Capítulo 60 - Balada para Audrey

104 8 12
                                    

Audrey Morgan sentiu um arrepio que começou em sua mão direita se espalhar pelo seu corpo. Ela abriu os olhos, mas não conseguia se mover por conta da dor.

A cela era escura, fria e úmida e ela estava deitada no chão sobre seu lado direito, encolhida em posição fetal, quando uma luz começou a brilhar no canto oposto irradiando calor. A mulher desejou chegar mais perto, queria se aquecer, mas a dor era incapacitante.

Mesmo assim, ela reuniu as poucas forças que ainda tinha e se arrastou na direção da luz. Parou a poucos centímetros dela, encolhida. Aceitando as migalhas que calor que emanavam enquanto agonizava.

(...)
— Mycroft! — disse Sherlock ao ver o irmão entrando no quarto de Audrey antes das cinco da tarde.

John estava sentado no sofá de dois lugares aos fundos lutando para esconder o que sentia. Ainda não tinha conseguido contar ao amigo que a médica dissera e o pedido que havia feito.

— Deve ter acontecido algo muito importante para você se deslocar até aqui — continuou o homem.

Mycroft olhou para John e entendeu na hora que o irmão mais novo ainda não havia sido informado das últimas notícias.

— Eu preferia ter ido até a Rua Baker, mas agora parece que você mora aqui.

Sherlock riu com desdém.

— Conseguimos descobrir quem estava acobertando o psiquiatra. Era realmente um dos nossos encarregados pelas buscas de irregularidade na clínica. Acredito que Bryantt deve ter feito a oferta a ele da mesma forma que fazia aos pais dos pacientes. Com uma dose de TD12+ preparada para usar caso ele se negasse a colaborar. Aparentemente, não foi preciso o uso da droga — declarou Mycroft. — A vigilância na Rua Baker, no Barts e na casa da doutora Hooper já foram dispensadas.

— Tem certeza que estamos seguros? — perguntou John preocupado.

— Claro que tenho, doutor Watson! Eu não tomaria essas medidas se não tivesse certeza — disse o Holmes mais velho com seu tom de voz ríspido. — Também já realizamos os testes de DNA em todos os membros do projeto e já sabemos quem tinha o perfil para o programa e quem foi ilegalmente convidado a participar. Alguns dos documentos de processo e condenação que o diretor nos mostrou aquele dia eram forjados. Inclusive o do cara que atirou nela, Albatroz.

Ele entregou uma pasta para o irmão.

— Nunca foi preso, mas diagnosticado com transtorno de personalidade dois anos atrás. Agrediu vários membros da família, e quase matou a própria mãe e um sobrinho que tentou intervir durante uma briga — explicou Mycroft de forma superficial. — Depois dessa ocorrência a família procurou a clínica e o internaram. Ao que tudo indica, preferiram não denunciar as agressões para as autoridades na tentativa de evitar o escândalo, mas obviamente o que a família mais queria era se livrar dele. Uma cobaia perfeita para os planos do Bryantt.

— E esse projeto foi finalmente encerrado? — perguntou John se levantando e andando até os pés da cama.

— Suspenso por tempo indeterminado — respondeu Mycroft. — Pelo menos enquanto averiguamos cada detalhe do que aconteceu e vemos se vale à pena tentar dar continuidade em face aos riscos.

Sherlock lia as informações enquanto seu irmão falava.

— Os vídeos dele aceitando os procedimentos e os momentos românticos com a protegida estão nesse cartão de memória. — Ele mostrou o objeto a Sherlock.

— E os arquivos da Audrey no projeto? — quis saber o Holmes mais novo sem tirar os olhos dos papéis que analisava.

— Não encontramos nada ainda. Imagino que tenham realmente sido destruídos quando tentaram se livrar dela da primeira vez no centro de treinamento — expôs Mycroft. — Eu te falei para tomar cuidado com ela, mas você não quis me ouvir... — O tom de desdém era evidente em sua voz.

Memórias AnônimasOnde histórias criam vida. Descubra agora