Com os dedos de ambas as mãos pressionando os dois lados de sua cabeça, Audrey Morgan tentava se lembrar de alguma coisa. Seu corpo estava reagindo com o suor frio, o coração acelerado e um princípio de dor de cabeça.
A mulher chegou a checar suas narinas para ver se havia sangue, como das vezes que acordara dos pesadelos, pois a sensação era muito parecida. Tinha algo ali, mas por mais que se esforçasse não conseguia dizer o que era.
— Audrey, você está bem? — perguntou John Watson preocupado depois de um tempo em que a cozinha havia mergulhado no mais completo silêncio.
Nem Rosie se manifestou dessa vez.
— Tem alguma coisa com essa foto... Uma sensação ruim, não sei. — Ela tentou explicar. — Diferente de como foi com as outras.
— Está faltando alguma coisa aqui — declarou Molly Hooper fazendo todos olharem para ela. — Esse espaço vazio não combina com o resto do quarto meticulosamente decorado como uma casa de bonecas.
Sherlock sorriu para ela, mas não explicou o motivo. Ao ver a expressão dele e conferir a de John, Audrey entendeu o que estava acontecendo.
— Você está certa e eles sabem o que estava aqui, mas não vão dizer — anunciou ela. — Pela minha reação essa é a melhor chance que eu tenho de lembrar alguma coisa, se é que eu vou...
— Vocês sabem por que foi retirado? — perguntou Molly.
— Eles confessaram apenas metade da razão, mas eu deduzi a informação omitida — respondeu Sherlock.
— É meio óbvio que pela localização e tamanho era um tapete, mas o que ele poderia ter de especial? — Audrey começou a se sentir decepcionada com a análise das fotos. Imaginou que alguma delas fosse fazer aparecer uma memória em sua cabeça como um passe de mágica.
Esperava mais do que apenas uma sensação ruim e continuou a olhar para a tela por quase uma hora repassando as imagens e ignorando os convites dos amigos para deixar a mente descansar e se juntar a eles na sala.
— Já chega por hoje — disse John a surpreendendo ao se aproximar sem ser notado e fechando a tampa do laptop.
— Sutil — disse ela com ironia sem olhar para o amigo.
— De nada vai adiantar você ficar olhando para as imagens dessa forma — continuou ele.
— Eu queria me lembrar sem precisar de um pesadelo... — Ela cruzou os braços e repousou os dois sobre o laptop onde também apoiou o queixo.
— Você ainda está tomando o remédio para dormir?
— Voltei a tomar depois que tive aquele último...
— Sherlock me contou durante a viagem pra Cardiff.
Audrey fungou sem conseguir conter o choro ao se lembrar do que havia feito no sonho. Como assassinara todos os amigos incluindo a pequena Rosie.
— Você seria incapaz de fazer daquilo com a gente.
Ela sentiu os dedos de John percorrendo seus cabelos.
— Eu preciso me lembrar. — Audrey olhou para ele com as lágrimas formando caminhos pelo seu rosto. — Para ter certeza disso.
— Eu estou te garantindo que você não é capaz disso — afirmou John a colocando de pé e caminhando com a amiga para a sala.
— Vocês contaram para a Molly?
— O que? — perguntou a mulher sentada na poltrona de costas para a cozinha com Rosie no colo enquanto a menina e o padrinho, sentado de frente para as duas, jogavam uma partida de vôlei improvisada com uma bola de pelúcia colorida.
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Memórias Anônimas
Hayran KurguA tarde entediante se transforma com a chegada de uma mulher ferida e sem memória implorando pela ajuda de Sherlock Holmes, mas graves acusações trazidas por Mycroft Holmes colocam em dúvida suas verdadeiras intenções. Porém, após vê-la salvar a vid...