, bastava uma olhada nele que se tornava perceptível seu porte atlético. Ele parou de andar quando me livrei de seu aperto, se virou para mim e me olhou de cima a baixo. Eu olhava para ele de baixo, mas sustentava seu olhar.
- Quem é você?
Ele sorriu brevemente.
- Acho que não me apresentei naquele festa. Não disseram meu nome? Pensei que a essa altura já soubesse.
- Não.
Mantive meu queixo erguido e a postura correta. Ele moveu os pés ficando de frente para mim.
- Pode me chamar do que quiser, passarinho.
Esconder minha reação ao apelido que minha mãe tinha me dado foi impossível. Tentei me recompor o mais rápido possível.
- Então, assassino canalha, o que quer comigo?
Ele sorriu de lado mais uma vez e eu me irritei muito com aquilo, ele não estava me levando a sério.
- Assassino? Canalha? Bom, a culpa foi minha de qualquer forma, mas é muita ousadia me chamar assim em seu território inimigo.
- Não é ousadia, é verdade.
- Certo. Sabe, eu sou muito paciente e aprecio a coragem mais que muitos aqui, então acho que sou o único que não teria lhe cortado a garganta a essa altura. Um conselho que se for esperta vai seguir, não seja assim com mais ninguém.
- Então é o assassino canalha generoso e paciente?
Falei com ironia, ele agarrou meu braço mais uma vez.
- Pode-se dizer que sim. Agora, nós vamos andando.
Me desvencilhei dele mais uma vez, ele olhou para mim de cima a baixo mais uma vez.
- Posso andar sozinha.
- Não vai fugir se eu a deixar solta?
- De que serviria? Se me alcançou tão rápido antes, correr de você seria como correr de um leopardo.
Ele riu baixo.
- Deveras. Sou um caçador nato, nenhuma presa me escapa.
Refleti um pouco e falei mais para mim mesma que para respondê-lo.
- É isso que sou? Uma presa fugindo de um caçador que não perde.
- Você já escutou sobre Lealaps e a raposa Teumessiana?
- Não.
Ergui meu olhar para ele e vi algo escapar dali, um olhar rígido tomou lugar.
- Então sua cidade deve ter péssimos professores.
- Na verdade...
- Não importa. Agora, me siga, a não ser que prefira se juntar aos meus amigos apreciadores de sangue durante o jantar.
Jantar. Então ainda era noite, ou seria já? Ele andou pelo longo corredor mais uma vez e quando abriu uma porta outro longo corredor se abriu e eu entendi porque não tinha visto mais nenhum além do que estava, ele indicou para que eu entrasse primeiro, olhei uma última vez para o corredor mais claro, calculei quais seriam minhas chances de escapar se trancasse o assassino no novo corredor. Pequenas. Então entrei na luz fraca e andei pelo túnel de pedras com um assassino atrás de mim.
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Cidade de Magia - Aprisionada por Espinhos
FantasyEles foram capturados. Toda a guarda da Cidade dos Contos está presa. Nas mãos de um mal já conhecido, mas não por Tirya. O rei sem coroa finalmente aparece e com ele traz um passado que o liga a ela de uma forma inesperada. Um amigo antigo retorna...