- Não foi a primeira vez que nos vimos.
Não?
...
Eu olhei para os olhos dele, mais uma vez, mas desta eu tentava me lembrar de algo, algo mais além de um lobo no jardim de Britta.
- Tirya...
Ele sorriu de leve, foi diferente, reparei pela primeira vez em como os olhos dele sorriam por ele, em como o canto da boca dele formava uma marquinha e que ele tinha uma leve covinha. Ele colocou uma mecha de cabelo atrás de minha orelha.
- Costumávamos correr ao redor se uma grande árvore, às vezes procurávamos ninhos e...
Eu o reconheci. Lembranças brotaram em minha mente."- Vamos lá, garoto!
Ele fez uma careta enquanto olhava para cima. Era mais velho e tinha surgido por ali haviam poucos dias, ainda não tinha se acostumado conosco e nunca dissera seu nome. Eu tentava fazê-lo subir a árvore comigo. Eu tinha acabado de completar sete anos, acho que tinha sido naquele mesmo dia, a considerar como me lembrava de ter comido bolo. Ele tinha belos olhos verdes e eu adorava aquilo nele, me fazia sentir perto das plantas quando ele me olhava, mas no resto ele era muito chato. Reservado.
- Venha, seu medroso!
Ele ficou ainda mais emburrado.
- Não sou medroso!
- Mas parece que é!
Ele bateu o pé no chão e descruzou os braços e começou a subir. Iniciei uma gargalhada."Eu pisquei, eu realmente estava começando a me lembrar. A mão dele desceu e ele tocou de leve minha mandíbula.
- ... Você me chamava de Marco..." - Marco! Esse vai ser seu nome.
Ele parou de remexer na comida ruim que mamãe tinha feito, ela ainda estava se acostumando a cozinhar desde que nos mudamos, os olhos dele pareciam sorrir pela primeira vez.
- Por que esse nome, querida?
Olhei para minha mãe e exibi um sorriso travesso.
- Porque ele chegou, ficou e marcou o lugar dele entre a gente.
Ela gargalhou, mas não rindo da piada que eu tinha feito, olhei para o garoto, ele também parecia feliz. Ninguém tinha entendido minha brincadeira. Ele continuou a ser chamado de Marco."- ... foi o primeiro nome que alguém me deu, mas não pude usar nunca mais.
Pisquei afastando lembranças que surgiam na minha mente como se alguém tivesse apertado o controle remoto e tivesse dado play em uma série de vídeos.
- Por que não?
Ele olhou para longe.
- O mestre me encontrou e eu não podia dizer a ele que tinha estado com vocês. Ele me deu um nome depois disso.
Ele passou a mão sobre minha cabeça, olhando para o próprio movimento.
- Você se lembra de mim, passarinho?
Mais uma lembrança surgiu. Quem tinha me dado aquele apelido não tinha sido minha mãe, foi ele!"- Aqui é realmente alto!
Eu balançava minhas pernas enquanto via Marco terminar de subir a árvore para sentar ao meu lado no galho mais largo. Estávamos realmente alto, mais de dois metros acima do chão, mas nos sentíamos nas nuvens.
- Olhe ali, Marco!
Eu apontei para um ninho de passarinho que tinha acabado de ver. Achar eles era um passatempo que eu tinha desde que me lembrava.
- É um ninho! E veja! Tem um filhote.
Estreitei meus olhos e vi o pequenino pular para a borda, já estava grandinho o suficiente para voar e era isso mesmo que ele faria naquele instante.
- Ele vai pular!
Ele abriu as asinhas e pulou, mas não voou. Entrei em desespero e tentei agarrá-lo, mas com isso acabei caindo também. A sensação da queda era nítida em minha mente, o coração parecia ter parado de bater e eu não sabia como respirar até que... escuro.
Quando abri meus olhos eu vi um teto branco e sons de movimentos e pessoas andando e falando, além de vozes vindas de microfones. Olhei para o lado e vi Marco, com seus olhos verdes mais escuros que nunca e lágrimas secando em sua face.
- O que foi, Marco?
Ele ergueu o olhar para mim e pulou de onde estava chamando por mim e pulando na minha cama e me abraçando.
- O que aconteceu? Onde a gente tá?
Ele se afastou e se recompôs, logo ele sorria como se estivéssemos brincando.
- Você pulou da árvore pra pegar o passarinho. - ele sorriu. - No final você caiu igual a ele.
Fiz bico.
- Eu não caí!
Seria vergonhoso que eu, a grande subidora de árvores, caísse de uma. Ele gargalhou.
- Tudo bem, então você voou, igual a um passarinho.
Ele imitou o movimento de uma subida de voo com uma mão. Eu sorri e me sentei, minha cabeça girou e quando coloquei a mão na testa senti as bandagens. Vi que mamãe falava com o médico. Ela parecia nervosa. Ele falava algo sobre um milagre. Olhei para Marco, as roupas dele pareciam sujas, molhadas.
Depois daquilo ele sempre me chamava de passarinho quando brincávamos."
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cidade de Magia - Aprisionada por Espinhos
FantasíaEles foram capturados. Toda a guarda da Cidade dos Contos está presa. Nas mãos de um mal já conhecido, mas não por Tirya. O rei sem coroa finalmente aparece e com ele traz um passado que o liga a ela de uma forma inesperada. Um amigo antigo retorna...