Draconiana

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Ascender foi fácil, controlar... bom aí era outra história.

As chamas se espalharam rapidamente e logo as duas árvores queimavam como combustível. Empregados surgiram e voltaram carregando baldes de água. Quando fumaça era o único indício do que eu fizera ali Titania ainda olhava para mim de boca aberta. Eu não tirei meu olhar do dela. Queria que soubesse que eu não seria mais tão facilmente morta, que ela tremesse e se arrependesse do que tentou fazer a mim e Sef. Que ela controlasse aquelas mãos e boca.
Levei um susto ao ser tocada por Sef, não perdi tempo e o abracei. Agora ele não ficaria mais nas mãos daquela...
- O que foi isso?
Titania se aproximou e eu olhei para ela, ainda irritada.
- Você pediu uma prova. Licantropos não invocam fogo.
- Mas... - ela olhou atordoada para mim - alfs podem...
- Não sou alf.
- Prove! Me diga, o que você é e eu ajudo. Ajudo no que quiser. Mas me diga...
- Ela é draconiana.
- O que?
Olhei para Sef, também surpresa. Era aquilo que eu era? Mas... eu não tinha lido sobre draconianos.
Titania deu um passo para trás.
- Não é possível...
Draconiana... soava um pouco estranho. Olhei para Sef. Aquilo não era tudo, quando ele me olhou de volta eu confirmei. Havia algo mais. Talvez ele tivesse mentido. Só saberia quando estivéssemos a sós, até lá, paciência. Eu finalmente saberia.
- Estão extintos... eles... - ela parou de falar consigo e olhou para mim como se me visse pela primeira vez - ... como...?
Dei de ombros. Não era como se eu soubesse daquilo a mais tempo que ela. Talvez nem soubesse mesmo ainda.
- Agora cumpra com sua palavra, Titania.
Sef soou incisivo. Ela negou para si e mudou o olhar.
- Tudo bem. Me explique o que aconteceu e eu vejo o que posso fazer. Depois quero que respondam minhas perguntas, estou especialmente interessada em você agora, menina.


Contar tudo para ela foi cansativo, mas quanto ao que ela precisava fazer... Sef já tinha armado tudo em sua mente. Depois que ele assumiu a comversa com suas instruções e planos eu deixei de escutar um pouco, me distraí com ele. Os cabelos longos tinham sido cortados e agora ele estava tão diferente...
- Como descobriu!?
Olhei para Titania e vi qie ela ja tinha me perguntado antes. Sef notou meu nervosismo e embaraço, claro. Tinha sido pega olhando indiscretamente para ele.
- Quando ela tinha seis anos.
Como?
- Por isso tanto poder?
- Sempre foi assim.
Como?
- Tudo bem. E quanto... à forma completa?
- Completa?
Deixei escapar. Titania voltou a me dar atenção e logo eu estava arrependida de minha boca grande.
- Claro! Os draconianos que conheci, há muito tempo, podiam se transformar completamente...
- Em dragões?
Completei, minha atenção sendo mais atraída a aquela espécie. Eu tinha me inclinado na direção dela, sedenta por saber.
- Sim! Suas peles se cobriam de escamas mais fortes e resistentes que qualquer armadura e seus corpos transfiguravam por inteiro como os licantropos. Era um verdadeiro espetáculo. Imagino que... por sua dúvida, não seja capaz. Ao menos não ainda.
Escamas... me lembrei de meu momento de ira contra a bruxa, quando peguei as duas espadas e não tive medo, quando eu escavei a neve com garras. E se eu fosse mesmo aquilo?
- Não...
Falei voltando à posição de antes, pensativa.
- Uma pena. Os draconianos são uma das criaturas mais belas que já existiram. Com beleza, força, poder e inteligência. Tinham tudo para governar ao lado dos deuses, alguns fizeram isso, de fato, mas muitos permaneceram quietos. O oriente humano os admirava particularmente...

Dragões. Fogo. Frio. O que eu era? Foi exatamente o que perguntei a Sef quando estávamos a sós, não na casa da deusa, mas na pousada alguns andares acima do solo e a alguns passos do céu claro. A noite tinha passado e agora um grande globo de luz iluminava o céu, tudo tão artificial...
Sef se virou para mim, ele tinha ido direto para o castelo quando chegamos e voltou com roupas de couro novas e facas, agora ele tinha o próprio punhal. Nossos olhos se encontraram.
- Existem coisas sobre mim que ainda não contei, passarinho. Coisas que eu esperava que se lembrasse, mas imagino que seja pedir demais. Também existem coisas que precisavam esperar, que eu precisava lhe mostrar. Você está pronta para isso? Você acredita em mim?
Percorri o espaço que nos separava e agarrei a gola de sua blusa o puxando para baixo, sem forçar demais, não queria machucá-lo, mas queria mostrar que eu era forte e capaz, que agora nada mais me pararia, que eu não iria tremer de medo.
- Eu estou pronta, Sefran.
Ele sorriu. Um sorriso delicioso e verdadeiro.
- Vamos lá, então.

Cidade de Magia - Aprisionada por EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora