Capítulo 47 - A única sobrevivente

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Mycroft Holmes sentou na poltrona olhando diretamente para o irmão mais novo e o amigo ao seu lado. Ele tinha motivos para ter guardado segredo até aquele momento e não se arrependia disso.

— Eu imagino que vocês estejam querendo saber a qual projeto ele estava se referindo.

— Seria ótimo! — disse Sherlock Holmes impaciente.

— Se eu não te coloquei a par antes era porque não tinha certeza do que estava acontecendo. Eu não tinha ideia da existência daquele centro de treinamento, nem que estavam levando pessoas de lá para o projeto. Mas desde que você me contou que a doutora Hooper encontrou uma substância parecida com a TD12 no sangue da protegida que estou de olho neles. Mas, como perceberam, há alguém de confiança se esforçando para que eu não encontre nada.

— Fale logo que projeto é esse... — pediu Sherlock.

— Projeto ultrassecreto Empty Room, uma referência às celas que ficavam vazias assim como a mente de quem aceitava participar. Enquanto se comemorava o sucesso de uma droga conhecida como TD12, utilizada em consultório de dentistas e pequenas cirurgias por interferir na formação da memória recente dos pacientes e reduzir as chances de traumas gerados pelos procedimentos, uma equipe de pesquisadores trabalhava em algo bem mais audacioso.

Mycroft narrava detalhadamente os fatos.

— Nós a chamamos de TD12+, apesar do seu criador, Federico Bryantt, não gostar da referência por achar sua invenção muito melhor. E ele está longe de estar errado. Essa droga é capaz de apagar memórias já formadas e dependendo da dosagem limpar da mente dias, meses e até anos inteiros.

— Realmente sem chance de recuperação? — perguntou John Watson sem olhar para Mycroft.

— Com os procedimentos que são feitos, até hoje não vimos acontecer. Por isso, desde que o Sherlock me contou do resultado do exame de sangue, eu já imaginava que não conseguiria nenhuma informação para investigar vindo dela. Ao mesmo tempo, não sabia como a droga tinha chegado até a protegida já que ela não estava cadastrada no projeto nem sequer era uma candidata elegível. A busca na base de dados de DNA de criminosos e o reconhecimento facial não deram em nada. Então só restava uma alternativa, Federico Bryantt — admitiu ele. — Ela poderia ter sido paciente dele.

Sherlock e John olharam espantados para Mycroft imaginando se o governo estava ciente que uma droga daquelas era usada deliberadamente em uma clínica psiquiátrica particular.

— Claro que nunca autorizamos o uso da TD12+ nos pacientes! — disse o Holmes mais velho com impaciência praticamente lendo os pensamentos dos dois. — Federico tentou nos convencer que teria utilidade, mas houve discordâncias e um conselho decidiu que apagar a memória das pessoas dessa forma era desumano e não terapêutico. E vocês perceberam pela forma como ele contou o que fez que tratar pessoas nunca foi a intenção dele.

— Então a Audrey não é uma criminosa! — Um sorriso iluminou o rosto de John.

— Francamente, casar com uma assassina de aluguel aposentada mexeu com seus parâmetros — retrucou o Holmes mais velho. — Sim, ela matou quatro pessoas, cinco se contarmos com o atirador no centro de treinamento, mas esse, nós somos testemunhas que foi legítima defesa.

— Ela foi forçada a fazer isso! — retrucou ele.

— Seja lá como for, se ela foi paciente do Federico, ainda pode ter sido para tratar um quadro grave de psicopatia ou outro transtorno.

— O projeto, Mycroft! — interferiu Sherlock quando percebeu o amigo se preparando para retrucar em defesa de Audrey encerrando a discussão entre os dois.

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