Capítulo 69 - Poncho's POV

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Calmo o suficiente para enfrentar a longa conversa que eu teria com a minha mãe, eu e Zuria partimos logo pela manhã para Newark. O aniversário começaria no almoço e terminaria Deus sabe quando. Toda a família estaria reunida. Desde as irmãs de dona Ruth e seus filhos, muitos dos quais eu mal conhecia, até uma ou outra irmã de meu pai, que ainda mantinha uma relação amigável com minha mãe.
Pouco tempo depois estávamos chegando à ampla casa de madeira que me trazia tantas lembranças.

Zuria logo entrou, indo ao encontro de minha mãe que a abraçava apertado enquanto lhe perguntava detalhes de sua gravidez. Só depois de minutos ela se desgrudou da minha mulher para me desejar boas-vindas. Fato, quando se trata de uma criança, nós adultos, acabamos sempre deixados de lado.

Ruth: Estava com saudades! – Dizia em meio a um abraço bem apertado.

Alfonso: Eu também, mãe. Feliz aniversário! – Dei um beijo estalado em sua bochecha, e a levantei em meus braços, recebendo uma gargalhada gostosa e um tapa no ombro como resposta – Como estão as coisas por aqui?

Ruth: Estão ótimas! – Abriu um enorme sorriso – E Ian, onde está? – O que eu me perguntava era onde estava o tal novo namorado dela.

Alfonso: Disse que vem mais tarde. Parece que vai trazer alguém.

Ruth: Uma namorada?

Alfonso: Não sei, não conheço. Já chegou alguém?

Ruth: Só a sua tia que vai me ajudar com o almoço. Falando nisso, vou precisar da ajuda de vocês dois. – Puxou-me pela mão. E lá fui eu carregar cadeiras para o jardim, enquanto Zuria, sentada à mesa da cozinha, ajudava com a sobremesa.

Perto da uma hora a casa já estava cheia, meus tios e sobrinhos se espalhavam pelos cômodos, e o almoço era colocado à mesa.

Ruth: E onde está o seu irmão que não chega? – Reclamou pela milésima vez – Não quero começar sem ele.

Zuria: Parece que ele está chegando! – Apontou a moto que acabara de atravessar o portão.

Vi Ian estacionar e ajudar a garota que estava com ele a descer da moto. Estranho, uma sensação de desconforto apoderou-se de mim. E a sensação piorou consideravelmente quando ela tirou o capacete. Os cabelos castanhos claros cortaram o vento e, ainda que estivesse a metros de distância, eu a reconheci. Minha garganta secou no mesmo instante, e meu coração perdeu o compasso. O que ela estava fazendo ali? Esfreguei os olhos, aquilo só podia ser uma miragem. Voltei a encará-los, cada vez mais perto. Sim, era ela. Anahí estava ali.

Ruth: Ian, que bom que chegou! E essa garota com você? Por Deus, como é bonita.

Ian: O nome dela é Anahí. – Olhei-os – Any, essa é minha mãe Ruth. – Minha mãe segurava as mãos de Anahí, que sorria num nítido ar de constrangimento. Eu encarava tudo aquilo incrédulo. Não fazia o menor sentido ela estar ali. Por um instante meu olhar cruzou com o dela, e numa clara pergunta do que significava aquilo eu arqueei a sobrancelha. Ela imediatamente desviou o olhar. E droga, aqueles olhos fizeram-me sentir aquela ridícula sensação de frio na barriga. E pior, dera-me conta de como eu sentia falta de me sentir assim.

Zuria: Será que ela e o Ian estão namorando? – Cochichou para mim. Franzi o cenho, sentindo a garganta trancar e a respiração se tornar pesada e desigual. Não. Definitivamente, não. Aquela possibilidade estava completamente fora de cogitação. Anahí e Ian... Não, eu preferia não pensar.

Os dois deram a volta na mesa toda, cumprimentando as pessoas que agora exibiam um ar de curiosidade e contemplação para Anahí. Ian, dando dois tapinhas em meu ombro, tomou a cadeira ao meu lado. Ela aproveitou e se sentou também, cumprimentando a mim e a Zuria com um aceno de cabeça e um leve sorriso. Olhando de Ian para Anahí, eu tentava disfarçar, mas era impossível esconder o quanto estava desconfortável, confuso e atônito com aquela situação.

– Sua namorada é muito bonita. – Soltou uma de minhas tias, roubando a minha atenção.

Anahí: Ah não, nós não somos namorados. – Meneou as mãos transpassando o nervosismo que sentia por estar ali – Somos só amigos.

Ian: Isso, só amigos! Portanto nada de encher a Anahí de perguntas, certo? – Disse num tom brincalhão. Todos ali na mesa riram, eu não.

Palavras, apenas palavrasOnde histórias criam vida. Descubra agora