Christopher estava lá, jogado no sofá com uma feição cansada e um copo de uísque na mão.
Anahí: Me desculpe, pensei que não tivesse ninguém.
Christopher: Tudo bem. – Olhou-me – O que faz aqui a essa hora?
Anahí: Estava terminando um projeto. E você? O que faz aqui?
Christopher: Tentando espairecer. – Esticou o copo de uísque para mim – Aceita?
Anahí: Não, obrigada. – Sentei-me ao seu lado – Desculpe perguntar, mas... Aconteceu alguma coisa?
Christopher: Cansaço, só isso. – Deu uma longa golada no líquido âmbar – Trabalho demais, responsabilidades demais. Preciso extravasar.
Anahí: E essa carinha aí é só por causa do trabalho?
Christopher: Não. Meus pais estão no meio de um divórcio nada amigável. Por mim que se dane, mas minha irmã mais nova tem sofrido bastante.
Anahí: Quantos anos ela tem?
Christopher: Dez. E eu fico no meio disso tudo. Sempre tentando apaziguar. O que ninguém percebe é que eu me canso às vezes também, que eu já to de saco cheio. – Ele ficou uns segundos em silêncio, eu esperei, jamais imaginei vê-lo assim, tão fragilizado. Na verdade, Christopher era o tipo de homem que não parecia ter problemas, ao contrário, ele sempre me passara a imagem de que aguentava tudo, de que podia resolver tudo. – Desculpe, acho que estou falando demais. Acho que bebi um pouco demais também. – Apontou a garrafa de uísque quase vazia.
Anahí: Entendo como é. – Na verdade eu não entendia muito bem. Mas podia imaginar que não era nada fácil. A pior coisa é quando você precisa fingir que é forte quando na verdade só queria que cuidassem de você – Você não precisa ser tão forte o tempo inteiro. – Levei minha mão à dele, confortando-o – É uma fase, vai passar.
Christopher: Três meses se os advogados não enrolarem demais. Eu estou cansado, Anahí. – Disse em meio a um suspiro pesaroso.
Anahí: Tente não pensar nisso. Sabe, essas coisas acontecem e logo tudo isso vai ser apenas uma lembrança. – Era nesse lance de o tempo ser o melhor remédio que eu me apegava todas as vezes que acontecia algo ruim. Como agora, por exemplo, eu esperava que o tempo apagasse Alfonso de minha memória e o principal, do meu coração. – Se eu puder ajudar em algo...
Christopher: Só o fato de me ouvir já é de grande ajuda. – Falou em meio a algo que era quase um sorriso.
Horas se passaram, e nós dois continuamos ali, conversando, nos lamentando, nos consolando. E dentre milhares de palavras, a segunda garrafa de uísque estava quase no final. E toda aquela minha convicção de não beber no trabalho já ruíra. Okay, eu não estava exatamente no meu horário de trabalho, o que me isentava em partes.
Anahí: Aos corações solitários! – Levantei o copo de uísque propondo um brinde. Com um sorriso bobo no rosto, aqueles sorrisos típicos de bêbado, eu despejei o conteúdo daquele copo em minha boca. – Agora eu acho que preciso ir.
Christopher: Vou mandar chamar um táxi.
Anahí: Meu carro está aí fora. – Rebati rindo a toa. E, se era possível, Christopher estava pior do que eu.
Levantei-me, deixando meu copo no chão. Acontece que quando eu fui ficar em pé, Christopher fez o mesmo e nossas testas se chocaram. Um pouco extasiada com todo aquele álcool em meu corpo, eu o vi aproximar seus lábios dos meus e, mais que isso, eu inclinei meu rosto oferecendo minha boca, não apenas permitindo, senão induzindo o contato entre nossos lábios. Foi um beijo sôfrego e desesperado, que provavelmente jamais teria acontecido se nós dois estivéssemos sóbrios. Minutos depois nossas bocas se separaram, vermelhas, molhadas.
Christopher: Desculpe. – Pediu com a voz arrastada.
Anahí: E-eu... É... Eu vou chamar um táxi. – Saí cambaleando pela sala. E nada mais aconteceu naquela noite.
Chegando em meu apartamento, tomei um banho gelado e depois apaguei jogada de qualquer jeito na cama. A imagem de Poncho se fez presente a noite inteira, habitando meus sonhos, lembrando-me de como ele era indispensável, de como só a sua presença era capaz de causar-me aquelas revoluções no estômago. O simples sorriso dele surtia muito mais efeito em mim do que um beijo de qualquer outro, incluí-se aí Christopher. Aquele beijo foi um erro. Fruto de uma noite de bebedeira e de um coração desiludido.
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Palavras, apenas palavras
FanfictionPalavras podem ferir, ou podem te fazer a pessoa mais feliz do mundo. Uma simples palavra é capaz de te levar ao céu, ou te atirar sem piedade ao inferno. Elas podem ser motivo de alegria, ou do mais doloroso choro. Palavras prometem, aliviam, engan...