Mesmo com a vontade de lembrar logo seu passado, Audrey Morgan preferiu tomar um sedativo e ter uma noite tranquila, deixando para a seguinte, quando Sherlock Holmes e John Watson tivessem mais fotos de dentro do imóvel onde ela aparentemente morou, a possibilidade de ser perturbada com mais um pesadelo.
A dupla deixou a Rua Baker no início da tarde de Sábado logo após o detetive obter com sucesso uma entrevista com os pais de Audrey na mansão onde moravam, sob o pretexto de coletar informações a respeito da péssima conduta do psiquiatra que tratou a filha dos dois.
John ficou atônito com a luxuosa fachada e seus olhos expressavam todo o seu assombro quando ele e Sherlock pararam na frente de uma enorme porta dupla de madeira. As fotos não deixavam tão nítido quão ricos eles eram.
O detetive olhou para ele com um sorriso singelo no rosto, pois na investigação que teve chance de fazer durante a madrugada, já sabia bem mais sobre o casal e esperava aquele tipo de ostentação.
— Boa tarde, — disse Sherlock quando uma mulher uniformizada de aparência jovial abriu a porta. — Temos uma entrevista marcada com Barbara e Raymond De Santi — informou ele.
— Quem eu devo apresentar? — questionou a mulher.
— Sherlock Holmes e John Watson — respondeu o detetive.
— Um momento, por gentileza. — A governanta encostou a porta e retornou para dentro da mansão.
Poucos minutos depois ela voltou a abrir a porta.
— Me acompanhem — pediu ao se afastar um pouco liberando a passagem da dupla.
Pelo lado de dentro o imóvel impressionava tanto quanto por fora. A medida que seguiam a governanta, os dois olhavam com interesse cada detalhe procurando pistas da presença de Audrey. Eles foram conduzidos até a biblioteca que já conheciam pela foto na revista.
Os quatro trocaram cumprimentos e a governanta saiu do lugar após oferecer bebidas aos visitantes que recusaram antes de agradecer a oferta. O grupo se acomodou nas confortáveis poltronas dispostas ao redor da mesinha de centro.
— Não sei se seremos de muita ajuda, senhor Holmes — anunciou Raymond, um homem alto de musculatura evidente por baixo do terno preto que usava. Não havia economia por parte dele em procedimentos para disfarçar o avanço da idade. — Já faz um tempo que nossa filha se foi.
— Sherlock, por favor. — O detetive procurava por sinais de remorso na expressão do homem, mas não encontrou. — Mas ela foi paciente do doutor Federico Bryantt?
— Oh, sim. Quando ouvimos falar da competência dele, imaginamos que era a melhor esperança para a nossa menina. — O marido esticou o braço e segurou a mão da esposa. — Queríamos ter percebido antes o que estava acontecendo para conseguir evitar.
— O que exatamente aconteceu para ela precisar se tratar com o psiquiatra? — continuou o detetive.
— Ela sempre teve tudo o que quis desde a infância e nós a cercamos de cuidados de todas as formas possíveis, — o homem hesitou. — Talvez tenha sido esse o nosso erro...
A mulher de longos cabelos ruivos e a pele artificialmente lisa por procedimentos estéticos continuou com o relato.
— Sempre estudou nas melhores escolas e frequentou os melhores lugares, mas não aprendeu a escolher muito bem as amizades — lamentou ela. — Além da rebeldia influenciada pelas más companhias, acabou sendo traída quando o noivo fugiu com a melhor amiga. Ela sempre foi uma garotinha sensível e infelizmente não aguentou a desilusão. — Barbara suspirou alto, mas o detetive não acreditou na veracidade daquele lamento.
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Memórias Anônimas
Fiksi PenggemarA tarde entediante se transforma com a chegada de uma mulher ferida e sem memória implorando pela ajuda de Sherlock Holmes, mas graves acusações trazidas por Mycroft Holmes colocam em dúvida suas verdadeiras intenções. Porém, após vê-la salvar a vid...