Capítulo 58 - Verdade Inconveniente

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Quando Molly Hooper chegou para trabalhar na sexta-feira, encontrou um e-mail não lido ao verificar sua caixa de mensagens.

Com tudo o que acontecera naqueles últimos três dias, ela esqueceu completamente que havia combinado de sair com seu ex-colega de faculdade que estaria em Londres no dia seguinte.

Ela começou a responder à mensagem, mas sentiu que aquela não seria uma maneira muito gentil de desmarcar o que havia combinado.

— Oi Derek — disse ela assim que o homem atendeu.

— Molly! — chamou ele sorrindo dou outro lado da linha. — Tudo certo para amanhã?

— Na verdade vou precisar cancelar. — Ela mordeu o lábio inferior chateada por decepcioná-lo. — Me desculpe.

— Ah... Er... sem problemas. — Derek tentou continuar sorrindo, mas estava ansioso para revê-la.

— Aconteceu uma coisa — acrescentou ela. — Uma amiga minha foi baleada e está internada em estado grave. Não conseguiria sair e me divertir com ela do jeito que está.

— Eu sinto muito, Molly. — O tom de voz dele deixou claro que compreendia a situação e estava um pouco aliviado pelo cancelamento ter um motivo. — Espero que sua amiga se recupere — desejou.

— Obrigada.

— A gente se fala outra hora então?

— Claro — ela sorriu antes de se despedir e desligar.

Não foi uma manhã fácil. Realizar a necropsia no cadáver de uma mulher de aparência muito semelhante à de Audrey, deixou Molly incomodada.

Como boa profissional, chefe do departamento, e em respeito à falecida, ela fez o trabalho da melhor forma possível, no entanto um frio percorria sua coluna cada vez que olhava para o rosto dela e via a amiga.

Na hora do almoço, enquanto se dirigia para a cantina, Molly enviou uma mensagem para Sherlock perguntando sobre Audrey e a resposta foi "estável, inalterada e grave".

A mulher sorriu imaginando que, na tentativa de ser o mais correto possível, ele havia copiado as informações do boletim médico dela.

Depois de se servir e escolher uma mesa, ela abriu a galeria de fotos do celular. Queria eliminar as imagens da amiga morta que havia projetado involuntariamente em sua mente.

— Molly — chamou uma voz conhecida segurando uma bandeja ao lado dela.

— John. — Ela sorriu para o amigo que olhou em direção às fotos no celular.

O médico tinha acabado de terminar uma das cirurgias que não conseguiu adiar. Os dois profissionais se encararam e queriam poder confortar um ao outro dizendo para torcer pelo melhor, que tudo ficaria bem, mas o conhecimento que tinham carregava suas desvantagens.

— Posso? — perguntou ele indicando o lugar vazio na cadeira de frente a de Molly do lado oposto da mesa.

— Claro! — Ela sorriu enquanto John se acomodava.

A dupla permaneceu em silencio nos primeiros instantes até que Molly tomou coragem para falar.

— Sua opinião sincera, John — pediu. — Quais são as chances dela?

— Estão só esperando a morte encefálica para desligar os aparelhos — respondeu o médico respirando fundo para conter a vontade de chorar.

A patologista sentiu um aperto no peito com a resposta.

— Falou isso com o Sherlock? — A voz de Molly saiu quase que em um sussurro.

— Eu tentei, — John se engasgou com as palavras. — Mas não tenho coragem.

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