Celas abertas (parte II)

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Encontrei Sef com uma pancada.

Nosso encontrão não foi bonito, ao menos para mim que caí para trás, meu traseiro era um monte de dor e agonia, já ele deu um passo para trás, restabelecendo o equilíbrio.
- Tirya!
Eu reclamei por um segundo antes de começar a falar, ainda no chão.
- Onde estão as chaves? Você tem mais, certo? Preciso delas. Alex está presa! E nenhuma chave abriu e...
- Tirya, calma. Tenho outras chaves, mas existem celas sem.
- O que?
Ele estendeu uma mão.
- Você olhou a porta direito?
Eu respirei, estendendo minha mão devagar para ele.
- Acho que não...
Ele agarrou minha mão e tentou me tranquilizar com um sorriso.
- Vamos voltar lá, verificar isso direito.
Acenei quando ele me deu um puxão e eu estava de pé. Ele foi na frente, não soltou minha mão, mas com o ritmo que seguia eu estava quase sendo arrastada.

- É aqui?
Ele perguntou indicando o corredor. Confirmei e ele voltou a me puxar. Ryan e Aaron continuavam ali, eles se viraram em nossa direção, sérios.
- Descobrimos ferrolhos, - começou o deus - mas ainda não consegui abrir a porta.
Sef foi até a porta e pegou um molho de chaves, a cada chave que ele colocava na fechadura meu coração apertava, mas nenhuma girava, até  que ele chegou na última e olhou para nós, para mim.
- Não abre.
- E... e agora?
Eu estava tremendo, ele deu de ombros e eu fiquei irritada até ele falar.
- Arrombamos.
- Isso é  ferro, rapaz.
Aaron falou exatamente aquilo que eu estava pensando. Sef sorriu.
- Tirya, quero que congele a porta, eu vou derrubar. - Ele levantou a janelinha. - Escutou? Vamos derrubar isso aqui, então sugiro que se proteja.
- Não  vai funcionar, o ferro não vai congelar com magia.
Aaron miou. Sef olhou para ele e finalmente explicou.
- O ferro não bloqueia a nossa magia.
Ele voltou a olhar para mim ao falar nossa.
Ele acenou e eu também. Me concentrei na porta e como queria que ela esfriasse, mas não funcionou, ela continuava intacta. Olhei desesperada para Sef.
- Não funciona...
Ele gargalhou, Ryan fez uma careta para ele.
- Esqueci disso. Tente derreter as dobradiças.
Entendi o porquê de não ter funcionado. Segui até a porta e toquei uma dobradiça. Senti a presença do homem ao esquentar ali, até que o ferro fosse líquido, fiz o mesmo com a outra. A porta ainda estava de pé. Sef arqueou os ombros e, do lado oposto do corredor, correu até colidir com a porta se tornando sombra escura no caminho. A porta colidiu com rocha e o lobo do lado de dentro da cela desaparecia e se tornave homem, corri para a abertura a tempo de ver Sef ajudar Alex a se levantar e a entregar a Ryan que o agradeceu com uma troca de olhar significativa. Aquilo me fez apreciar Ryan ainda mais, mesmo que Alex ou qualquer outro da guarda o tratassem como inexistente ou alguém que deviam manter-se distantes, ele ainda se importava e cuidava deles. Sef devolveu o olhar e nós seguimos atrás deles, nas escadas começamos a subir, mas Sef me chamou.
- Ainda falta uma cela.
Me virei para ele, Ryan continuou escada acima.
- Mas Aaron disse que essa era a última.
Ele olhou para trás, para baixo.
- Há mais alguém.

O segui e no final eu reconheci o corredor em que tinha ficado presa, haviam manchas de sangue perto de uma cela ainda aberta e eu percebi quem faltava. O dono da voz no final do corredor. Quando chegamos lá  vi que aquela porta era diferente, não tinha nem mesmo uma abertura e parecia mais pesada e espessa. Haviam diversos ferrolhos e duas fechaduras. Quem estava ali dentro? Um ar frio saia pela fenda em baixo da porta, ele devia ter gritado muito alto para que o ouvissemos. Sef tirou outro anel de chaves, nesse haviam apenas dois. Enquanto eu trabalhava nos ferrolhos ele as girou. E quando a porta foi empurrada para dentro, uma lufada de ar frio e com um cheiro terrível me atingiu, dentro era possivel ver gelo nas paredes, onde haviam grilhões que prendiam um homem sentado ao chão encostado na parede, ele estava de cabeça baixa, como se dormisse, tinha cabelos loiros quase brancos que estavam longos demais, se não fosse pelo peitoral exposto, coberto por cicatrizes, teria o confundido com uma mulher, mesmo com seu tamanho. Ele ergueu a cabeça quando a porta reclamou ser aberta e o espanto me atingiu. Aquele rosto... mesmo coberto de cicatrizes finas, aqueles olhos, de uma cor tão rara, eram violetas. Tudo tão parecido comigo.

Cidade de Magia - Aprisionada por EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora