Som estranho

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O prego estava escondido na faixa do vestido e eu de volta à poltrona, esperava que aquele prego não fizesse falta e eu caísse. Agora eu tinha que ser paciente e descobrir os hábitos dele e então explorar o lugar, fazer um mapa e quando terminasse iria encontrar todo mundo. Tentei puxar as linhas novamente, fazia aquilo com frequência, mas nada mudava.
A porta se abriu e o assassino entrou no quarto com raiva no olhar, os cabelos longos estavam soltos e assanhados, como se ele tivesse passado a mão neles diversas vezes. Quando ele olhou para mim vi ainda mais raiva e me encolhi. Talvez fosse precisar daquele prego mais cedo que tinha pensado. Ele andou até mim pisando com força e quando estava na minha frente agarrou meu rosto com uma única mão, apertando, mas não ao ponto de doer, então me fez olhar para ele.
- Você não me deu outra escolha.
O que era aquilo? O que estava acontecendo?
Ele aproximou o rosto e me beijou com força. Eu sentia raiva naquilo e sentia raiva daquilo. O empurrei com força, mas ele não se moveu um centímetro, o bati e até chutei, mas ele era uma rocha. Até que ele me soltou e eu escapei de seu alcance corri para o lado oposto, a porta estava longe demais e ele estava bem na frente. A estante de livros estava bem atrás de mim. Ele andou devagar na minha direção.
- Não posso fazer nada. Eu pretendia ir um pouco mais devagar, mas você me obrigou a isso e agora veja no que está dando. Rejeição. Sabe que não gosto das coisas assim.
Peguei um dos livros e o lancei contra ele, acertei seu peito, ele continuou andando. Peguei outro livro e lancei contra ele, quase acertando a cabeça. Não parei até ele estar bem na minha frente e eu procurar o prego com mãos trêmulas. O som metálico preencheu minha mente enquanto o prego tintilava no chão. O assassino olhou de relance para o chão. Meus olhos presos ao rosto dele. Estava assustador, aquela voz, o tom que usou, sua expressão. Tudo era pura trevas. Eu não ousei repirar ou me mover. Correr não serviria, eu sabia. Eu o tinha agredido com tudo de mim segundos antes e ele não se moveu um centímetro sequer. Ele se inclinou para a frente.
- Vai me dar privacidade ou não?
Eu pisquei.
- O-o quê?
Eu consegui pronunciar com o restante de ar que havia em meus pulmões. Então um som estranho dominou o quarto. Ele estava rindo, gargalhando tanto que até poderia ser contagiante se não fosse pelo pavor que corria em meu sangue.

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