Capítulo 34 - A Proposta

192 15 21
                                    

Sherlock Holmes fez sinal para o táxi e depois de algumas quadras, lá estava ele de volta ao parque onde Audrey Morgan tinha iniciado sua busca. Ela estava sentada sozinha no mesmo banco onde conversou com o mendigo e conseguiu o endereço do detetive.

O homem quase começou a correr quando viu sua arma sobre o colo da mulher, mas a inércia dela apenas encarando as próprias mãos, o fez manter o ritmo. Sherlock se sentiu um pouco mais aliviado quando a viu, com um movimento rápido, guardar o objeto no bolso do casaco.

— Como você me achou? — A mulher olhou rapidamente para ele sem dar tempo para uma resposta. — Que pergunta idiota. Você é o Sherlock Holmes. Claro que você saberia onde me encontrar.

— Você deixou pistas... queria ser encontrada. — O homem sentou ao lado dela.

Nenhum dos dois fazia contato visual com o outro.

— Não deixei — contestou ela.

— A porta do armário estava entreaberta — expôs Sherlock.

— Nem percebi... — explicou ela. — Você sabia desde o começo o que eu estava planejando?

— Sumir das nossas vidas, sim. Se matar, não. Na verdade, não quis acreditar que você seria capaz. — Sherlock mantinha as mãos dentro dos bolsos do sobretudo. — Não depois de ter lutado a noite inteira para sobreviver enquanto era arrastada pela correnteza.

— Não era isso que eu ia fazer. — Audrey olhou para o céu. As lágrimas silenciosas ainda desciam pelo seu rosto. — Só queria desaparecer como se nunca tivesse existido.

— Então para que precisava da arma?

— Deve ter gente atrás de mim e mesmo sem me lembrar, tenho certeza que não quero voltar para o lugar onde estava. — Ela abaixou a cabeça.

— Queria se proteger?

— Da maneira que fosse necessária — concordou ela.

Os dois trocaram um breve olhar e Sherlock tentou deduzir a informação não dita escondida nas palavras. Era óbvio que com apenas uma bala, Audrey não seria capaz de se livrar de um grupo de pessoas.

— Você não iria conseguir desaparecer das nossas vidas da maneira que queria — atestou ele.

— Eu sei, mas ontem acordei com vontade de tentar. — O tom de voz dela alternava entre a irritação e o desespero. — Sei que você e o John iriam acabar me encontrando... seja em qual condição fosse...

— Não era sobre essa parte que eu estava me referindo, apesar de ser verdadeira também.

Audrey inclinou a cabeça levemente para o lado de Sherlock vendo seu perfil apenas pela visão periférica.

— Por mais que nunca a vejamos novamente, você nunca sairá das nossas vidas. Nunca deixará de existir.

— Meus pais tentaram... — retrucou ela.

— E tenho certeza que falharam.

— Eu não queria ter arrastado vocês para essa confusão...

Sherlock não conseguiu segurar o riso. Aquilo finalmente fez com que ela olhasse para o homem à sua direita.

— Você já leu o blog do John? — perguntou ele.

— Quando a Molly me falou a respeito, comecei a ler. Terminei ontem. Mas a maior parte das histórias é invenção dele, não?

— Na verdade ele tende a romantizar tudo e deixar algumas coisas de fora para não chocar a audiência.

— Mesmo assim, não acho que vocês precisem de mais problemas do que já tem... — Audrey passou a olhar para os pés enquanto os escorregava pelo gramado debaixo do banco arrancando alguns tufos.

Memórias AnônimasOnde histórias criam vida. Descubra agora