Capítulo 4 - Amostras

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A noite de Elle não foi tão relaxante quanto ela gostaria graças à dor que não a deixou descansar adequadamente. Algumas horas antes, durante o banho, a mulher descobriu contusões espalhadas pelo corpo e teve a sensação de que havia outros ferimentos mais internos ainda em recuperação.

Antes de o sol nascer no dia seguinte, ela já havia despertado e resolveu aproveitar o tempo extra para lavar sua lingerie. Algo que não havia feito na noite anterior, pois achou que se sentiria exposta demais dormindo sem calcinha e sutiã. Elle tentou descer até o banheiro fazendo o mínimo de barulho possível quase falhando ao tropeçar em suas botas perto da porta.

Felizmente minutos depois voltou satisfeita para o quarto por ter conseguido realizar o feito. Agora só precisava forrar o encosto da cadeira com uma toalha que pegou no banheiro e esperar secar. A mulher voltou para a cama e, mesmo incomodada pela falta das peças íntimas por baixo da roupa, acabou dormindo novamente.

Quando acordou, sua lingerie estava praticamente seca sob os tímidos raios de sol de primavera. Depois de vesti-las, ela se espreguiçou por alguns minutos e tentou se recompor da melhor forma que conseguiu usando um espelho que encontrou na parte de dentro de uma das portas do guarda-roupa.

A blusa e as calças emprestadas pela senhora Hudson estavam amarrotadas, seu cabelo embaraçado e o curativo em sua testa com uma pequena mancha de sangue. Por fim ela procurou suas botas, mas não as encontrou. Confusa com aquilo e ajeitada dentro das possibilidades, a mulher arrumou a cama e desceu para o piso principal do apartamento.

Encontrou Sherlock sentado à mesa da cozinha concentrado na análise de alguma amostra no microscópio óptico.

— Bom dia — cumprimentou ela.

O detetive olhou rapidamente para a hóspede indesejada e voltou a analisar a amostra antes de responder. Como ela não disse mais nada, nem saiu do lugar, ele continuou.

— Se estiver procurando suas botas, elas estão aqui. — Apontou para o chão ao seu lado. — Mesmo depois de terem passado tanto tempo dentro d'água, tem vestígios de solo interessantes nela que vão me ajudar a identificar por onde você andou.

— Mas a senhora Hudson deixou comigo... no quarto...

— Sim, foi onde eu peguei.

— Você entrou lá hoje de manhã enquanto eu estava dormindo? — Elle processava a ideia com incredulidade.

— É — o detetive finalmente olhou para ela com um sorriso sereno no rosto. — Você estava péssima, precisava de algumas horas de sono. Por isso não quis te acordar.

— Obrigada? — disse em dúvida sobre como reagir àquilo.

— Por falar na senhora Hudson, ela trouxe suas roupas. Lavou, secou e costurou. — Ele apontou para uma das cadeiras. — E ela também preparou chá com biscoitos.

A mulher se aproximou devagar de Sherlock sem tirar os olhos dele e pegou seus pertences antes de se trancar no banheiro. Pensar naquele homem entrando no quarto enquanto ela dormia era perturbador. O fato de ele admitir aquilo com tanta naturalidade deixava tudo ainda mais estranho.

Elle dobrou as roupas da senhora Hudson quando terminou de se despir e começou a vestir as suas. O trabalho da idosa na manga do casaco tinha ficado muito bom. Quase não era possível ver onde havia rasgado.

Quando saiu do banheiro, ela encontrou mais alguém com o detetive. Uma mulher de longos cabelos castanhos e um sorriso gentil no rosto que usava um casaquinho creme com pequenas flores vermelhas bordadas e uma calça cáqui contrastando com as roupas completamente pretas de Elle.

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