Quando Mycroft Holmes finalmente apareceu algumas horas mais tarde, Sherlock Holmes havia retomado seu lugar na poltrona reclinável perto da cama e John Watson estava de pé ao lado dele.
— Vejo que já estão todos acomodados. — Os dois não se incomodaram em responder. Mycroft olhou primeiro para o irmão, depois para Audrey e por último para John — como ela está?
— Estável — respondeu o médico com as costas apoiadas na janela de frente para a porta por onde o Holmes mais velho entrou sem se afastar muito. — Conseguiram parar o sangramento, e ela está recebendo a segunda transfusão.
— Minha parte está completa então — declarou Mycroft satisfeito consigo mesmo. — Acho que agora você pode cumprir a sua.
— Não sei se vocês dois sabem, mas o silêncio é uma contribuição importante na recuperação dos pacientes — pronunciou Sherlock que até aquele momento havia se mantido calado.
Ele estava com os olhos fechados e os dedos das mãos entrelaçados exceto pelos indicadores que apoiava no queixo.
Mycroft sinalizou com a cabeça e saiu do quarto sendo acompanhando por John. Os dois caminharam até uma sala separada do corredor por portas deslizantes de vidro com saída para uma sacada.
Assim que entraram, e Mycroft as fechou, John ficou impressionado com o silêncio que os envolveu. Além disso, as quatro poltronas confortáveis, a vista para um quintal magnífico e a decoração moderna faria qualquer um esquecer onde estava.
— Terminou de admirar? — perguntou Mycroft com tom de deboche na voz.
— Ainda um pouco chocado com a extravagância.
— Você se impressiona com muita facilidade, doutor Watson. — Ele sentou em uma das poltronas e indicou a oposta. — Agora me diga o que está acontecendo. Esse drama todo é exagero até para os padrões do meu irmão.
— Sabe, Mycroft, — John fitava as papoulas vermelhas no jardim através do vidro que cercava a sacada. — Um tempo atrás eu conheci uma pessoa que se diverte com experimentos inusitados na cozinha de casa, gosta de músicas ao violino, desvendar mistérios e comer batata frita.
— Eu conheço meu irmão, doutor Watson.
— Não estava falando dele. — John olhou sério para Mycroft.
— Não venha me dizer que Sherlock se apaixonou por essa mulher?
— Definitivamente não é esse o interesse que ele tem por ela, e estou certo que ela não sente esse tipo de atração por ele.
— Então... — Mycroft estava genuinamente confuso.
— Aconteceu uma coisa que talvez te ajude a entender. Calculo que faça uns 10 dias desde que a relação entre os dois mudou drasticamente. Você lembra como percebeu que ela se sentia mais à vontade perto de mim...
— Como eu disse, é o seu tipo. — Mycroft deu um sorriso cínico, mas John ignorou a provocação dele ao comparar Mary e Audrey.
— Como eu ia dizendo, mais ou menos 10 dias atrás, pouco depois que encontramos o centro de treinamento e ela matou aquele homem, começaram os pesadelos. Todo dia por volta das 4 da manhã Audrey acordava gritando, com dor de cabeça e o nariz sangrando. Seu irmão resolveu tentar ajudar.
— Provavelmente motivado pelo fato dela ter salvado sua vida... — comentou Mycroft.
— Acredito que sim — concordou John. — E isso a fez achar que havia se tornado um problema e estava atrapalhando a vida dele. Principalmente quando Sherlock começou a tentar acalmá-la tocando violino durante a madrugada.
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Memórias Anônimas
FanfictionA tarde entediante se transforma com a chegada de uma mulher ferida e sem memória implorando pela ajuda de Sherlock Holmes, mas graves acusações trazidas por Mycroft Holmes colocam em dúvida suas verdadeiras intenções. Porém, após vê-la salvar a vid...