Encontrando olhares

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Imediatamente eu corri na direção do gradeado enferrujado.

Mas fui pega pela mão, olhei furiosa para Kishan, ele sorriu e espiou atrás de mim.
- Eles são seus amigos, tinha esquecido disso.
- Me largue.
Eu falei com os dentres trincados, se eu ainda não estava congelando nem queimando tudo era graças a muito esforço e suor mental.
- Acho que não vai gostar de saber que alguns deles morreram.
Me espantei, medo preencheu onde havia raiva e eu olhei para trás, estavam muito em baixo e os sanguessugas bloqueavam minha visão.
- Não...
Se eles tinham morrido... se muitos tinham... era minha culpa. Eu estava atrasada. Eu tinha aproveitado minha prisão agradável com Sef, eu tinha rido e chorado ao reencontrar um velho amigo.
- Desgraçado.
Saiu da minha boca sem que eu nem mesmo pensasse. Kishan fingiu se ofender.
- Não é minha culpa. Eric começou esses joguinhos por sugestão de seu dono.
- O que?
Gelo atingiu meu coração. Como aquilo era possível? Não, não o meu Sef, o meu Marco.
- Você está mentindo.
Ele deu de ombros, teria sido melhor se ele tivesse negado.
- Acredite no que quiser, mas a verdade está dita.
Estreitei meus olhos para ele.
- Esta se divertindo, não? Colocando dúvida em mim.
Ele apontou o indicador para mim. Senti vontade de morder aquele dedo só para vê-lo gritar de dor ou surpresa, um grito me bastava.
- Aí está! Eu disse que vocês tinham algo. Agora vamos.
Tentei me soltar, ele tinha começado a me puxar na direção contrária do gradeado, eu tinha que vê-los, mas Kishan tinha mais força que eu. Entre tropeços e investidas acabamos chegando onde ele queria. Ali estava um trono de rocha com um glorioso mestre, um glorioso homem, ele era mais alto que eu tinha imaginado e mais magro também, não havia brutalidade na sua aparência, os cabelos castanhos estavam penteados para trás cuidadosamente, seus olhos castanhos, cercados de tatuagens que reconheci no mesmo instante de marcado, como se algo me dissesse ao ouvido veja! Alguém igual a você, se voltaram para mim.
- Trouxe companhia, Kishan?
Eu abaixei meu olhar no mesmo instante, mas não pude deixar de ver quem estava ao seu lado, em pé perto do trono, Sef. Ele moveu a perna, como se fosse dar um passo, mas se conteve.
- O brinquedinho de Sefran ganhou novo dono.
- Então essa é a garota que estava com você?
- Sim.
Ele soou sério e insensível. Comecei a odiar a dúvida que brotava em mim.
- Ela parece bem melhor. Deve ser um formosura, para que tenha atraído a atenção dos dois.
Ele se levantou e desceu um degrau, fechei meus olhos e rezei, lembrei de Sef dizendo que meu rosto seria fatal para mim se Ele o visse, lembrei de minha mãe dizendo para evitar que vissem meus olhos e foi a voz dela que escutei.
- Eric!
Junto ao mestre eu ergui o rosto e vi a mulher que saia das sombras ao invocar aquele homem. Eu pisquei e pensei que fosse desmaiar, ali estava ela, mais bela que nunca, o cabelo tinha voltado à cor natural, ainda estava curto, ela estava trajada em um longo vestido que me lembrava as roupas que os romanos e gregos retratavam suas deusas, minha mãe estava ali, linda. Ela olhou rapidamente para mim.
- O que deseja, minha amada?
Eric subiu o degrau novamente e andou até ela, a tocando no ombro e descendo para o braço até a mão.
- Por favor...
Ela fez um olhar de súplica. Ele a soltou e virou de costas para ela. Abaixei o rosto no mesmo instante em que ela me lançou outro olhar. Estava me dando cobertura.
- Não vou parar os jogos, já atendi seu pedido outro dia, hoje iremos até o fim.
Com meus pés o mais leve possível eu saí de fininho dali, me misturando aos vampiros, aproveitando a chance para ir até o gradeado, mas mais uma vez me seguraram no meio do caminho, olhei para trás e vi Sef, não sabia se ficava feliz ou triste.
- Sei que deve estar em extremos.
Ele olhou para os lados, desconfiado de que alguém estivesse prestando atenção em nós.
- Se estou? Ela... - eu não podia dizer, não bem ali rodeada de inimigos - Eu...
Eu ja não sabia o que podia dizer, como podia tratá-lo.
- Kishan a roubou de mim, mas não tinha como tirá-la de lá sem ele... Mas agora você é minha e nunca mais - ele enfatizou isso muito bem - vou deixar que ele ou qualquer outro tome o que é meu.
Realmente, não tinha como duvidar dele, não com aquele olhar ou aquele toque. Sef era Marco antes de tudo e era meu amigo. Acenei para ele e segurei sua mão, um gesto que estava bem disfarçado entre tantas pessoas e entre nós mesmos. Ele não sorriu, seu olhar ficou mais sério e ele disse.
- Será hoje. Quando eu avisar.
Hoje. Hoje fugiriamos dali.

××
Bateu aquela vontade de abraçar a mãe...
Enfim, Sef é muito perfeito...

Cidade de Magia - Aprisionada por EspinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora