Por mais irritado que eu estivesse com ela, eu simplesmente não conseguia vê-la mal. Ainda que a única culpada de todo aquele transtorno tenha sido ela, eu não conseguia deixar de querer cuidá-la e protegê-la a todo custo.
Alfonso: Esqueça isso – Foi a resposta que eu dei ao seu pedido de desculpas. Ela não ouviu, havia adormecido.
Minha cabeça trabalhava a mil enquanto a carregava em meus braços. Aquela noite fora, resumidamente, uma grande loucura. E o pior, eu havia gostado. Desde a dança até o beijo e os inúmeros outros beijos que vieram depois. Sentia tanta falta dela, e por algumas horas eu me permitira esquecer todos os nossos, ou melhor, os meus problemas. E tudo parecia tão bom. Talvez tenha sido o destino que enviara aquelas pessoas à nossa mesa para, quem sabe, despertar-me daquele sonho. Mas, sinceramente, se pudesse escolher eu preferiria ficar sonhando, para sempre, se possível.
Levei Anahí para o meu quarto, não podia deixá-la sozinha naquelas circunstâncias. Coloquei-a sobre a cama, ajeitando os travesseiros embaixo de sua cabeça. Ela, que parecia estar num sono profundo, nem se moveu. A cobri e em seguida fui até o banheiro. Quem sabe um bom banho conseguisse afastar todas aquelas memórias tão recentes daquela noite que tinha tudo para ser perfeita. Claro, se na palavra perfeição estivesse inclusa uma grande dose de peso na consciência no dia seguinte. Porque é óbvio que eu me culparia, ou melhor, eu já estava me culpando pelo ocorrido. Mas como negar meus instintos e a enorme saudade que eu sentia dela? Droga. Eu precisava esquecer. E se eu tinha conseguido algum progresso na minha luta diária para afastá-la dos meus pensamentos, hoje eu havia voltado à estaca zero. A queria mais que antes, e mais, a amava mais que antes.
Alfonso: Merda! – Passei a mão pelos cabelos molhados, olhando o reflexo do meu rosto cansado no espelho. Eu tinha que tirar Anahí da minha cabeça, por Deus, eu iria enlouquecer. Tentei focar o rosto de Zuria à minha frente, procurando imaginar como seria o nosso futuro ao lado do nosso filho, completamente em vão. Eu simplesmente não conseguia. Quando fechava os olhos era Anahí que me vinha à mente. Quando me olhava no espelho era ela que imaginava ao meu lado.
Voltei para o quarto, sentando-me na poltrona próxima à cama. Anahí dormia com uma expressão serena no rosto. Fiquei um tempo a observá-la, até que também fechei meus olhos. Acho que peguei no sono por alguns minutos até que acordei. Quando voltei a olhar para a cama, levei um susto. Anahí não estava lá.
Alfonso: Any? – Chamei-a sem qualquer resposta. Onde ela poderia ter ido? Caminhei pelo quarto até ver a luz do banheiro acesa. Abrindo a porta lenta e silenciosamente me deparei com uma Anahí sentada no chão, abraçada ao vaso sanitário. – Hey. – Disse me aproximando.
Anahí: Poncho, eu... – Tentou encarar-me – Não quero que me veja assim. – Resmungou enquanto colocava a cabeça, outra vez, para dentro do vaso.
Alfonso: Shh... Deixe disso, Any! – Sorri e me sentei ao seu lado – Vai passar. – Segurei os seus cabelos, afastando-os de seu rosto – Eu não devia ter dormido...
Anahí: Pare de dizer bobagens! Eu faço besteira e você se culpa! – Sorriu, rolando os olhos.
Alfonso: Vem cá. – A chamei para os meus braços e ela se aninhou em meu peito, como uma criança.
Anahí: Me desculpe por isso.
Alfonso: Tudo bem. – Percebi que ela respirava fundo, tentando controlar, talvez, todo aquele mal estar. – Você precisa de um banho gelado...
Anahí: Tudo bem, Poncho, já está passando. – Olhou-me com a expressão cansada – Eu sou mesmo uma grande idiota – Voltou a encostar o rosto em meu peito – Eu só queria que esse final de semana fosse especial. Eu só queria estar com você mais uma vez.
Aquelas palavras eram tão sinceras e ao mesmo tempo tão desesperadas que eu simplesmente não soube o que dizer. Anahí estava confessando aquilo que, até então, nenhum de nós dois tivemos a coragem de dizer. Efeito do álcool ou não, aquilo era real. E antes que eu pudesse formular uma resposta lógica para tudo o que ouvira, ela continuou.
Anahí: Eu sei que agi errado. Sei que não tenho o direito de fazer isso! Eu sinto muito.
Alfonso: Any, por favor, pare de se desculpar. – Ela me encarou, dessa vez tomando certa distância de mim – Como você mesma disse mais cedo, nós dois queríamos aquilo. Eu quis tanto quanto você. Eu ainda quero. – Confessei sem força alguma para negar aquele sentimento. Eu queria estar com ela uma última vez.
Anahí: Você o que?
Alfonso: Eu quero estar com você tanto quanto você quer estar comigo. – Segurei sua mão, enlaçando nossos dedos.
Anahí: Mas eu estraguei tudo, né? – Disse-me com a voz arrastada. – Ah Poncho, eu sou mesmo tão idiota. – Soltou minha mão, encarando o chão.
Alfonso: Você não é idiota. – Disse compassivo. Anahí tinha uma mão sobre o estômago, e contorcia-se levemente. Provavelmente todo aquele mal estar voltara – Vou pegar um copo de água pra você. – Sorri tentando animá-la, ela retribuiu meu sorriso fracamente e abaixou o rosto abraçando os próprios joelhos.
Em questão de segundos eu voltei para o banheiro com um copo de água e um comprimido para amenizar o enjôo. Nada muito eficiente, mas pelo menos dava para enganar um pouco todos aqueles sintomas.
Ela tomou sem questionar e depois, com a minha ajuda, levantou-se do chão.
Anahí: Acho que eu preciso de um banho.
Alfonso: É, acho que isso te faria sentir melhor, se quiser posso te ajudar. – Propus sem qualquer segunda intenção. Naquele momento nada além de cuidá-la passava pela minha cabeça.
Anahí: Não precisa. Acho que consigo sozinha. – Eu assenti.
Alfonso: Vou buscar uma camisa para que você coloque depois. – Disse, indo para o quarto e voltando com uma camisa preta em mãos.
Anahí: Obrigada.
Alfonso: Não tranque a porta. Qualquer coisa é só gritar.
Anahí: Tudo bem. E, de verdade, obrigada.
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Palavras, apenas palavras
FanfictionPalavras podem ferir, ou podem te fazer a pessoa mais feliz do mundo. Uma simples palavra é capaz de te levar ao céu, ou te atirar sem piedade ao inferno. Elas podem ser motivo de alegria, ou do mais doloroso choro. Palavras prometem, aliviam, engan...