Eu simplesmente não conseguia olhar para Alfonso. As pessoas falavam comigo e eu respondia trêmula, gaguejando. Ridículo. Havia sido uma grande besteira ir até ali. Sentia o meu coração na boca, e a cada vez que percebia que o rosto de Alfonso estava virado em minha direção, meu coração parecia querer saltar para baixo da mesa e sair correndo. Meu estômago revirava, protestando contra aquilo. Milhares de borboletas pareciam querer sair por minha boca. Deus, eu precisava me controlar.
O almoço tinha uma aparência ótima, mas o meu apetite não daria as caras naquele momento. Não mesmo. Então eu procurava respirar fundo, distribuindo sorrisos para as pessoas naquela mesa, e tentando, a muito custo, pelo menos beber o suco que estava a minha frente.
Ian: Você está bem? – Perguntou num sussurro, pousando a mão sobre a minha – Any, você está gelada!
Anahí: Sim, estou bem. Eu só... Eu... Não se preocupe. – Tentei abstrair o fato de Poncho estar ali, em vão. A comida parecia entalar em minha garganta, meus pés criaram vida própria e batiam fracamente na grama sob a mesa.
Ruth: Querida, pode me ajudar a trazer as sobremesas? – Levantou, estendendo a mão em minha direção. Eu fui, de certa forma aliviada por sair de perto de Poncho. Parecia difícil respirar o mesmo ar que ele.
Chegando na cozinha vi o enorme bolo sobre a mesa, dando-me conta da minha total falta de educação, lancei um sorriso a Ruth.
Anahí: Parabéns pelo seu aniversário! – Aproximei, dando-lhe um abraço tímido – Trouxe um presente. É uma bobagem, mas...
Ruth: Oh, obrigada! – Interrompeu-me – Muito doce de sua parte. Não precisava se incomodar com isso!
Anahí: Não é incômodo nenhum. – Sorri, entregando-lhe o pequeno pacote. Pela expressão dela ao abrir meu presente, acredito que tenha gostado.
Ruth: Sabe, quero lhe perguntar algo... – Assenti, temerosa. Será que ela percebera todas as minhas reações diante de Alfonso? – Reparei que você não tocou na comida... E bom, Ian nunca trouxe uma garota para conhecer a família... – Eu não entendia aonde ela queria chegar – Você não está grávida, está? – Eu tossi, compulsivamente – Quero dizer, seria muito bom ter mais um neto a caminho, mas Ian ainda não tem um emprego fixo e vocês dois não são casados...
Anahí: Ah, meu Deus! – Interrompi quando finalmente consegui falar – Não, eu não estou grávida! Nós dois nem estamos juntos.
Ruth: Ah! É uma pena que não estejam juntos, vocês formam um casal bonito. – Sorri, sem graça, um pouco em pânico – E os filhos de vocês teriam esses olhos azuis que eu tanto amo. – Dei uma risada um pouco esganiçada, daquelas que eu dava quando estava nervosa.
Alfonso: Atrapalho? – Perguntou, aparecendo na cozinha. E aí a risada morreu e o nervosismo aumentou.
Ruth: Não, querido, vou levar os pratos de sobremesa para fora, leve o bolo para mim, certo? – Ele assentiu.
Assim que Ruth saiu da cozinha, ele virou-se para mim. Estática, não consegui disfarçar o meu nervosismo por estar ali, perto dele.
Alfonso: Oi.
Anahí: Oi – Abaixei os olhos, sem coragem o suficiente para encará-lo.
Alfonso: O que significa tudo isso? – Perguntou, pegando-me de surpresa.
Anahí: Tudo isso o que?
Alfonso: Você e Ian. – Olhei-o.
Anahí: Significa que somos amigos.
Alfonso: Amigos? – Soltou uma risada irônica – Amigos. – Repetiu – Eu devo acreditar nisso? – Debochou. E aquilo me irritou. Não que eu não achasse interessante que Alfonso sentisse e expressasse aquele ciúme tão descarado, mas que algo fique bem claro: eu não devia explicações da minha vida a ele.
Anahí: Não acredite se quiser. – Dei de ombros.
Alfonso: Engraçado como você supera as coisas rápido. – Disse friamente. Não. Eu não podia acreditar que estava ouvindo aquilo.
Anahí: Escuta aqui, Alfonso, você pensou que eu ia ficar chorando o resto da vida, enquanto você constrói a sua linda família? – Perguntei, dura, deixando transpassar a raiva que estava sentindo. Ele não tinha direito algum de me julgar, e olhem, eu não estava fazendo nada de errado. Não que estar com Ian fosse algo errado, mas por Deus, eu não estava.
Alfonso: Então é assim que você pensa, Anahí? Pelo jeito as coisas têm sido mais fáceis pra você do que pra mim. – Manteve a voz fria de antes – Sair da U&H, começar um namoro com Ian. É, as coisas parecem bem mais fáceis pra você. – A ironia dele me irritava.
Anahí: Ah, elas parecem? – Encarava-o, os olhos presos aos dele – Pois não são. E você saberia se pelo menos tivesse ido até mim no dia em que eu saí da U&H. – Sim, eu havia ficado extremamente magoada pelo fato de nem ao menos ter recebido um 'boa sorte' dele. Ele sabia que provavelmente não me veria mais, e nem tinha se dado ao trabalho de dizer adeus. – Mas quer saber? – Prossegui – Dane-se o que você pensa. Eu tenho o direito de reconstruir a minha vida, e você sabe disso.
Alfonso: Sim, eu sei. Só acho estranho que queira reconstruir a sua vida com o meu irmão. – Cerrei os dentes, sentindo meu rosto queimar. As palavras dele, e pior, a maneira debochada com que falava me faziam simplesmente querer matá-lo.
Anahí: Talvez eu queira isso porque ele é diferente de você. – Cuspi as palavras. Nem me dera conta, mas estávamos perigosamente perto. Apenas um palmo de distância separava os nossos rostos. Havia raiva, tensão e mágoa ali. E era de ambas as partes.
Alfonso: Não acho que você queira alguém assim tão diferente de mim. – Disse com aquele sorriso irônico brincando em seus lábios. Lábios que estavam próximos demais.
Anahí: Havia me esquecido do quanto você é prepotente.
Alfonso: Você parece ter se esquecido de muitas coisas. – Seu sorriso morreu, a voz saiu falha.
Eu ia responder, mas alguns passos no assoalho de madeira me alertaram de que logo alguém entraria naquela cozinha. Imediatamente me afastei de Alfonso, pegando a bomboniere cheia de musse e saindo da cozinha.
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Palavras, apenas palavras
FanfictionPalavras podem ferir, ou podem te fazer a pessoa mais feliz do mundo. Uma simples palavra é capaz de te levar ao céu, ou te atirar sem piedade ao inferno. Elas podem ser motivo de alegria, ou do mais doloroso choro. Palavras prometem, aliviam, engan...