Rotas

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- Quando algo não lhe pertence não é roubo se pegam aquilo. Você não tem direito de vingança sobre mim. E é bom ficar distante do que é meu ou então veremos quem é realmente o mais forte aqui.
Eu quase podia ver garras se projetarem das mãos de Sef, tanto a livre quanto a que erguia Kishan.
- Não tenho medo de você. Ninguém é capaz de lidar comigo além de mim mesmo.
- Não se ache tão superior só por não estar limitado, Kishan. Perante mim ainda és uma criança, mesmo com suas centenas de anos. Nem mesmo você é imortal.
Sef soltou Kishan, ele ficou em pé com facilidade e nem tocou na garganta que permanecia pálida como se nunca tivesse sido tocada. Sef andou em minha direção e com um olhar indicou que eu o seguisse, antes que eu virasse e tornasse a rota vi Kishan piscar um olho para mim e sumir em escuridão e névoa.
Me apressei para agora andar ao lado de Sef, não queria mais mãos me agarrando.
Permaneci em silêncio desconfortável, segurando minha língua e apertando minhas mãos, ainda estava frio.
Frio... reparei que não sentia isso já tinha um bom tempo, mas agora... Engoli em seco. E se meu poder estivesse atrofiando? E se as cordas estivessem duras por eu estar ficando fraca, por nunca ter controlado aquele poder de verdade?
Minhas preocupações facilmente saíram de Sef e fluíram para mim, para o meu futuro e o de todos presos ali.
Sair dali sem ajuda parecia impossível. E para ultrapassar esse obstáculo eu iria precisar de Sef, jamais me atreveria a tentar com outro, pelo menos dos que eu tinha visto...
Confiar em Sef ainda era um dilema.
Apenas quando ele parou e abriu a uma porta que exibia uma escadaria que descia pelas sombras tremulantes passei a pensar em como Ryan estava, de verdade. Eu tinha até pensado se ele estava comendo, se tinha onde dormir, se a cela era fria ou quente, mas naquele instante eu tentava saber como, exatamente, ele estava e se sentia. Me questionei sobre Lan, se ela ainda falava com o outro prisioneiro e se planejavam alguma fuga, se ela achava que eu estava morta ou talvez acabada.
Tentei imaginar o que estaria se passando na mente de cada um da guarda, se havia alguém nos procurando...
Não. Lembrei da estação, de como a guarda da Floresta sem fim se virava sozinha, mesmo estando com eles por apenas três dias eu podia dizer que o tal Conselho não se importava muito com eles, com números tão grandes de mortes e eles enviando recrutas não treinados. Tentei imaginar o que eles teriam enfrentado no decorrer dos anos. Pensei na cicatriz enorme do Capitão e quis saber como ele a conseguiu.
- Temos que descer.
Pisquei e vi Sef estendendo a mão para mim três degraus abaixo. Percebi que tinha ficado parada à porta. Ele deve ter achado que eu estava com medo e por isso tinha ficado imóvel. Não podia negar os arrepios constantes desde o encontro com Kishan, eu sentia muito frio e achava que em qualquer uma daquelas sombras podia estar ele, mas não era algo tão forte a ponto de eu precisar de apoio emocional para encontrar com Ryan.
Acenei para ele e desci os três degraus e parei ao lado dele, lhe olhei com confiança e ele deu de ombros e voltou a descer.
Uns sete metros para baixo e eu quase pedia por uma mão.
Uma brisa soprava de cima para baixo, o som que o ar fazia ao passar por aquele estreito caminho pareciam lamentos, havia muita pouca luz provinda de tochas muito distantes e em alguns trechos era completamente escuro. Haviam teias de aranha e muito pó, com apenas uma marca nos degraus que indicava que pessoas passavam por ali. Não vi ratos, mas escutava seus chiados em eco, era assustador, considerando que não podiam ser ratos.
Quando achei que aquilo ia terminar no infinito eu vi um fim mais iluminado, a luz era mais intensa o que iria significar o fim de sombras e lembranças do toque frio de Kishan.
Chegando ao pé da escada eu vi o corredor, dos dois lados haviam grades que se estendiam até uma parede com uma janelinha redonda gradeada, era escuro do outro lado. Eu escutava o som de água gotejando e algumas respirações regulares. Sef andou em frente. Ao olhar para além das grades não vi humanos, mas criaturas com olhos de fogo e pele de pedra, garras mais mortais que Tyrfing e dentes venenosos. Nenhum olhou em nossa direção, mas eu recolhi os meus braços o mais próximo possível de mim. Até que eu vi Ryan.

×××
Sentiram saudades?
Esse capítulo estava esperando um bom tempo para ser escrito, mesmo eu já tendo ele todo em mente.
Enfim,
Aproveitem.
^^♡

Cidade de Magia - Aprisionada por EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora