Zuria: Poncho! – Abriu um sorriso ao ver-me. Eu caminhei até ela e depois de um abraço a ajudei com as malas – Sentiu minha falta?
Alfonso: Claro.Zuria: O que acha de almoçarmos juntos hoje? – Bom, na verdade eu pretendia falar com ela a noite, depois do trabalho, mas já que me surgira essa oportunidade, por que não?
Alfonso: Em casa?
Zuria: Ah, pensei em algum restaurante. Faz tempo que não saímos juntos. – Um restaurante não me parecia um bom lugar para falar sobre aquilo.
Alfonso: Podemos comer em casa, eu preparo um almoço pra você, o que acha? – Sugeri.
Zuria: Hm... Você na cozinha? Tudo bem! – Abriu um enorme sorriso e aquilo de certa forma machucou-me. Pensar que aquele sorriso logo não estaria ali e que muito provavelmente ela me odiaria, esmagava-me de uma maneira assustadora. Seria tão mais fácil se os sentimentos fossem sempre os mesmos de ambas as partes. Se o amor sempre estivesse presente nas duas pontas da relação, ou se quando uma das partes perdesse o encantamento isso também acontecesse com o outro. Bom, infelizmente a vida não é tão fácil, e os relacionamentos menos ainda. E embora tudo o que eu fosse dizer causasse-nos dor, seria melhor assim.
Chegando em casa, fiz o que me propusera. Fui para a cozinha e preparei uma macarronada ao molho branco, única coisa que eu sabia, de fato, fazer.
Zuria, sentada próxima à bancada que ficava no meio da cozinha, me observava enquanto contava-me como fora agradável passar o final de semana com a mãe. Quando a comida estava pronta, nos sentamos à mesa, e eu, depois de dias formulando uma maneira menos desagradável de ter aquela conversa com ela, tentei começar.Alfonso: Zuria, por que quis trabalhar na U&H? – Sei que é um começo estranho, mas acreditem, foi o melhor que eu encontrei. Não queria ser tão direto e soltar aquela típica frase ‘Tenho algo importante para falar com você’.
Zuria: Ah, sei lá. – Deu de ombros – Estava cansada de não fazer nada, de ficar sempre em casa, por quê?
Alfonso: Queria saber se você está satisfeita com a vida que leva... – Disse, e ela arqueou a sobrancelha certamente achando que eu estava louco ou algo assim – Digo, queria saber se você é feliz. – Conclui tentando ser mais claro.
Zuria: Se eu sou feliz? – Ela sorriu abertamente e depois soltou um longo suspiro, que me parecia de felicidade – Ah, Poncho, ninguém é feliz o tempo inteiro, às vezes acontecem coisas que me deixam pra baixo, mas okay, é a vida. Mas se você quer saber se eu sou feliz com você, sim eu sou, e muito. E se quer saber se eu estou feliz nesse momento, eu posso te garantir que eu estou imensamente feliz. – Droga. No fundo eu esperava que ela dissesse que eu já não a fazia tão feliz, certamente seria bem mais fácil – Mas por que isso? Por que essa pergunta?
Alfonso: É que às vezes eu fico imaginando se as coisas fossem diferentes. – Ela olhou-me séria.
Zuria: Diferentes como?
Alfonso: Eu e você... O nosso casamento, a nossa vida... – Fui interrompido.
Zuria: Você quer dizer que queria que as coisas fossem diferentes, é isso?
Alfonso: Zuria – Segurei a sua mão – Não te parece que falta algo no nosso casamento? – Ela encarou-me por alguns segundos antes de responder. Vi o reconhecimento riscar seus olhos, como se compreendesse o que eu estava querendo dizer. Mas ao contrário de decepção, o que eu vi em seu semblante foi certa felicidade.
Zuria: Parece. – Suspirou – Mas logo isso vai mudar, Poncho! – Inclinou-se um pouco na mesa aproximando seus olhos dos meus. – Eu... Eu não queria te contar antes de ter certeza, quer dizer, sábado eu fiz o teste de farmácia, mas o resultado do exame de sangue só sai amanhã. Mas, Poncho, é quase certeza! – Eu paralisei, me negando a assimilar o que ela estava querendo dizer – Não sabia que você também se sentia assim. – Sorriu, levantando-se e parando às minhas costas, suas mãos pousaram em meus ombros e ela apoiou o queixo em minha cabeça – Nós vamos ter um bebê! – E eu podia sentir a emoção em sua voz. Quando a ouvi falar aquilo minha garganta travou, e por sorte Zuria não via a minha expressão que devia ser de puro desespero.
Por Deus, claro que eu queria ter um filho, mas não agora, não de Zuria! Não quando eu amava desesperadamente outra mulher. Aquilo não era certo, não era justo e aquele, definitivamente, não era o momento. Céus, depois de tanto tempo...
Deixe-me contar para vocês uma parte de minha vida que até então não havia mencionado.
Depois do segundo ano de casamento, eu e Zuria queríamos muito ter um filho. Ela porque queria ser mãe, eu porque pensei que talvez uma criança pudesse salvar aquele casamento que eu desde sempre condenara. Tentamos durante meses. Algum tempo depois descobrimos que Zuria não podia ter filhos. Foi uma notícia difícil, porque, naquela altura, eu desejava mesmo uma criança, alguém para cuidar, para chamar de filho. Então eu desabei, internamente, em silêncio, mas desabei. E confesso que foi mais ou menos nessa época que eu passei a procurar outras mulheres.
Meu casamento ia mal, tudo o que eu falava a magoava, e o único fio de esperança havia se esvaído. Contudo, não aceitando o diagnóstico, fomos atrás de um tratamento. Ela se tratou durante um ano e meio, mas os resultados não foram muito positivos, e desgastados nós acabamos desistindo. Em vez de tentar algo como uma inseminação ou até uma adoção, nós simplesmente resolvemos esquecer. E agora, depois de tudo isso, um bebê. Aquilo ecoou em minha cabeça. Um bebê meu e de Zuria, céus, não era possível.Alfonso: Zuria, como? – Foi o máximo que conseguir dizer. Ela sentou em meu colo, me abraçando.
Zuria: Eu não te contei para não criar falsas esperanças, mas eu comecei um novo tratamento no ano passado. E bom... – Apertou-se ainda mais em meu pescoço – Parece que deu certo. – Lentamente eu levei minhas mãos até as costas dela, retribuindo àquele abraço. Sinceramente, sentia-me num abismo, caindo sem saber onde iria parar. Ali havia acabado toda e qualquer história que eu pudesse ter com Anahí, mas, por outro lado, era talvez o começo de uma nova história pra mim, uma história com o meu filho. Por mais que eu amasse Anahí, por mais que a quisesse com cada fibra do meu corpo, não poderia acabar com meu casamento agora. Não quando um bebê estava prestes a vir, não quando Zuria estava realizando um sonho que um dia também fora meu. Desistir de mim para pensar naquela criança. Era isso que eu deveria fazer. E pela primeira vez na vida, eu deixaria o meu egoísmo de lado e faria a coisa certa.
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Palavras, apenas palavras
FanfictionPalavras podem ferir, ou podem te fazer a pessoa mais feliz do mundo. Uma simples palavra é capaz de te levar ao céu, ou te atirar sem piedade ao inferno. Elas podem ser motivo de alegria, ou do mais doloroso choro. Palavras prometem, aliviam, engan...