Demorou cinco dias para Audrey Morgan finalmente ficar livre daquele tormento. Pensou seriamente em conversar com a ginecologista sobre as consequências do uso de hormônios para interromper o ciclo porque quase conseguia sentir a dor só de pensar nela. Na próxima semana sem falta ligaria para marcar um horário.
No entanto, a única coisa que ela queria no momento era aproveitar o final de tarde de domingo com Molly Hooper. A amiga a levou para um passeio no Covent Garden e agora as duas saboreavam seus sorvetes. Audrey um sabor chocolate com calda de cereja e a amiga um de morango com calda de chocolate.
— Gostou daqui? — perguntou Molly.
— É lindo! — respondeu Audrey.
— E você nem viu tudo. — Ela sorriu antes de continuar. — Fica ainda mais bonito no Natal. A decoração é linda! — Molly ficou empolgada só de imaginar. — A cidade toda fica linda nessa época!
— Quero muito poder voltar para ver, então!
— Audrey, você tem ideia do que é Natal?
— Nenhuma... — A mulher riu. — Mas imagino que seja uma festividade onde as pessoas colocam enfeites nas coisas.
— É um pouco mais do que isso, mas por que você não pergunta?
— Ah não Molly. Tem muita coisa que eu não sei o que é, mas se tem como prosseguir com a conversa eu deixo para pesquisar no Google depois. Imagina o tédio ter que me explicar tudo o tempo todo?
Molly sorriu para a amiga com a forma que ela se preocupava em não estar incomodando.
— Mas tem horas que eu me arrependo... — Audrey ainda sorria.
— Como assim? — perguntou a Molly sentando em um banco de madeira ornamentado por algumas heras verdes e flores para aproveitar o pouco calor do sol que havia resolvido iluminar a tarde de domingo perto da entrada do Opera House.
A mulher se acomodou ao seu lado olhando para a ornamentação na tentativa de determinar se era artificial ou natural já que não pareciam estar plantadas em lugar nenhum.
— Depois que eu descobri sobre menstruação, fui buscar mais informações sobre sistema reprodutor e tal...
— Você não procurou sobre sexo no Google? — perguntou Molly tentando conter o riso.
— Até tinha uns sites com informações interessantes, mas eu não devia ter pesquisado na seção de imagens... — Audrey começou a rir. — Tem como desver? — lamentou ela com um suspiro.
— Não, — a amiga começou a rir mal conseguindo segurar o sorvete.
— Molly, para! — pediu Audrey.
A mulher, no entanto, não estava zangada. Na verdade, ela se divertia tanto quanto a outra com a situação.
As duas levaram um tempo até conseguirem se controlar. Só de se olharem, as risadas começavam de novo.
— Isso é muito coisa de adolescente. — Audrey estava ofegante e ainda sorria. — Preciso começar a controlar meu comportamento com urgência!
— Não se incomode tanto com isso — aconselhou Molly com um sorriso no rosto. — Apenas tente ser menos imprudente... — Ela provocou e depois deu uma risadinha.
— Pelo menos isso te poupou de me explicar como são feitos os bebês. — Audrey raspou o fundo do potinho do sorvete com a colherinha sem olhar para a amiga sentindo as bochechas arderem.
— A forma como eles manipularam sua memória é espantosa. — A amiga olhava admirada para ela. — Não sei se eu acreditaria que é possível se não conhecesse você. Parece que escolheram a dedo as informações que deveriam ficar. Como se estivessem lidando com um HD de computador.
— Parece que tiraram só o que não seria útil para eles...
— Mas não apagaram de vez. A forma como você olhou para o meu laboratório e os seus pesadelos — acrescentou ela esperançosa. — Tem alguma coisa que só está adormecida esperando para voltar à consciência. E nós vamos ajudar você a recuperar tudo — comentou Molly animada. — Ou ter novas e melhores experiências!
— Mal posso esperar! — A mulher sorriu de volta.
O passeio terminou ao anoitecer. As amigas voltaram de carro para a Rua Baker, mas Molly não demorou muito, pois precisava chegar cedo ao trabalho no dia seguinte. John e Rosie ainda estavam por lá, mas pouco depois que Molly saiu, o pai começou a se preparar para ir embora reunindo os pertences da filha pelo apartamento.
— Audrey, tudo bem você ir lá para casa amanhã de manhã? Eu tenho pacientes nos meus dois primeiros horários.
— Sem problemas, John. — A babá sorriu contente em voltar de forma integral às suas funções.
— Ah, e mais uma coisa, — o homem pegou a carteira no bolso de trás da calça. — Quero que você fique com isso. — John entregou um cartão de crédito para ela.
— É do Sherlock. — Ela leu o nome do companheiro de apartamento e olhou para ele acomodado em sua poltrona com a afilhada adormecida no colo.
— Sim. Ficava comigo para eu pagar as contas e comprar comida. — Explicou ele. — Agora quero que fique com você. Não gaste seu dinheiro comprando coisas para a casa.
— E as contas?
— A maioria está em débito automático, mas eu vou continuar checando e te digo o que pagar. — John pegou um pedaço de papel e anotou alguns números. — A senha. Você acha que consegue usar o cartão? Não é muito difícil. — Ele explicou rapidamente o processo.
— Parece fácil. — Audrey sorriu.
— Bom, se a máquina estiver num bom dia, é sim — comentou ele se lembrando das vezes em que passou raiva com o equipamento. — Mas é que se depender do Sherlock, vocês vão ficar até sem leite para o chá — John fitou o amigo com um olhar acusador que ele retribuiu com uma expressão que ficava entre raiva e espanto.
Audrey segurou o riso. As pequenas discussões entre os dois eram constantes e ela achava cada vez mais divertida essa interação entre eles já que nunca chegavam a brigar de fato.
— Agora preciso ir. — O pai caminhou na direção de Sherlock para pegar a filha.
— Leva as coisas dela que eu desço com a Rosie — sugeriu o homem se levantando com a pequena no colo com cuidado para não despertá-la do sono.
A babá fez um carinho na menina quando ele passou do seu lado e caminhou até a janela enquanto os três desciam as escadas. Ver o cuidado do padrinho com a afilhada contrastava tanto com a primeira imagem que ela havia feito dele que quase parecia ser outra pessoa.
A mulher sorriu acompanhando a cena até o carro de John se afastar pela rua e Sherlock entrar de volta no 221B.
***
Nem tudo deve ser procurado no Google! #FicaADica!Espero que vocês ainda estejam gostando da história. Não tenho recebido mais comentários e as estrelinhas diminuíram bastante. Se é por conta da investigação que não tem sido muito desenvolvida, não se preocupem. Ainda nos capítulos dessa semana Sherlock e John vão voltar a seguir as pistas do caso!
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Memórias Anônimas
Fiksi PenggemarA tarde entediante se transforma com a chegada de uma mulher ferida e sem memória implorando pela ajuda de Sherlock Holmes, mas graves acusações trazidas por Mycroft Holmes colocam em dúvida suas verdadeiras intenções. Porém, após vê-la salvar a vid...