A guerra finalmente deu seu fim. Aconteceu exatamente o que o general disse, depois de cansarem recuaram. Todoroki suspirou aliviado. Finalmente estava em casa. Demorou alguns dias, mas finalmente a capital real o recebeu de braços abertos. A mansão de sua família tinha várias entradas, ele seguiu pela esquerda e entrou nos fundos, diretamente na sua área. Assim que pisou no local, uma serva de meia idade veio correndo em sua direção.
— Senhor, você chegou. Vou ferver água, por favor espere em seus aposentos. — A senhora parecia acostumada com ele, não sendo tão formal. Ela torceu o nariz em desagrado, Todoroki parecia não tomar banho a dias. Ficou preocupada com esse fato. Ele não tomou banho. Todoroki, o garoto mais cheiroso que já conheceu, não tomou banho.
Shoto concordou com cabeça e fez o que lhe foi pedido. Aquela era sua área, quase que uma casa independente, o que significava ficar distante dos olhares de Endeavor, sua mãe e seus irmãos. Não precisava se preocupar com nada, os poucos servos que trabalhavam para ele eram de confiança. Quando entrou em seu quarto, se sentou na varanda e esperou. Nem viu a serva entrar e preparar a banheira, só despertou de seus pensamentos ao ouvi-la chamar preocupada.
Com a ajuda dela para remover as varias ataduras, entrou na banheira. A senhora limpou todos os machucados primeiros, e ele estava lotado deles, depois ajudou a limpar o corpo. A serva permanecia com o rosto preocupado, seu senhor sempre se banhava sozinho, sua única função era preparar a agua e lavar suas costas. Depois de ser banhar, ainda teve que enxugar o corpo dele e refazer os curativos. O garoto parecia um morto-vivo.
— Senhor, irá comer antes de visitar sua mãe? — a serva perguntou com cabeça baixa.
— Minha mãe? Não irei ate ela. — Todoroki respondeu de imediato, sem qualquer intensão de mover um músculo para fora do quarto.
— Mas, meu senhor, sua mãe adoeceu novamente. — A senhora falou preocupada. Não era uma mentira, a mãe dele estava mesmo doente, mas não era grave. Só queria incentivar ele a sair e desabafar com alguém, e a senhora Todoroki ficaria mais do que feliz em ouvir o filho.
— Ela está muito mal? — Perguntou preocupado, saindo um pouco do mundo da lua.
— Não tenho certeza, meu senhor. — A serva desconversou.
— Aquele imbecil está? — perguntou.
— O senhor seu pai está no palácio real. — A senhora respondeu de imediato.
— Certo. — Suspirou aliviado — Me traga algo para comer. Algo leve.
Depois de terminar sua sopa, saiu em direção a sua mãe. Seguiu uma série de corredores, tão espaçosos que chegava a ser desconfortável, e saiu no centro da mansão dos Todoroki. Shoto sempre achou o lugar exagerado, como se fosse uma versão menor e menos esnobe do palácio real. Jazia no centro da mansão um jardim exclusivo. Era o único lugar de encontro com as áreas de cada um.
Na parte da frente, Endeavor vivia sozinho, a mãe ficava em uma área ao lado esquerdo. O local era frequentemente visitado pelo marido, o que Shoto achava nojento, já que Endeavor só aparecia lá pela biblioteca, nunca por sua mãe. No lado direito, os dois irmãos mais velhos que ocupavam, eles sempre saiam para visitar outras cidades então era um local bem vazio. A área de Shoto era nos fundos, para permanecer o mais distante possível do pai. No passado, Toya dividia com ele, até o dia em que Endeavor anunciou sua morte.
Ao cruzar o jardim e adentrar o alojamento de sua mãe, viu os servos e olheiros de seu pai. Isso o irritava intensamente, esses malditos fofoqueiros. Ninguém cruzou seu caminho, apenas observou de longe. Assim que entrou no quarto, viu sua querida mãe sentada perto da varanda lendo um livro. Ela parecia bem, só resfriada. Sem nem forçar seus pensamentos já entendeu o motivo do exagero ou falta de explicação da serva. Precisava admitir, realmente precisava do colo da sua mãe. Assim que a mulher de cabelos brancos e rosto indiferente viu o filho, sorriu. Mas o pequeno sorriso se desfez ao vê-lo começar a chorar sem qualquer aviso. Não era um choro desesperado, apenas pequenas lagrimas escorrendo da bochechas pálidas do garoto.
Com muita delicadeza, guiou o filho ate a cama e deixou ele se sentar. Shoto continuo a chorar quieto no lugar. A mulher segurava mãos dele de maneira gentil. Geralmente, a mão dela era fria, mas por causa da febre, parecia bem mais quente. Era bom. Depois de engolir o choro, Shoto começou a organizar suas ideias.
— Mãe, eu fiz algo horrível. — Anunciou de súbito, pegando ela de surpresa.
— Duvido muito. Você é a pessoa mais gentil que conheço, meu filho. — Sorriu a mulher gentilmente. Shoto engoliu seco.
— Não... eu realmente fiz algo ruim. — Insistiu. A mulher esperou pelo desabafo, que não veio. Shoto voltou a derramar lágrimas, coisa que só fazia quando pequeno.
— Escute sua mãe. Se fez algo ruim, conserte. Remoer isso não ajudará em nada, isso só vai te fazer mal. — Aconselhou, enxugando aquela pequenas gotículas que insistiam em sair dos olhos dele. Era uma visão muito rara ver seu filho chorar, isso, por si só, mostrava o quão mal ele estava e se sentia.
— Eu me sinto envergonhado. — Resmungou baixo — eu não sei como fui capaz, eu sou tão egoísta. Ouvi que sou como meu pai, mas essa comparação nem chega a ser justa. O que fiz foi culpa minha, não fui incentivado por ninguém. — Terminou franzindo as sobrancelhas irritado.
— Você sabe o que fez, e não pode mudar o passado. Aprenda com ele e melhore. Reconhecer o erro tão cedo já te faz uma pessoa melhor que eu e seu pai. — Sorriu a mulher, triste.
— Você não é uma pessoa ruim. — Refutou Shoto quase ofendido.
— Diga isso... — ela levou as mãos ate o a cicatriz no rosto de Shoto — a essa enorme marca que eu deixei em você.
Todoroki não queria retomar essa discussão, então só negou com a cabeça e suspirou cansado.
Se sentia bem melhor depois de falar com sua mãe, mas ainda não sabia se era digno de chegar perto de Izuku para se desculpar. Sem contar o fato de Bakugou e Tsuyu estarem de olho, algo lhe dizia que os dois estariam preparados para matar na próxima vez.
Era engraçado, nunca em vida se apaixonou. Mas agora isso parecia estar acontecendo. A todo momento se lembrava do garoto de sardas e olhos verdes. Além do sorriso, aquele maldito e meigo sorriso. Como era irritante. Shoto não entendia. Qual o motivo de se sentir assim? Não sabia nada do garoto, o que nele mexia tanto com sua cabeça? A aparência? Isso não parecia plausível, já que o tratou rudemente na primeira vez que conversaram. Era a gentileza? A educação? A inocência?
Aquela situação era muito estranha e confusa. Tudo parecia mais complicado do que deveria, nada saia de acordo com o plano. Isso desde o começo, tudo saiu o completo oposto do planejado. Parecia que o destino estava lhe pregando uma peça, que sua desgraça era o entretenimento de alguém. Pensar na falta de controle que tinha sobre o que acontecia o deixava revoltado. Por que diabos eles só não poderiam ficar juntos? Por que ele precisava sentir isso logo agora, e pelo Midoriya?
— Mãe, o que leva uma pessoa a se apaixonar? — Perguntou. A mulher ficou tão chocada com a pergunta que demorou em responder.
— Eu não sei, meu bem. Varia de pessoa para pessoa. Eu, por exemplo, me apaixonei pela maneira galanteadora do seu pai. No começo ele me tratava como uma rainha, sempre sorrindo sedutoramente, brincando e rindo despreocupado. — Riu de leve ao se lembrar — Mas não sei ao certo se isso é um bom exemplo. O seu pai não era o que aparentava. — Comentou suspirando.
Todoroki parou para pensar. Era um fato, Enji sempre foi um canalha, mas tinha estilo. Mesmo usando ele como exemplo, não imaginava o sincero e gentil Midoriya sendo alguém ruim. Izuku sempre aparentou ser inocente, mas tinha algo nele que era sexy, não sabia o que exatamente. Ficava irritado com si mesmo por estragar tudo. O beijo forçado foi péssimo, e em momento pior ainda. Sabia disso, que Izuku estava traumatizado, e ao invés de ajudar só colaborou no sofrimento.
Shoto se achava ridículo. Mesmo sabendo de tudo, ainda não conseguia parar de sentir inveja de Bakugou. Qual era a diferença dos dois? Até conhecer Midoriya, ele sempre foi um príncipe encantado, perfeito e exemplar. Por que ao lado do garoto sapo se sentia um ogro asqueroso? Qual era o motivo?! Por que ele não poderia agir normalmente e ter o garoto para si mesmo? E tudo sempre volta ao ponto inicial, sendo um babaca egoísta.
— Obrigado por me ouvir, mãe. — Sussurrou triste. Não queria continuar essa conversa. Mesmo que, no final, nem contou nada.
— Estou aqui para ouvir você, sempre. — A mulher sorriu para o filho, e antes que saísse lhe deu um pequeno e gentil beijo na testa.
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jovem guerreiro | Tododeku | Bakudeku
FanfictionMidoriya é órfão de guerra, foi vendido como escravo com 5 anos e passou a ser melhor amigo de Bakugou, um escravo exemplar que servia a mesma família. A maneira como eram tratados era visivelmente diferente. Bakugou era um bom escravo, forte, sil...