Capítulo 76 - Feridas abertas

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Os batimentos do coração de Audrey Morgan aceleraram ao ouvir os passos da senhora Hudson se aproximando e ela sorriu quando as duas entraram no quarto.

Rosie Watson estava animada nos braços da madrinha, mas era visível nos olhinhos dela que estivera dormindo até pouco tempo e ficou ainda mais evidente quando a menina bocejou.

— Eu estava dormindo, Audrey — disse a idosa se aproximando da cama. — Aí quando ouvi o papai falando que você estava aqui, — a madrinha falava como se fosse a própria Rosie passando as informações. — Levantei na mesma hora.

Rosie esticou os bracinhos com um sorriso no rosto e praticamente se jogou quando estava perto o suficiente.

A babá fez o possível para acolhê-la e segurá-la apenas com o braço direito, mas a menina acabou subindo sobre seu corpo e apoiando um dos joelhos exatamente no curativo pressionado o ferimento e causando uma dor insuportável em Audrey.

— Rosie, espera — gemeu ela com o rosto contraído pela dor e o medo da que a ferida voltasse a abrir, enquanto tinha os braços da pequena em torno do pescoço.

Sodade — retrucou a menina ansiosa.

— Eu sei pequena, — as lágrimas desciam pelas bochechas dela quando Sherlock Holmes tomou uma atitude e pegou a afilhada a retirando de cima da amiga.

A menina não gostou e o que se ouviu na sequência foram seus gritos de protesto além de seu choro enquanto ela balançava os braços e as pernas tentando inutilmente se livrar do padrinho.

— Rosie, — chamou Audrey respirando profundamente para ignorar a dor. — Pequena, ...

Mas a menina não queria ouvir e continuava chorando e se debatendo.

— Abelhinha — tentou Sherlock também sendo ignorado.

Não vendo alternativa, Audrey chegou para o meio da cama e indicou Sherlock que colocasse a menina ao lado dela.

Pelo menos seu lado direito não tinha nenhum ferimento relevante, apenas o furo na dobra do braço deixado pela agulha do acesso venoso.

— Espera — continuou a babá tanto para Rosie quanto Sherlock, que ainda a segurava pela cintura, quando a menina ameaçou abraçar ela de novo. — A Audie está com um dodói muito grande, pequena. Se você me abraçar daquele jeito de novo, vai doer.

— Dodói? — perguntou Rosie entre um soluço e outro mantendo o dedinho indicador esquerdo na boca.

— Sim, — Audrey levantou a camisa jeans e percebeu que havia uma pequena mancha de sangue na gaze branca do curativo. — Viu só?

Gandão! — A menina, bem mais calma, arregalou os olhos. — Machucô na viagem?

— Foi, — Audrey sorriu abaixando a camisa. — Por isso demorei tanto para voltar. Mas agora o papai e a madrinha Molly podem cuidar de mim aqui. — Ela indicou a Sherlock com um aceno de cabeça para liberar a menina.

Rosie se moveu bem mais devagar dessa vez evitando ao máximo tocar o lado esquerdo de Audrey enquanto a abraçava, beijava seu rosto e passava as mãos pelos cabelos dela.

A babá também fazia carinho na menina percebendo que a saudade que sentira dela era ainda maior do que imaginava.

Foram vários minutos de conversa e afagos até que o sono interrompido de Rosie começou a dar sinais de que estava voltando e ela deitou do lado direito de Audrey recostando a cabeça sobre seu peito.

— Audrey, me perdoa, — pediu Senhora Hudson sentada sobre a almofada em uma cadeira com encosto e assento de palha trançada próxima aos pés da cama enquanto a babá acariciava os cabelos da menina sonolenta. — Se eu soubesse o quanto você está machucada e a forma que a Rosie iria reagir quando te visse...

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